Centenário de Maria Bonita

Escrito por Redação ,
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No Dia Internacional da Mulher, amanhã, Maria Bonita, a companheira de Lampião, faria 100 anos, caso estivesse viva

Crato. Violência, sexualidade, trabalho, política, saúde e etnia. Estes serão os eixos temáticos a serem desenvolvidos amanhã, Dia Internacional da Mulher, pelo Conselho Municipal da Mulher Cratense, dentro da “Primeira Conferência de Formação em Gênero e Feminismo”, que será realizada no Parque de Exposições do Crato. A data também marca o centenário de nascimento de Maria Bonita, a companheira de Virgulino Ferreira da Silva, o famoso Lampião.

No Crato, a população feminina deverá marcar presença na programação que oferece uma passeata contra as demissões e reduções dos salários. Outro assunto a ser levantado pelo Conselho é uma campanha em favor da doação de medula. A plenária final será realizada no bar da “Casa de Artes Olhar”, na Praça da Sé, com uma atividade cultural.

Além destes temas, será prestada homenagem à cangaceira Maria Bonita, na passagem do seu centenário de nascimento. Ela nasceu no dia 8 de março de 1909. “Vamos falar da importância de uma mulher que rompeu todas as barreiras de preconceitos e entrou para a história do País”, justifica a professora Verônica Neuma Carvalho, coordenadora do movimento feminino.

Maria Bonita foi responsável por introduzir vários costumes no meio dos homens do Cangaço, já que a presença de mulheres no movimento era proibida até a entrada dela no grupo, segundo o escritor Magérbio Lucena, autor do livro “Lampião e o Estado Maior do Cangaço”. “Ela foi um dos maiores expoentes da cultura nordestina”, atesta o pesquisador.

A cangaceira está sendo também homenageada pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb), no I Seminário Internacional sobre o Centenário de Maria Bonita: a rainha do cangaço, promovido pela instituição, em parceria com a Prefeitura de Paulo Afonso e a Secretaria Municipal de Turismo.

O evento termina amanhã no auditório do Departamento de Educação (DEDC), do Campus VIII da Uneb, e vai contar a história de vida de quem popularmente foi conhecida como Maria Bonita, a companheira de Lampião. Uma das atrações é a presença dos ex-cangaceiros Teófilo Pires e Aristeia Soares, além de Neli Conceição e João Souto, filhos dos cangaceiros Moreno e Durvinha.

“O seminário integra a comemoração do centenário de Maria Bonita e, para tanto, queremos estudar o papel da mulher no Cangaço, a partir do que foi a sua vida de liderança e companheirismo, ao lado do cangaceiro Lampião”, destaca Juracy Marques, coordenador da iniciativa.

Para Juracy, não por acaso, Maria Bonita nasceu no Dia Internacional da Mulher, festejado em 8 de março. “Vamos encerrar o evento comemorando o dia em que o povo sertanejo, em especial, comemora os 100 anos dela”, complementa.

Maria Gomes de Oliveira, a Maria Bonita, foi a primeira mulher a aparecer no cenário do Cangaço, revolucionando a sua época (século XX) e introduzindo vários costumes no meio de homens guerreiros que até então não permitiam mulheres entre os seus pares. Nascida em 8 de março de 1911, em uma fazenda na Malhada da Caiçara, na Bahia, casou-se aos 15 anos com um sapateiro, com quem vivia brigando. Durante uma das separações de seu marido, Maria Bonita conheceu Lampião e apaixonou-se. O rei do Cangaço, nesta época, tinha quase 33 anos e Maria, pouco mais de 20.

Musa e rainha
Maria Bonita entrou para o bando ao final de 1930 e tornou-se musa e rainha do Cangaço, ocupando-se, entre outras coisas, de costurar a indumentária dos cangaceiros. Depois dela, os outros do grupo também trouxeram suas companheiras para fazerem parte do bando.

Em alguns momentos, a intervenção de Maria Bonita impediu vários atos de crueldade de Lampião. Os historiadores afirmam que a presença das mulheres no Cangaço humanizou uma das mais violentas fases da história nordestina, com prática, inclusive, de estupros. Maria Bonita era a musa e a rainha do Cangaço e serviu de referência para um grupo de mulheres que passaram a fazer parte do bando, modificando a forma de atuação junto aos grupos considerados inimigos. Dizem que elas participavam de todas as atividades, inclusive dos combates.

Antônio Vicelmo
Repórter

FIQUE POR DENTRO

Casal teve uma filha após oito anos de convivência
Virgulino Ferreira, o Lampião, arregimentou 47 homens e mulheres de várias ramificações familiares para o movimento. Maria Bonita conviveu durante oito anos com Lampião e teve uma filha, Expedita. Como seguidora do bando, Maria foi ferida apenas uma vez, em 28 de julho de 1938, na Fazenda Angicos, Estado de Sergipe, durante um ataque feito pela Polícia ao bando. Ali, morreu o casal. Eles foram brutalmente assassinados, transformando suas vidas em um marco da história nordestina. Além dela, outras mulheres também se destacaram no Cangaço: Dadá, esposa de Corisco; Lídia, mulher de Zé Baiano; e outra Maria, mulher de Pancada.

Mais informações:
Dia Internacional
da Mulher no Cariri/
Conselho Municipal da Mulher
Parque de Exposições do Crato, (88) 8819.8277/ (88) 3102.1202

SERTÃO CENTRAL

Passeata, palestra e entrega de comendas marcam data

Municípios do Sertão Central realizam programação para marcar o Dia Internacional da Mulher na região

Quixadá. “A nossa luta é todo dia! Somos mulheres e não mercadoria!”. O grito de ordem ecoou pelas ruas de Quixadá na manhã de ontem. Eram trabalhadoras rurais da região, marchando em protesto por melhorias na assistência à saúde e menos violência. Fortaleciam o movimento realizado no dia anterior, quando outras centenas de mulheres partiram do Fórum Desembargador Avelar Rocha para o Centro da Cidade, reivindicando a criação de uma delegacia e de uma vara de Justiça especializada.

Faziam questão de salientar que não eram mobilizações paralelas, mas a continuidade de ações promovidas pela cidade na “Semana da Mulher”. Lutam pelas mesmas conquistas. Tratamento digno e igualitário, sem violência e sem medo. Quer seja na segurança ou na saúde, as carências ainda são muitas. Somente com a união, mobilização de lideranças políticas e milhares de assinaturas, essas conquistas chegarão, segundo a diretora do Conselho da Mulher de Quixadá, Sheila Gonçalves, sobre a espera de mais de 15 anos pela Delegacia da Mulher no município.

Além de prefeitos e deputados do Sertão Central, representantes do Poder Judiciário e da Polícia Civil apoiam a mobilização e as reivindicações. Acreditam na sensibilização do governador Cid Gomes em relação à causa. O juiz de Direito, Flávio Marques, e o promotor de Justiça, Nelson Gesteira, informaram que mais um juiz está chegando para atender à região. Não descartaram a possibilidade da criação imediata da vara especial da mulher. Cabe apenas ao Governo do Estado a decisão pela implantação.

Fechando a semana dedicada a elas, na programação da Câmara Municipal de Quixadá estava prevista a entrega da medalha “Personalidade Política” a homenageadas. Na solenidade, mais cinco mulheres serão agraciadas com a comenda Luiza Henrique de Oliveira. A juíza de Direito, Ijosiana Cavalcante Serpa; a promotora de Justiça, Ana Karine Serra Leopércio; e a secretária municipal de Educação, Lígia Maria Saraiva Leão, receberão o título de cidadã do município.

Em Quixeramobim, o movimento iniciado ontem prossegue até a próxima quarta-feira, dia 11, com um fórum de debates no BNB Clube.

Alex Pimentel
Colaborador

ENQUETE

O que fazer para assegurar os direitos da população feminina?


Maria Hermenegilda Silva
Líder do mov. de mulheres
"Trabalhamos a formação de conselhos municipais no nosso Estado. É uma das principais formas de nos fortalecermos".

Sueli Paz Pinheiro
Liderança em Quixadá
"Hoje não é dia de festa. É dia de luta, por mais amparo para nossas mulheres. Essas conquistas surgem nas ruas".

Flávio Luiz Peixoto Marques
Juiz de Direito
"É prioritária a formação de varas especiais para as mulheres. Esses direitos estão previstos nas leis. Temos que cumpri-las".