Ave predominante do Sul do País é encontrada no sertão cearense

A espécie tapicuru foi observada em lagoas do Município de Iguatu, na região Centro-Sul do Estado do Ceará. Estudioso sugere que o pássaro está se adaptando ao local e há possibilidade de reprodução

Escrito por Honório Barbosa , regiao@verdesmares.com.br
Legenda: O tapicuru, espécie de ave comum na região Sul do Brasil, passou a ser observado em lagoas da cidade de Iguatu, no Centro-Sul
Foto: FOTOS: ALAN MARCEL BRAGA

Otapicuru, espécie de ave comum na região Sul do Brasil, passou a ser visto em Iguatu, distante 375 km de Fortaleza, na Região Centro-Sul cearense. O pássaro passou a atrair curiosos e observadores em áreas de lagoas, no entorno da cidade. Nesse período de chuva, o revoar e cantar das aves (tetéu, gavião e garça, por exemplo) ficam mais intensos pela manhã e no fim de tarde.

Os animais encontraram um lugar seguro, com água à vontade e bastante alimento para ficar nesta temporada. Observador de aves, Alan Marcel Braga foi quem primeiro descobriu a presença do tapicuru. Ele é servidor público estadual da Secretaria de Ciências e Tecnologias, mas mantém o hobby de fotografar e observar os animais.

"Aqui em Iguatu, têm muitas aves migratórias que vêm de determinadas regiões do Sul, do Pantanal e até do Hemisfério Norte, dos Estados Unidos, Canadá e Alasca", contou Marcel Braga. "Vi o tapicuru em junho do ano passado e esse pássaro nunca fora observado ou catalogado antes no Ceará".

Seis meses depois, o tapicuru se adaptou. Recolhe galhos, já faz ninhos e busca se reproduzir. "Essa ave já deve ter vindo antes, mas ninguém nunca teve esse olhar de enxergá-lo", disse o servidor público. "Já observei sete indivíduos, mas deve ter uns 15, e elas vêm aqui para as lagoas em busca de alimentação, na beira d'água, e fazem a reprodução. Quando estão prontos, fazem a migração de retorno e vão para o Sul".

Espécie

O tapicuru é uma ave ibis, que tem bico grande e torto, apresenta plumagem preta e amarelada e faz grandes voos. "Já cheguei a acompanhar uma com 50 km por hora", afirmou Marcel. "A ave no Sul é conhecida por maçarico preto e maçarico de cara pelada, mas como está habitando aqui também devemos colocar um nome regional", avalia o observador, ao sugerir. "Tapicuru de Iguatu seria um bom nome".

O pesquisador acha que o tapicuru está se adaptando bem à região de vastas lagoas - um ambiente propício. A presença das aves, misturada ao verde da vegetação nativa, forma um cenário perfeito para observar esses animais. E os pássaros estão em toda parte: em cima da estaca, em árvores e também no céu. Dezenas fazem voos panorâmicos e rasantes sobre a região.

Quadra chuvosa

O período de chuva favorece a migração das aves que são atraídas por águas novas, dentre elas, o servidor público já fotografou nas lagoas de Iguatu, a biguatinga (oriunda do Pantanal/Sul), a garça moura (Sul), tuiuiú (Pantanal) e as aves limícolas (que habitam áreas de lodo e lama) que vêm do litoral para o continente.

O pesquisador tem em sua estatística particular a observação de 221 espécies. Em Iguatu, já relacionou 186, colocando o Município em 13º no ranking no Ceará. "Tudo é registrado e catalogado", explicou o observador de aves. A presença delas no entorno da cidade de Iguatu atrai observadores, professores e acadêmicos do curso de Biologia da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu (Fecli), unidade de ensino da Universidade Estadual do Ceará (Uece), que realizam oficinas de observação.

Monitoramento

Equipados com auxílio de binóculos e câmeras fotográficas com lentes potentes, a equipe observa a desenvoltura das aves. Em Iguatu, a prática de observação vem ganhando adeptos. Quem participa de encontros, aproveita para conhecer mais sobre o exercício da observação dos animais.

Preservação

Mikael Alves, aluno do 5º semestre de Biologia, é um dos pesquisadores. "No passado, havia mais pássaros, daí a importância da preservação das lagoas, da natureza", destacou. "Não podemos poluir, aterrar as lagoas". Simone Soares, estudante de Biologia, avalia a valorização do espaço natural, da Caatinga e reforça a necessidade da preservação ecológica. "O ser humano tem que entender, com urgência, o quanto a natureza é importante para a nossa sobrevivência". O professor de Zoologia, na Uece, Célio Moura, mostrou a importância da observação das aves para os alunos, futuros professores. "É uma ação pioneira e há muito o que se fazer nessa área de observação e pesquisa dos pássaros".

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