Cientista cearense participa de descoberta histórica

Escrito por Redação ,
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O crocodilo pré-histórico foi encontrado em PE. Uma réplica do crânio está no Museu Dom José, em Sobral

Sobral. Moradores da região norte do Ceará terão oportunidade de conhecer uma das mais significativas descobertas na área da paleontologia dos últimos tempos: um crocodilo pré-histórico, que viveu na costa do Nordeste há, pelo menos, 65 milhões de anos, e que foi batizado pelos cientistas de “Guerreiro dos Mares”. Da equipe de cientistas que descobriram o animal, faz parte a professora-doutora, Maria Somália Sales Viana, da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Esta é a primeira vez que encontram o registro deste animal no mundo. Embora tenha sido achado em Pernambuco, uma réplica do crânio já está no Museu Dom José, em Sobral.

O nome faz jus à força, resistência e proeza do animal que, com seus seis metros de comprimento (adulto), atravessou o Oceano Atlântico, fugiu da África e, chegou por aqui, provavelmente, fugindo de fenômenos que assolaram a Terra naquela época e extinguiram milhares de espécies.

Além dela, fazem parte da equipe responsável pela descoberta, os cientistas José Antônio Barbosa, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Alexander Kellner, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segundo ela, essa peça é fundamental na composição do colossal quebra-cabeças da história da vida no Planeta.

Importância

“Somente com o avanço das pesquisas tivemos consciência do que ele representava. Essa espécie nova mostra a mudança de rota na migração da família dos dirossaurídeos (grupos que sobreviveram à extinção). Fala da passagem da era mesozóica para cenozóica, tempo de muitas variações climáticas, queda de meteoros, terremotos, vulcões, tsunamis, eventos que levaram à extinção completa de grupos que dominavam a era mesozóica, entre eles, os dinossauros, que eram répteis terrestres, mosassauros, répteis marinhos, e pterosauros, os voadores”, relata a professora Somália Viana.

O fóssil encontrado, cujo nome científico é Guarinisuchus munizi, é constituído de crânio, mandíbula e vértebras, e foi localizado em rochas da formação Maria Farinha, na região da Mina Poty, em Paulista, na costa do Estado de Pernambuco, numa pedreira usada para exploração comercial desde a década de 40. A descoberta, que forma o registro mais completo do grupo encontrado na América do Sul, permitiu que os cientistas elaborassem novas teorias a respeito das rotas de dispersão desses animais que tiveram origem na África, migraram para América do Sul e América do Norte.

“Eu ensinava na UFPE em 2002 quando o Antônio (José Antônio Barbosa) realizava seus trabalhos de campo para a dissertação de mestrado. Naquela época, ele encontrou uns dentes diferentes na pedreira Poty e fomos ver o restante do material que tinha ficado em um bloco no barranco. Como a pedreira é mineração de calcário para produção de cimento, solicitamos imediata interrupção dos trabalhos de desmonte no local”, explica a paleontóloga. Conforme ela, “quando constatamos a importância da descoberta, fizemos contato com o doutor Kellner, no Museu Nacional”, diz.

Replicagem

Depois de seis anos de estudos e preparação, no início desse mês, os pesquisadores dos Estados do Ceará e Pernambuco apresentaram, para imprensa nacional e do mundo inteiro, em cerimônia realizada no Museu Nacional da UFRJ, a replicagem em tamanho natural do “Guerreiro dos Mares”. Os originais do fóssil ficarão guardados na Universidade Federal do Estado de Pernambuco.

Para ela, “a descoberta é de extrema importância porque revela a riqueza dos fósseis contidas nas bacias sedimentares nordestinas”.

RÉPLICA DE CRÂNIO

Exposição será aberta ao público

Sobral. A semana “Terra Brasilis”, que será realizada de 22 a 25 de abril, no Museu Dom José, localizado neste município, marcará a inauguração da exposição da réplica do crânio do “Guerreiro dos Mares” no Ceará. Neste período, escolas públicas e também privadas poderão agendar visitas monitoradas, em horários pré-determinados, ao Acervo Fossilífero do Museu Dom José, além de participarem de oficinas de animação pedagógica e assistirem apresentação teatral.

“Faremos uma semana bem brasileira e inauguraremos a exposição do guarinisuchus munizi. Esse é um programa de divulgação científica do Museu que ajuda na popularização da ciência”, destaca a pesquisadora Maria Somália Sales Viana.

Os estudos em torno do crocodilo pré-histórico que conseguiu sobreviver à extinção e cruzou o Oceano Atlântico da África à América do Sul, mais precisamente até o Nordeste do Brasil, realizados pelos pesquisadores Maria Somália Sales Viana (UVA), José Antônio Barbosa (UFPE) e Alexander Kellner (UFRJ), foram destaque também de uma das mais importantes revistas do universo científico, a Proceedings of the Royal Society B.

Esforço

“Foi uma união de esforços de três instituições estudando a mesma coisa, com o mesmo objetivo. O proceeding da Sociedade Real Britânica é extremamente rigoroso, é difícil submeter trabalhos lá devido ao rigor das correções”, diz a doutora em geociências.

GUARINISUCHUS MUNIZI

1
Guarani vem da língua Tupi e significa Guerreiro; Suchus, crocodilo; e Munizi homenageia um dos mais importantes paleontólogos brasileiros, doutor Geraldo Barros Muniz.
2 A mina Poty, em Paulista (PE), é uma das poucas regiões brasileiras onde existem rochas que documentam a passagem do Cretáceo para o Paleoceno, registrando a extinção ocorrida há 65 milhões de anos.

Natercia Rocha
Repórter

Mais informações:
Esta e outras descobertas são apresentadas mensalmente na coluna Caçadores de Fósseis. Site
www.cienciahoje.org.br/fosseis
Museu Dom José
(88) 3611.3525