Com desemprego crescente, há pouco a comemorar

O cenário é reflexo do agravamento da crise econômica que tem reduzido a oferta de empregos formais

Escrito por André costa / sucursais - Colaborador ,
Legenda: Em Russas, na região Jaguaribana, a oferta de empregos caiu 70% em pouco mais de três meses deste ano em comparação com o ano passado
Foto: Foto: Ellen Freitas

Juazeiro do Norte/Russas/Iguatu/Sobral. Pouco há o que se comemorar nesta segunda-feira que sucede o feriado em homenagem ao trabalhador, isso porque os níveis de desemprego no País atingiram os maiores índices da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já são mais de 11 milhões de brasileiros desocupados. No Ceará, somente nos últimos 12 meses, foram fechadas 44.819 vagas formais, conforme levantamento do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Este cenário é reflexo do agravamento da crise econômica que tem diminuído consideravelmente a oferta de empregos formais em vários setores. A indústria (calçado e têxtil), o comércio e a construção civil lideram as estatísticas negativas.

Nem mesmo a região do Cariri, notoriamente conhecida pela pujança econômica, impulsionada pelo turismo religioso, escapou das demissões. No triângulo Crajubar, composto pelas cidades Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, nos últimos 12 meses foram 1.433 demissões, ainda de acordo com o Caged.

Saldo positivo

Entretanto, apesar dos números gerais serem negativos, o último mês teve saldo positivo para Juazeiro do Norte (178) e Barbalha (103), enquanto Crato declinou, perdendo 169 vagas.

Essa alternância pode ser explicada pelo comportamento dinâmico em algumas áreas de trabalho, como a construção civil e o turismo religioso, cujo fluxo de demissão e admissão é alto para acompanhar as temporadas quentes da região.

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Oferta em baixa

Em Russas, município da região Jaguaribana, a oferta de empregos caiu 70% em pouco mais de três meses deste ano em comparação com o ano passado. As informações foram coletadas junto à unidade do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (Sine/ IDT) do Município e dão conta de que no período de 2 de janeiro a 27 de abril do ano passado foram captadas 717 vagas de emprego, sendo 362 para o aumento de quadro das empresas e 355 reposições.

Já no mesmo período deste ano, foram apenas 211 vagas, sendo 43 para aumento de quatro e 168 reposições.

Para o gerente da unidade, Raimundo Pessoa, além da crise econômica e política, que tem travado o investimento das empresas em diversos setores, a crise hídrica, em especial, tem agravado o quadro de desempregos na região. "Além dos empregos formais, os empregos sazonais também foram perdidos com a falta de água aqui no Chapadão de Russas. A dificuldade de água na região tem agravado a crise no setor", afirma.

Queda

No Centro-Sul do Ceará, as ocupações na indústria da construção civil e no setor de serviços registraram no primeiro trimestre deste ano queda em torno de 5%, segundo estimativa do economista Antônio Pereira.

A paralisação das obras de construção da Ferrovia Transnordestina, no trecho entre as cidades de Cedro - Iguatu e Acopiara, no decorrer deste mês, trouxe reflexo no desemprego em Iguatu.

Diariamente, dezenas de jovens procuram a unidade do Sine/IDT, em Iguatu, em busca de oportunidade de emprego. A atendente de enfermagem, Cláudia Costa, disse que há oito meses procura trabalho. "Já deixei meu currículo, mas ainda não consegui nada", disse. A trabalhadora doméstica Giseuda Oliveira disse que está difícil encontrar emprego. "A maioria das donas de casa só quer para fazer faxina porque alega que não tem condição de pagar o salário", contou. Luís Gomes, comerciário, depois de trabalhar por 20 anos em uma loja de eletrodomésticos ficou desempregado no mês passado. "As vendas caíram e houve demissões", contou. "Agora estou batalhando um novo emprego", concluiu.

Saldo negativo

Com uma extensa rede de microempresas e lojistas e a chegada de faculdades e centros de cursos técnicos, Quixadá, no Sertão Central, é considerada uma das mais desenvolvidas da região. Mas o ano de 2016 tem feito a cidade amargar um saldo negativo no nível de empregos. Segundo dados do Caged, no primeiro trimestre, Quixadá deixou de registrar 145 vagas de emprego. A maioria das demissões foi na construção civil.

Luilma de Fátima Silveira, coordenadora do Sine/IDT de Quixadá, avalia que o volume poderia ser bem maior e acrescenta que a cidade registra um número de demissões bem acima do normal para o período. "Nessa região, nós trabalhamos com a indústria e o comércio, que são os setores da economia que, junto com a construção civil, são os que mais empregam. E neste período, esses setores não estão agindo como o esperado".

Junto com a construção civil, as vagas oferecidas pelos setores da indústria e da agropecuária, apresentam o maior déficit, em comparação com as demais. Ainda conforme Luilma, a procura de desempregados à sede do Sine também tem aumentado. Por outro lado, a oferta tem diminuído, fatores que, juntos, sinalizam a continuidade do nível de ofertas em queda. "Diariamente, cerca de 130 a 150 pessoas estão na unidade, procurando emprego. Mas a oferta tem diminuído significativamente".

Com o comércio em retração, nem mesmo Quixadá tem conseguido escapar da crise. O resultado é que até mesmo as contratações temporárias para o Dia das Mães têm apresentado um resultado bem abaixo do que é esperado. "Não há quase ninguém contratando", disse a coordenadora. Na região, a saída tem sido apostar em montar o próprio negócio e ser autor da própria geração de renda. Muitos mini salões de beleza, pontos de vendas de vitaminas e açaí e trabalhos com revenda porta à porta, tem ganhado mais adeptos.

Ocupação

Em Sobral, na Zona Norte do Estado, também não tem sido fácil se reinserir no mercado de trabalho. A cidade tem registrado significativa queda na taxa de ocupação em todas as áreas, principalmente na indústria, setor de maior formalização de empregos na região, seguido do comércio, serviços e construção civil. No ano passado, a região registrou cerca de dois mil desempregados; contingente que continua em crescimento, segundo levantamento do Sine, com quase três mil pessoas sem espaço no mercado de trabalho.

Segundo o coordenador Regional do Sine/IDT, João Lourenço Portela, "apesar de continuarmos com o trabalho de recolocação de profissionais no mercado de trabalho, observamos não haver abertura de novas frentes, mas apenas uma recondução; se sai um profissional, ele é substituído por outro com experiência, mas não tem havido oferta de novas vagas, nem mesmo nesse período que antecede o Dia das Mães", quando observamos pequenos remanejamentos para dar conta da demanda no comércio".

O motorista Flávio Teles, 41, está há quase quatro anos desempregado e sem nenhuma perspectiva. Além de buscar oportunidades em sua área, diz ter feito diversos cursos para tentar entrar novamente no mercado de trabalho, mas o esforço ainda não tem sido suficiente.

Jackeline de Lima Alves, 30, é outra que não consegue trabalho há um ano. Para piorar a situação da família, seu esposo também foi demitido há dois anos e ainda não conseguiu se reinserir no mercado. Para sustentar os três filhos, o casal busca pequenos trabalhos informais para sobreviver, os chamados bicos. "A gente tem vivido de quebra galho", conta Jackeline.