Ambulâncias transportam de forma inadequada

O maior problema apontado é a carência de fiscalização para este tipo de serviço no Estado do Ceará

Escrito por Marcelino Júnior - Colaborador ,

Sobral. "Hoje, um grande problema enfrentado por quem necessita de transporte, por meio de ambulância, no Ceará, é a banalização desse tipo de serviço aos pacientes que necessitam ser transferidos dos municípios à Capital". A reclamação é do presidente do Sindicato dos Condutores de Ambulâncias do Estado do Ceará (Sindconam), Antônio Barbosa, que tem colhido denúncias, muitas delas, dos próprios motoristas, que não são sujeitos a nenhum tipo de fiscalização. Os problemas vão desde a falta de equipamentos mínimos para o atendimento emergencial, ao longo da viagem, o sucateamento dos veículos, a falta de qualificação de alguns motoristas para exercerem a função, além da retenção de macas, pelos hospitais, por falta de leitos para atenderem a demanda do Interior, sem falar nos transportes inadequados, até mesmo de pessoas mortas.

Relatos

"No Hospital do Coração, por exemplo, temos casos recorrentes de motoristas que foram pressionados a entregar a chave do veículo, logo ao dar entrada nas emergências, ficando o condutor numa situação de constrangimento, sem saber quando retornará ao município de origem. Em abril, tivemos dois casos assim, com reclamação de condutores de Redenção e Baturité", pontua o sindicalista.

As reclamações se repetem desde 2016. O problema mais grave observado pelo Sindicato, foi o de Uruburetama, no Norte do Estado. No dia 16 de abril, a ambulância que transportava uma paciente grávida teve sua maca retida ao dar entrada na emergência do Hospital Geral Doutor Cesar Cals. Com a paciente internada, o veículo retornou sem a maca e, desde então, vinha transportando pessoas deitadas numa prancha rígida, presa com corda ao piso do carro, com um colchão por cima, numa situação de improviso perigosa. "O motorista nos relatou que a direção clínica do hospital informou que não há previsão de entrega da maca. E, nessas condições, estão municípios como Beberibe, Jijoca de Jericoacoara, Lavras da Mangabeira, Morada Nova, Barro, e muitos outros. Temos, ainda, casos semelhantes no Instituto Doutor José Frota (IJF) e no Hospital Geral de Fortaleza (HGF), em que as macas não foram devolvidas. No HGF, o paciente recebeu alta, dias depois, e o equipamento nunca foi localizado", afirma o presidente do Sindconam.

"Conseguimos a substituição da maca, mas, infelizmente, isso pode ocorrer a qualquer momento, ao enviarmos pacientes com vaga zero aos hospitais de Fortaleza, tendo a ambulância que retornar sem o equipamento", diz a secretária de Saúde de Uruburetama, Maria Nilzete Braga.

As denúncias foram levadas ao Ministério Público Federal (MPF), em junho do ano passado. Em setembro, a Justiça reuniu os representantes administrativos dos hospitais envolvidos e o Sindicato da categoria. Todos negaram a prática, afirma o sindicalista Antônio Barbosa.

Outra reclamação do Sindicato é quanto à condução, nas ambulâncias, de pessoas mortas, quando a prática de transportar corpos nesse tipo de veículo é proibida por Lei. Segundo Antônio Barbosa, o caso tem sido comum, aos municípios, assim como o transporte de equipamentos, no lugar de pacientes. "As ambulâncias devem ser utilizadas exclusivamente para o transporte de pacientes e não de materiais, além da proibição do translado de corpos. Além de serem inadequadas a esse serviço, as ambulâncias não passam por nenhum tipo de higienização após esse transporte. Tivemos reclamação de corpos sendo carregados nas próprias macas, apenas enrolados em lençóis, quando deveriam seguir em urnas funerárias, dentro de carros adequados", alerta.

Orientação

Segundo Josete Tavares, presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Estado (Cosems), apesar da descentralização da Saúde no Ceará, por meio das policlínicas e Unidades de Pronto Atendimento (Upas), ainda é grande a demanda, quer seja cirúrgica ou ambulatorial, nos hospitais da Capital, pela falta de requalificação dos leitos do Interior. "Com essa falta de leitos, os atendimentos continuam convergindo para os hospitais terciários, localizados em Fortaleza, Sobral e Cariri, que normalmente estão lotados, sem as acomodações necessárias, daí a maca servir de espaço intermediário ao longo do atendimento", explica.

"A orientação que damos é negociar uma permuta entre o hospital, para que seja repassado outro equipamento, liberando a ambulância. Outra sugestão é identificar as macas, por município, para impedir o extravio. Mas reconhecemos que o maior problema é não termos essa rede de leitos que possa receber os pacientes nos próprios hospitais regionais", afirma o presidente do Consems, que também faz duras críticas à utilização de ambulâncias no translado de corpos. "Essa prática, além de inadequada, é inadmissível e ilegal. O prefeito que permite que isso ocorra poderá ter sérios problemas judiciais. Nossa orientação é que as prefeituras licitem serviços funerários para esse tipo de transporte", enfatiza.