Cemitérios estão sem espaço para sepultamentos

Escrito por Redação ,
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Além da dor da perda, familiares de cidades do interior têm que lidar com a falta de espaço para enterrar seus mortos

Brejo Santo. Cidades que não têm onde enterrar seus mortos. Assim tem sido a situação de Municípios com cemitérios centenários. As populações se multiplicam, mas estes continuam com os mesmos espaços. Brejo Santo vive o drama de uma cidade onde há um terreno anexo doado nos fundos do cemitério, mas por questões burocráticas, passou a ser motivo de grande preocupação para a população. Muitas pessoas simplesmente ficam à mercê da boa vontade de familiares e amigos para poder sepultar os seus entes queridos em sepulturas emprestadas. Alguns chegaram a comprar há sete anos gavetas no novo espaço, mas ficaram impedidos de utilizar. Drama parecido se repete em outras cidades da região.

Em Brejo Santo, o problema se torna bem mais complexo. Moradores da cidade vivenciam algumas dificuldades, principalmente para os que têm famílias numerosas, como é o caso do farmacêutico Haryson Macedo. Para ele, essa é uma situação muito constrangedora. "Num momento tão difícil da vida da gente, se perde um ente querido e não tem sequer onde enterrar". Sua família adquiriu um espaço em 2004 e, em 2006, chegou a falecer uma tia. Conforme o farmacêutico, como é de costume na cidade, teve que pedir a outra família que já tinha um túmulo para ceder uma sepultura e enterrar a tia. Isso até o dia que receber a nova cova. Ele alega a dificuldade que terá com a justiça para retirar os restos mortais e colocar na nova gaveta.

Há covas nos cemitérios com até seis cruzes. São esses corpos que ficam pelo caminho. O agricultor Antônio Joaquim do Nascimento foi um dos primeiros a adquirir as gavetas que estavam à venda, há sete anos. Com a morte de sua mãe, chegou ao cemitério sem ter onde colocar o corpo. Terminou sepultando na cova de outra pessoa. Ele chegou a comprar o túmulo por R$ 1 mil. Alega as inúmeras promessas de que o problema seria resolvido.

Novo terreno

No novo terreno serão destinados 900 jazigos e mais 60 locais para indigentes. Foram construídas 26 gavetas de concreto, que estão praticamente destruídas. O terreno foi doado há vários anos por Marquesa Nicodemos, já falecida. Indicações e requerimentos foram encaminhados pela Câmara Municipal ao Executivo, segundo o vereador Francisco Gomes Basílio Neto, para se resolver o problema.

O administrador do cemitério São João Batista, conhecido por Walmir Alves, em nove anos de trabalho no local, disse que a situação é muito preocupante, pela ausência dos espaços. "É a maior novela. Tem muita reclamação por falta de cova". Desde o ano passado que a situação piorou. E nesse sacrifício todo ainda se paga a taxa de sepultamento para túmulos, de R$ 69,00 e de R$ 55,00 com cova.

O terreno, que hoje é chamado de novo cemitério, foi murado há vários anos enquanto se vive essas dificuldades. A promessa é que as obras sejam iniciadas no próximo mês de agosto. O prefeito da cidade, Guilherme Landim, afirma que essa situação está sendo solucionada e em breve os moradores receberão os seus espaços.

Ele disse que, por desconhecer, ao assumir a Prefeitura, a forma como vinham sendo negociados os espaços, decidiu interromper a venda, já que estavam sendo vendidos túmulos ainda por serem feitos. Além disso, não havia nenhum projeto definido sobre a construção. Então teve de refazer o planejamento, para a nova obra. A primeira providência, diz ele, será chamar as primeiras 26 pessoas que já adquiriram os seus espaços. "Com isso o cemitério estará preparado para mais 50 anos". Os túmulos serão construídos de forma horizontal, para possibilitar mais espaços. O coveiro José Aparecido da Silva trabalha no cemitério de Brejo Santo há mais de 24 anos, diz: "chega uma pessoa aqui e não tenho onde sepultar e então temos que invadir o espaço dos outros. Semana passada, tinha uma pessoa chorando porque não tinha onde enterrar um familiar".

Cariri

Em Barbalha, há vários anos se conviveu com situação semelhante. Com muito trabalho, os coveiros e administradores dos cemitérios buscam alternativas para sepultar, principalmente, os corpos das pessoas de baixo poder aquisitivo dessas cidades, em espaços considerados até irregulares. São áreas muitas vezes de passagem das pessoas. Isso impossibilita caminhar dentro dos cemitérios, que não seja sobre as covas ou túmulos.

Segundo o administrador do cemitério de Barbalha, Joaquim Teixeira Magalhães, que há mais de 15 anos está no local, as pessoas se admiram como ele consegue deixar espaço para as pessoas poderem caminhar no cemitério. Na entrada isso até pode acontecer, mas ao caminhar adiante se percebe o emaranhado de cruzes e antigos túmulos. "Chegamos ao ponto de não ter mais condições de abrir covas no meio das ruas, para os indigentes". Afirma que praticamente vem operando milagres.

Mas um novo espaço poderá suprir essa carência por alguns anos. Uma área de 30 metros de frente por 300 metros de fundo foi murada e, no local, há cerca de 15 dias começou a receber corpos. Várias gavetas foram construídas pela Prefeitura, para minimizar o problema.

Elizângela Santos
Repórter


PROBLEMA ANTIGO
Drama se repete em várias regiões

Quixadá.
A situação dos cemitérios públicos da maioria das cidades da região Centro do Estado é praticamente a mesma. Resta pouco espaço. Em alguns, como Quixadá, Quixeramobim e Pedra Branca não há condição de abrir mais covas. A situação é praticamente a mesma, levantada pela reportagem faz dois anos. As prefeituras alegam empenho na solução do problema, mas resolvê-lo em um dos momentos de maior dor para as famílias, só com a caridade de quem já possui lugarzinho nesses locais. Os administradores e coveiros facilitam os enterros.

Em Quixadá, apesar da lotação no Cemitério Nossa Senhora do Carmo, a Prefeitura disponibiliza túmulos para a população carente no Parque Nova Jerusalém, o único particular na região. Mesmo assim, o Departamento Municipal de Administração de Bens e Serviços Públicos (Demasp) trabalha para adquirir uma área vizinha e ofertar mais vagas, explica seu presidente, Helano Bezerra. Embora melhor estruturado, o novo local fica um pouco distante do Centro da cidade. Quem não tem transporte é obrigado a alugar carro ou pagar mototáxi.

Em Quixeramobim, a situação é um pouco mais complicada. A Prefeitura aguarda a desapropriação de uma área situada ao lado do Cemitério Nossa Senhora do Carmo. No terreno funcionou o Tiro de Guerra da cidade. Segundo a assessoria do secretário de Infraestrutura, Aloísio Cosmo, algumas famílias moram naquele local. Estão aguardando indenização. Os imóveis, utilizados como residência, são do Departamento de Obras contra as Secas (Dnocs). A ação está na Justiça.

A melhor situação na região é a de Pedra Branca. A população conta com novo cemitério há mais de ano. Segundo o secretário de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, Juarez Frutuoso, o existente na cidade, São Sebastião ou Parque Largo, não atendia mais a necessidade dos moradores. Os parques santos da cidade são administrados pela Paróquia de São João Batista.

Em Iguatu, nos dois cemitérios existentes na cidade, as famílias enfrentam dificuldades para sepultar os seus entes queridos. No mais antigo, Senhora Sant´Ana, administrado pela Diocese de Iguatu, o maior obstáculo é a superlotação. Há covas rasas entre túmulos e próximo ao muro. Em decorrência da falta de espaço para novas sepulturas, duas famílias cederam parte de jazigo para aqueles que não têm cova possam enterrar os seus parentes.

O coveiro José Gonçalves, que há mais de 20 anos trabalha neste cemitério, contou que a superlotação é um problema que se arrasta há mais de uma década. No cemitério Parque da Saudade o problema é a água existente no subsolo. No período invernoso, a água invade as covas e é preciso fazer bombeamento para retirada do excesso e permitir a colocação do caixão. Falta serviço de drenagem.

Na sede de Sobral, na Zona Norte, dois cemitérios públicos atendem a população: São Francisco, no Bairro Vila União e São José, no Centro. Nos dois locais os jazigos são propriedade de permissionários e o prédio é da Prefeitura. Com quase 200 anos, os dois cemitérios já estão na sua capacidade máxima, não existindo a possibilidade de construção de novas sepulturas, segundo José Prado Parente, coordenador de serviços e equipamentos da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente.

Alex Pimentel/ Honório Barbosa/Lyana Ribeiro
Colaborador/Repórteres