Ceará amplia produção de algodão de sequeiro

Produtores de porte médio nas regiões Cariri e Centro-Sul estão animados com a retomada da cotonicultura. Para este ano, a expectativa é de ultrapassar 1400 hectares plantados

Escrito por Honório Barbosa , regiao@svm.com.br
Legenda: Plantação de algodão na zona rural de Iguatu
Foto: Wanderbeg Belém

Experimentos realizados nos últimos três anos, no Cariri, vêm apresentando resultados satisfatórios na retomada da produção de algodão de sequeiro. Em 2018, foram cultivados 30 hectares. Este ano, a área deve chegar a 1400 hectares.

Brejo Santo, Milagres, Mauriti, Porteiras, Penaforte, Missão Velha, Crato, Potengi, Altaneira e Barbalha, no Cariri; Várzea Alegre, Iguatu e Acopiara, no Centro-Sul, estão no rol de municípios com produtores decididos a cultivar algodão de semente transgênica de alta qualidade.

Nova tentativa

Iguatu aderiu ao projeto em 2019, mas os produtores fizeram o cultivo de caroço, e não de semente selecionada. O resultado não foi o esperado. Após visita a unidades produtivas no Cariri, foi decidido fazer uma nova tentativa. Foram selecionadas três áreas que totalizam 17 hectares. "Tenho certeza que dará certo e em noventa dias teremos a colheita da safra", prevê o secretário de Desenvolvimento Agrário, Edmilson Rodrigues.

Miguel Ribeiro é o técnico agrícola que vai acompanhar as unidades produtoras em Iguatu. "Só precisamos de 300 milímetros de chuva com boa distribuição para obtermos colheita em torno de três mil quilos por hectare", explicou. "O algodão exige menos água que o milho e o feijão, e o mercado é bem mais favorável", complementou.

O preço da arroba (15 KG) da pluma tem cotação de R$ 82,50, no mercado local. Já a compra em rama (galhos, folha, caroço e pluma) sai por R$ 30,00. Nesta modalidade, as empresas adquirem o produto no roçado.

Nova fase

Desde o fim da cotonicultura de sequeiro, a partir da segunda metade da década de 1980, a Embrapa e a Ematerce tentaram, por meio de unidades experimentais, incentivar a volta do cultivo do algodão, mas a maioria dos produtores não aderiu ao projeto.

A partir de 2017, uma parceria entre a Embrapa Algodão em Campina Grande, a Universidade Federal do Cariri (UFCA) e secretarias municipais de Agricultura, resultou na implantação do projeto Ouro Branco - voltado para a produção de algodão de sequeiro. Naquele ano, foram cultivados 30 hectares no Cariri. Em 2019, a área expandiu para 700 hectares. "Para este ano, a expectativa é de 1400 hectares", disse o técnico da Secretaria de Desenvolvimento Agrário de Brejo Santo, Edgar de Souza. "A produtividade varia entre 2500 quilos a 3500 quilos por hectare".

A engenheira agrônoma do escritório da Ematerce do Crato, Francieli Silva, frisou que atualmente o projeto trabalha com médios produtores e exige uso de mecanização para plantio e colheita, além de outras tecnologias. "O projeto ganhou mais força e a tendência é de expansão mediante os bons resultados", prevê. "Os agricultores de base familiar têm dificuldades de adesão por causa do elevado custo da semente e de outros insumos e serão assistidos por outros projetos de iniciativa da UFCA", explicou. O preço da semente selecionada varia entre R$ 65,00 e R$ 120,00 o quilo. Para um hectare são necessários 12 quilos de semente.

Manejo

No plantio de sequeiro, há exigências com relação ao uso de semente certificada, espaçamento, aplicação de herbicidas e inseticidas no tempo certo, plantio e colheita mecanizados e vazio sanitário (corte e queima dos restos culturais).

Fiscais da Adagri vão acompanhar as áreas cultivadas e exigir dos agricultores o cumprimento das medidas. "No passado, um produtor limpava a área, mas o vizinho deixava os pés de algodão, e o bicudo se multiplicava e atacava a lavoura no ano seguinte. Por isso que projetos anteriores não deram certo", explicou o ex-secretário de Agricultura de Iguatu, Valdeci Ferreira.

Adesão

O agricultor Raimundo Procópio, de Iguatu, depois de produzir fruteiras, decidiu cultivar algodão. "É uma herança que recebi do meu avô e tenho certeza que vai dar certo", disse. "Plantei quinze hectares e só peço a Deus que mande chuva". O produtor investiu R$ 10 mil somente na compra da semente.

Em Milagres, o agricultor Francisco Alencar, vem plantando algodão desde 2018 e continua neste ano. "Espero chuvas mais regulares e uma melhor produção", disse. "Até agora é uma experiência que vem dando certo".