Ciclistas adotam bicicletas como principal meio de transporte

A maior queixa de quem utiliza este modal é a falta de investimento em mobilidade urbana que garanta espaços adequados e mais seguros. Entre os benefícios, destacam-se a melhoria do bem-estar e a economia financeira.

Escrito por Honório Barbosa , regiao@diariodonordeste.com.br
Legenda: Os irmãos Damião e Daniel fazem bicicletas Inspiradas nas motos Harley-Davidson
Foto: Foto: Gustavo Veras

Todos os dias, milhares de trabalhadores urbanos utilizam a bicicleta como meio de transporte para o deslocamento no interior cearense. Em Iguatu, na região Centro-Sul do Ceará, o barbeiro Leonardo Oliveira, 53 anos, é um desses ciclistas convictos. Diariamente, ele percorre cerca de 10 km no trajeto de ida e volta entre o bairro Altiplano e o Centro da cidade.

A busca por saúde e a redução de custo com o transporte individual são as justificativas para o uso deste modal. "Iguatu é uma cidade plana, sem ladeiras, boa de pedalar", observou Leonardo. "Tenho observado que outras pessoas também passaram a usar a bicicleta para o deslocamento diário".

Os ciclistas se queixam, entretanto, da falta de ciclovia nas ruas da cidade em que o espaço é disputado entre motoristas e motociclistas, além de pedestres. "Queria que houvesse espaços definidos para quem pedala, ter mais segurança no trânsito", disse. "O poder público precisa dar mais atenção e incentiva o uso de bicicleta".

Harley-Davidson

Em Icó, no Centro-Sul cearense, dois irmãos, Damião e Daniel Marcelo Hipólito, resolveram montar suas próprias bicicletas, fugindo dos equipamentos já prontos nas lojas. O resultado deu certo: estilizadas, as magrelas foram inspiradas nas famosas motos Harley-Davidson e chamam a atenção dos moradores. As bicicletas projetadas apresentam um tamanho fora do comum, chegando a pouco mais de dois metros de comprimento.

O pneu traseiro, mais largo, foi reutilizado de carro, e o dianteiro, é de moto. Tem ainda guidão mais alto e o selim fica próximo à roda traseira, características que aumentam ainda mais a semelhança com moto estilo estradeira.

A ideia de montar a bicicleta diferenciada surgiu há pouco mais de cinco anos, quando os irmãos realizaram pesquisas na internet, buscaram modelos e desenvolveram seus projetos. "Ter uma bicicleta é um sonho que alimentava desde criança", disse Damião Maciel Hipólito.

A bicicleta estilizada foi montada reutilizando peças diversas. O projeto de montagem começou pela roda traseira. "No início não tinha noção de como fazer e até achei que seria impossível, mas fui projetando e contei com o apoio de João Frutuoso, mecânico, que executou o projeto", contou Damião.

O custo estimado foi de R$ 700 para montagem da bicicleta estilizada. Daniel Hipólito disse estar muito feliz com o resultado alcançado.

"O nosso esforço deu certo e o projeto é reconhecido, bem aceito, as crianças pedem para dar uma volta, os moradores ficam admirados", contou. "Fizemos adaptação na catraca e a bicicleta ficou mais leve, boa de passear".

Amarante Carlos, lojista, também fez uma bike diferenciada com inspiração no projeto dos irmãos Hipólitos. "Quando vi as bicicletas que eles fizeram fiquei com aquela inveja boa e disse que iria fazer uma para mim", contou.

"Nove meses depois, o projeto estava pronto e custou cerca de três mil reais". Peças de carros foram reutilizadas na fabricação da bike, na cor amarela, que desperta curiosidade e chama a atenção dos moradores da cidade.

Para o lojista Amarante Carlos, a montagem da bicicleta resultou em um sentimento de alegria. "Foi fantástico, passeio todos os dias e estou bem de saúde", disse. "É um transporte saudável". Ele assegura que o equipamento é bom de pedalar e a dificuldade é apenas na curva, que exige bem mais espaço para manobra.

Jessé de Lima, gráfico, é outro amante da bicicleta, que usa o equipamento como meio de transporte diário na cidade de Icó. "É uma paixão desde criança", lembrou. "A minha é simples, mas não me separo dela, é para todos os momentos".

As bicicletas estilizadas em Icó despertam o desejo de outros ciclistas em elaborar projetos semelhantes. "Quem vê pergunta quem fez, quanto custou e revela vontade em fazer algo semelhante", contou Amarante Carlos.

Daniel e Damião, assim como Jessé e Leonardo são exemplos de pessoas que mantêm o modal vivo no interior cearense.

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