Bonequeiras do Crato são tema de inspiração para livro

Escrito por Redação ,
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O Psicodrama vivenciado por mulheres bonequeiras do Crato serve de inspiração para livro lançado em SP

Crato Bonequeiras deste Município, um grupo de mulheres, que transformou a sombra de uma mangueira em um "atelier terapêutico" para fabricação de bonecas de panos, foram inspiração para um livro lançado na última semana, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp-SP), durante uma exposição do artista multimídia Avelino Bezerra, que faz uma retrospectiva de seus 30 anos na Universidade.

O livro "Tramas e Dramas do Boneco de Pano no Tatadrama", de Elisete Leite Garcia e Maria Ivette Carboni Malucelli (Ed. Livre Expressão, 196 páginas), está ancorado em um dos pensamentos de Platão: "Você pode descobrir mais sobre uma pessoa em uma hora de brincadeira do que em um ano de conversa". O primeiro capítulo do livro é dedicado ao Cariri que, segundo Elisete, foi a fonte de inspiração do seu trabalho.

Ela é psicodramatista natural do Crato e, a exemplo de outros "retirantes nordestinos", foi obrigada a viajar com a família para São Paulo. Já adulta, se lembrou das bonecas que envolveram seus sonhos de criança.No retrovisor do tempo, recordou a velha mangueira, parte importante de suas utopias. Não foi sem razão que, ao voltar para casa, se abraçou com a árvore para matar a saudade.

Resolveu, então, agregar um grupo de mulheres em torno da arte de fabricar bonecas. O trabalho lúdico, além de contribuir para restaurar a cidadania das participantes que viviam dispersas na dependência econômica do marido, projetou seus nomes por este Brasil afora, com reportagens em rádio, jornal e televisão. As bonecas do Crato ganharam o mundo nas mãos de Elisete que participou de exposições internacionais.

Hoje, o trabalho, aparentemente ingênuo, se transforma em livro. Elisete explica que a boneca estimula o indivíduo a entrar em contato com suas emoções. Possibilita para que cada um descubra ou redescubra quais são seus reais valores, desvinculados de modismos ou padrões estéticos e sociais atuais. Reativa a espontaneidade e a energia criativa do ponto de vista emocional, relacional e do desempenho de papéis sob os aspectos pessoais, profissionais, sociais, educacionais, culturais e de saúde, entre outros.

Para isso, utiliza-se, na sua essência, de um conjunto de dinâmicas sensoriais e corporais associados às técnicas de Psicodrama e Sociodrama para estimular o potencial dos indivíduos. Usa como fio condutor bonecos de pano artesanais confeccionados pelas artesãs bonequeiras cratenses.

Para Gertrudes Leite, coordenadora do grupo de mulheres, a publicação do livro é o coroamento de um trabalho que começou despretensiosamente, com o objetivo de oferecer uma fonte de renda e uma ocupação para as participantes, antes dedicadas apenas aos trabalhos domésticos. Sob a mangueira, elas conversam, trocam ideias e se libertam dos preconceitos.

Oficinas

"Mais importante ainda é ver o trabalho projetado, divulgado e reconhecido, e agora transformado em livro", afirma Gertrudes, acrescentando que recebeu um convite do Núcleo da Globo de São Paulo realizar oficinas na Capital paulista.

Quem também comemora a edição é a artesã Antônia Pereira Duarte Lopes. "Saímos do anonimato, conquistamos a mídia e agora somos livros", diz dona Antônia, lembrando que nunca pensou em tamanha projeção. O mesmo entusiasmo é manifestado por Maria do Socorro Silva que, segundo afirma, só encontrou sentido de vida quando se juntou ao grupo das bonequeiras e passou a participar dos eventos realizados na região como artesã.

Antônio Vicelmo
Repórter


TEORIA PSICODRAMÁTICA
Espontaneidade e criatividade: palavras de ordem em Moreno


Fortaleza Espontaneidade e criatividade são palavras de ordem no trabalho do médico psiquiatra Jacob Levy Moreno, criador do Psicodrama, da Sociometria e da Terapia do Grupo. No século passado, ele observou que, quando criança, os dois componentes mostram-se desenvolvidos. Na medida em que o ser humano vai crescendo, adquire modelos de conservas culturais vindos da família, da escola, da religião, do trabalho, da sociedade, que podem comprometer a sua espontaneidade e criatividade. Sem elas, a pessoa transforma-se em um ser "robotizado" e "adoecido".

Os males são os mais diversos. Desde doenças mentais como depressão, ansiedade, psicoses e outras, até doenças somatizadas que atingem o corpo. A mais temível delas é o câncer.

A proposta de Moreno é resgatar o ser espontâneo e criativo que está dentro de cada um. Ele desenvolveu uma série de técnicas que facilitam a reconstrução desse ser. Porém, o grande diferencial de seu trabalho é a cura pelo grupo.

Moreno entendeu que a doença ou o problema pessoal, antes de serem individuais, são coletivos. Daí suas técnicas serem todas desenvolvidas em grupo. Quando um drama é trazido por uma pessoa para ser trabalhado no espaço do Psicodrama, na medida em que a história se desenrola, percebe-se que o conflito é comum a várias pessoas do grupo, senão a todo ele.

Porém, o conceito de espontaneidade moreniano não é fazer qualquer coisa, de qualquer jeito, a qualquer tempo. Não é ser inconveniente. "Dar novas respostas a situações antigas ou respostas adequadas a novas situações" é a compreensão do pai do Psicodrama para o ser espontâneo.

E é interessante saber que, para isto, a pessoa pode ser "treinada". Assim mesmo: treinar para ser espontâneo e criativo. Daí entre as técnicas está o "role playing", o desempenho de papéis no palco do Psicodrama ou no Teatro Espontâneo. Este último é outra metodologia moreniana criada para "desrobotizar" as pessoas.

Em Fortaleza, a Escola de Psicodrama Matriz Criativa é referência na formação de profissionais na área. Oferece um curso de especialização, com módulos semestrais durante dois anos, numa parceria com a Universidade Vale do Acaraú (UVA). As aulas acontecem em todo o terceiro fim de semana de cada mês.

Nos terceiros domingos de cada mês, acontece de 10 às 13 horas a vivência em Teatro Espontâneo. O trabalho destina-se aos alunos da formação, mas também é aberto ao público em geral. As etapas da vivência segue o modelo criado por Moreno. Inicia-se com técnicas de aquecimento em grupo. Depois vem a dramatização e termina com o compartilhar.

Os psicodramatistas Ana Alice Dias e Roberto Mandetta, ela psicóloga, ele psiquiatra, também trabalham com Teatro Espotâneo. "Fazemos duas modalidades de trabalho: grupos de terapia processual e eventos pontuais", diz Ana Alice. Nos grupos de terapia, são realizados encontros semanais de duas horas, sempre com os mesmos participantes, em grupo fechado. Utilizando como método o Teatro Espontâneo, os participantes expressam seus conteúdos pessoais através de personagens e situações por eles criadas de improviso. Nos eventos pontuais, é utilizado o mesmo método para atingir um grupo maior de pessoas: em comunidades, escolas, empresas, espaços públicos (teatros, praças). Trabalhamos com um grupo de atores espontâneos que, a serviço dos participantes, auxiliam a expressão dos mesmos nas cenas criadas de improviso", diz ela.

Valéria Feitosa
Editora do Regional

MAIS INFORMAÇÕES

Mulheres bonequeiras do Município do Crato (CE)

Avenida Perimetral, 235

(88) 9970.5137

Mais informações

Escola de Psicodrama Matriz Criativa, (85) 3261.0220 - Fortaleza.

Ana Alice Dias e Roberto Mandetta, (85) 3264.3114/ 9925.0212

Fique por dentro
Teatro terapêutico

A psicodramatista Elisete Leite Garcia, uma das autoras do livro, criou o Tatadrama há oito anos, baseada no Psicodrama, uma forma de terapia idealizada pelo médico psiquiatra Jacob Levy Moreno. A técnica já foi vivenciada por mais de duas mil pessoas de várias faixas etárias e níveis sócio-culturais e esportivos. É dividido em três etapas: aquecimento, dramatização com os bonecos e compartilhamento do processo.