Bancos fechados após ataques geram impacto negativo à população

Entre 2017 e março deste ano, 50 municípios cearenses foram alvos de algum tipo de ação criminosa. Diversos serviços bancários passaram a não ser mais ofertados. O comércio foi afetado, e os moradores acumulam prejuízos

Escrito por André Costa , andre.costa@diariodonordeste.com.br
Legenda: Sem banco, moradores de Santana do Acaraú recorrem a caixas em comércios para sacar dinheiro. Na foto, a fila para entrar em uma sorveteria
Foto: FOTO: MATEUS FERREIRA

A rotina de pagamento de contas que outrora era aprazível e, na maioria das vezes, rápida, se modificou depois que a agência bancária do Banco do Brasil, em Santana do Acaraú, foi atacada em setembro do ano passado. O aposentado Manoel Edvando Ponte mora ao lado do banco que fora alvo da ação criminosa. Ele relembra que, anteriormente, quando tinha que sacar dinheiro ou efetuar qualquer pagamento, a tarefa era desempenhada em poucos minutos. "O banco é ao lado da minha casa. Não pegava filas e fazia tudo bem rápido, era muito bom", diz.

Este cenário, no entanto, não existe mais. E não só para ele. Moradores de 50 municípios do interior do Ceará que tiveram agências explodidas por ações criminosas, sofrem com a precariedade dos atendimentos bancários. Depois dos atentados, os serviços ofertados foram reduzidos, e os prédios onde as unidades funcionam não são adequados. Em muitos casos, falta dinheiro. Somados, todos esses problemas trazem impactos sérios na economia dessas regiões. Quem precisa sacar dinheiro, por exemplo, acaba tendo que se deslocar para cidades vizinhas. "Tenho que ir até Massapê ou Sobral. Não é perto, tem que pagar passagem cara", lamenta o lavrador José Walter Gomes.

Além dos custos com deslocamento, os usuários se queixam do iminente perigo que correm por ter que percorrer grandes trechos em rodovias portando dinheiro em espécie. "Gastamos dinheiro para ir até a outra cidade e ainda corremos o risco de assaltos. Está difícil", desabafa a dona de casa Maria das Graças Lopes. É justamente esse dinheiro extra gasto com deslocamento que gera impacto na economia. O comércio já sente os efeitos. "As compras diminuíram bastante", pontua o empresário Mário Gurgel, dono de um mercantil no Centro da cidade.

Prejuízos

A mesma situação se repete em outras regiões do Estado. No Cariri, na cidade de Nova Olinda, a agência do Banco do Brasil foi explodida por assaltantes em julho de 2017. Em dezembro daquele mesmo ano, os atendimentos foram retomados de forma descentralizada em diversos pontos da cidade. A agência dos Correios e três farmácias do Municípios atuam como correspondentes, no entanto, assim como ocorre em Santana do Acaraú, os serviços não são ofertados em sua totalidade. Está disponível apenas depósitos e saques - quando há dinheiro.

"As nossas inadimplências aumentaram, o dinheiro desapareceu da cidade e não tem nenhuma solução, nenhuma perspectiva de melhora. Quem alavanca o comércio do município é o dinheiro circulando", observa o comerciante Evandro Rufino.

Tendência

Segundo levantamento do Sindicato dos Bancários do Ceará, depois dos atentados criminosos, as instituições financeiras estão preferindo atuar com representantes e, como medida cautelar, diminuíram a circulação de dinheiro nas 50 cidades que foram alvo de ataques. O presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará, Carlos Eduardo Bezerra, reconhece que nos locais que não há agências bancárias, há uma fragilidade econômica muito grande no comércio.

"Uma agência que não retoma o seu funcionamento significa uma interrupção no sistema de pagamento, no fomento, no crédito e isso traz um prejuízo incomensurável para as regiões do nosso Estado".

Bezerra acrescenta ainda que algumas agências retomam o funcionamento sem cofre, "isso significa que aquele banco está aberto, mas não tem circulação de moeda e isso precariza bastante o atendimento". Outra situação são as agências que retomam o funcionamento e ficam movimentando apenas recursos que está na própria cidade. "Ou seja, é um recurso aquém do necessário para garantir o devido sistema de pagamento, de aposentadorias, de salários. Nossa perspectiva é que os bancos assumam as responsabilidades, inclusive da concessão do papel-moeda para garantir o desenvolvimento do Ceará".

Para reverter este quadro desfavorável, o Sindicato dos Bancários do Ceará "fez vários encaminhamentos para solucionar a questão, como diversas audiências, sobretudo com a direção do Banco do Brasil, que é o banco mais atingido pelos ataques". Por sua vez, o banco garantiu que trabalha para recompor as estruturas danificadas durante esses ataques com a maior brevidade possível. "Esses ataques têm levado a contingenciamentos, suspensão temporária ou mesmo definitiva do atendimento em alguns municípios do País", destacou a assessoria do Banco.

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