Degradação do Rio Banabuiú é contada em documentário

O filme foi produzido com o objetivo de sensibilizar população e autoridades para a preservação do rio

Escrito por Redação ,

Senador Pompeu. "Banabuiú, em tupi guarani, significa Vale das borboletas. Com nascente na Serra da Pipoca, em Pedra Branca, as águas deste rio banham 12 municípios do Ceará, da nascente à foz, percorrendo aproximadamente 314Km. O rio é repleto de riquezas, terras férteis, campos irrigados, biodiversidade de plantas e animais, mas infelizmente, em pleno século XXI, todo este patrimônio encontra-se ameaçado pela ação covarde do homem".

Assim é a abertura do documentário "Banabuiú In Memoriam", com mais de uma hora de registros sobre um dos mais importantes mananciais do Ceará. O registro audiovisual foi elaborado ao longo dos seis últimos meses por um grupo de ambientalistas de Senador Pompeu, um dos municípios atravessados pelo rio. À frente da expedição estiveram o engenheiro agrônomo Deodato Aquino, o radialista e cantor Walter Lima e o microempresário Reginaldo Araújo. Eles começaram o percurso no distrito de Santa Cruz do Banabuiú, conhecido como "Cruzeta", em Pedra Branca, onde o rio nasce.

Segundo os idealizadores, o documentário foi produzido com o objetivo de expor ao público e às autoridades a situação do manancial, no sentido de educar, sensibilizar e conscientizar a população sobre a agonia do rio Banabuiú. Embora os problemas estejam expostos, poucos demonstram enxergar sua gravidade. Para vários entrevistados a situação é alarmante e necessita urgentemente de providências. A primeira delas, o saneamento dos esgotos das cidades margeadas pelo rio. A cada quilômetro a poluição aumenta.

A primeira exibição do documentário ocorreu numa sessão ordinária da Câmara de Vereadores de Senador Pompeu, no Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, quando houve audiência pública sugerida pela vereadora Lúcia Aquino. Todos ficaram impressionados com a degradação, segundo Walter Lima. O alerta começou a sensibilizar políticos e população. A deputada estadual Rachel Marques manteve contato com os cineastas para levar a apresentação à Assembleia Legislativa, logo após o recesso do meio de ano.

Para Deodato Aquino, a situação é de calamidade pública. Ele cita como exemplo a população de Senador Pompeu. A adutora da cidade, instalada pelo governo do Estado, está coletando água imprópria para o consumo. Ele diz que os índices de contaminação por metais pesados são altíssimos. Em coletas, realizadas no ano de 2004, quando a situação era melhor, dados confirmaram que a presença de metais era 40 mil vezes acima do considerado tolerável pelo Ministério da Saúde. Os depoimentos de muitos moradores confirmam a calamidade e o desinteresse das autoridades e revitalizar o curso d'água.

Um dos ativistas é o presidente do Comitê de Bacias Hidrográficas do Rio Banabuiú, Genesiano Sousa. Na avaliação dele o abastecimento humano é o foco central. Mas, segundo ele, falta vontade política para solucionar o problema.

Ele aponta como solução a intervenção do governo Federal, que poderia liberar recursos para os municípios somente após estes fazerem obras de saneamento. "Os prefeitos não se engajam nessa luta. No Comitê, apenas dois participam. A maioria só quer estar onde tem dinheiro, e como o Comitê não tem, não aparecem", desabafa.

Pesquisadores querem mudanças

Banabuiú. Em entrevista ao documentário, o prefeito de Senador Pompeu, Antônio Mendes de Carvalho, diz existir um trabalho de orientação aos professores, nas escolas, para educar e conscientizar os estudantes. Para ele, é obrigação de cada um cuidar do meio ambiente. "O nosso município tem apenas 40% de esgotamento sanitário. Para amenizar o seu problema particular a população liga os esgotos diretamente na rede pública, onde seria somente para águas pluviais", justifica.

Acompanhado de viola, o repentista Francisco das Chagas versa: "Rio símbolo de riqueza, agora muito maltratado. Nem a margem nem a represa está valendo a pena alguém visitar. Mas a quem polui quero implorar, vamos cuidar bem do Banabuiú. A limpeza ambiental, já diziam os meus avós, quem quer trabalhar em prol, sempre tem vez e tem voz, cuidar do meio ambiente é dever de todos nós".

Os expedidores esperam que a trilha musical, acompanhada dos depoimentos ao longo do curso do rio Banabuiú, despertem nos governantes a necessidade de realizarem o mais rápido possível os projetos de saneamento nas cidades e comunidades ribeirinhas, eliminando também os esgotos clandestinos.

A peregrinação de Deodato Aquino, Reginaldo Araújo e Walter Lima, acompanhados da equipe de produção, teve início em dezembro de 2013, em Pedra Branca, nascente do rio. Os trabalhos foram concluídos em Limoeiro do Norte, onde o Banabuiú deságua, e editados as vésperas do Dia Internacional do Meio Ambiente, 5 de junho.

Os expedidores utilizaram recursos próprios, não contando com incentivo de nenhum órgão oficial. Deodato é servidor público federal. Walter Lima, além de radialista na AM Patu de Senador Pompeu, dedica-se ao seu blog. Reginaldo Araújo é proprietário de gráfica e de uma pequena produtora.

O documentário está disponível no site de compartilhamento de vídeos YouTube, e para acessá-lo deve-se procurar pelo título "Rio Banabuiú In Memoriam" na parte de buscas.

FIQUE POR DENTRO

Rio perpassa 13 municípios cearenses

Conforme dados do Comitê da Sub-Bacia Hidrográfica do Rio Banabuiú, este afluente apresenta-se como principal tributário do rio Jaguaribe, com extensão de 314 km, tendo sua foz localizada próximo a sede municipal de Limoeiro do Norte. São seus afluentes, pela margem esquerda, os rios Patu, Quixeramobim e Sitiá, e pela margem direita destaca-se apenas o riacho Livramento. Tem uma área de drenagem de 19.829,46 km², correspondente a 13,37% do território cearense. Na Bacia do Banabuiú estão inseridos os seguintes municípios: Banabuiú, Boa Viagem, Ibicuitinga, Itatira, Madalena, Mombaça, Monsenhor Tabosa, Morada Nova, Pedra Branca, Piquet Carneiro, Quixadá, Quixeramobim e Senador Pompeu. Esta bacia apresenta uma capacidade de acumulação de águas superficiais de 2.816.118.936 bilhões de m³, num total de 19 açudes públicos.

Alex Pimentel
Colaborador