Costureira do Cariri restaura, cria e veste bonecas

Aos 69 anos, Dalvani Oliveira se dedica integralmente aos brinquedos. Ela não só cria as roupas, como restaura as bonecas com peças doadas

Escrito por Antônio Rodrigues , regiao@verdesmares.com.br
Legenda: O Hospital das Bonecas – Casa da Arte fica no bairro Alto do Rosário, em Barbalha
Foto: FOTO: ANTONIO RODRIGUES

Aos sete anos de idade, Dalvani Oliveira Sousa ganhou a primeira e única boneca, feita de porcelana. Nem podia brincar com medo de quebrá-la. “Era preciosa”, descreve. O que faltou na infância hoje ela tem aos montes. Aos 69 anos, a artesã e costureira cratense é proprietária do “Hospital das Bonecas”, localizado na cidade vizinha de Barbalha. No local, ela cria e restaura os brinquedos. Além disso, especializou-se em costurar roupas feitas sob medida, para fazer a alegria das crianças.

Há uma década, a rotina de Dalvani é intensa. O barulho da máquina de costura não para. Com muita concentração, ela verifica cada detalhe da encomenda que acabou de receber: três vestidos de festa, uma de bailarina e um biquíni. As roupas vestirão uma ‘Barbie’. “As pessoas dizem como querem e eu faço. Alguns trazem modelo ou tiram da internet”, explica.

Isso não diminui a criatividade da costureira, que prefere criar os próprios modelos, usando retalhos de tecidos. O minucioso serviço dura entre duas e três horas. Em sua outra especialidade, a “médica” resgata bonecas inteiras, ou apenas partes do corpo, do lixo para restaurar. “Quando encontro braço, perna, eu guardo. Alguns vizinhos me dão. Aí depois faço o ‘transplante de órgãos’”, brinca.

O serviço de restauração depende do tamanho das bonecas, mas, geralmente, leva um dia inteiro, já que Dalvani faz toda a limpeza, cria uma nova roupa e – caso falte alguma parte do corpo– vai pesquisar no extenso “banco de membros”, como ela mesma chama uma caixa que reúne uma variada quantidade de pernas, braços e cabeças dos brinquedos. O trabalho custa entre R$ 25 e R$ 45. “Dá pra ajudar”, ressalta.

Na medida em que a procura foi crescendo, o ateliê aumentou. Hoje, as bonecas estão espalhadas por São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão e Pernambuco, segundo Dalvani. As peças, que considera “filhas”, recebem um carinho especial. Quando alguma criança vai deixar um brinquedo, a costureira tem todo cuidado para conquistar sua confiança, porque as menores, em sua maioria, se recusam a largar o objeto. “Eu digo assim: ‘não, meu amor, ela tá doente, vai tomar o remedinho e quando tiver alta, eu peço para sua mãe pegar’”, narra. 

Início 

A atividade começou ainda jovem, quando costurava principalmente fardas de colégio, para as crianças de Crato. Dona Alzira, sua mãe, emprestava a máquina que ainda funcionava com pedal. Aos poucos, Dalvani foi se aventurando e criando roupas infantis. Com a habilidade para usar linhas e agulhas, começou a fazer peças ainda menores para vestir as bonecas das filhas de empresários e políticos. “Aí fiquei só nisso”, lembra.

A paixão pelas bonecas fez a costureira aprender a conviver com um problema de saúde: a artrose. “Fiquei paralisada”, enfatiza. Depois que os filhos abriram para ela a ‘Casa da Arte’, tudo mudou. “Eu me reanimei. Eu sinto muitas dores ainda, principalmente nas mãos, nos braços, e nas pernas, mas estou bem melhor”, conclui Dalvani.