Agrofloresta é referência em Tianguá

Escrito por Redação ,
Legenda: Plantio nativo de quatro a cinco mil pés de sabiá. No quintal da residência do casal Francisco Barbosa Sá e Francisca Fernandes Sá, dona “Veinha”, o terreno é preparado para o roçado sem uso de q
Foto: F. Edilson Silva
Enquanto a degradação ambiental ameaça muitos ambientes serranos, com práticas de desmatamentos marcadas pelas queimadas, experiências bem-sucedidas em recuperação de áreas nativas são exemplos em cidades como Tianguá, Maranguape, Quixadá e Itapipoca. Em Tianguá, a comunidade de São João adota o manejo sustentável na agricultura, com a combinação de culturas nativas e preservação da fauna e da flora. Na Área de Preservação Ambiental da Serra de Maranguape, o turismo sustentável marca as principais ações.

Em meio ao processo de degradação ambiental que atinge a Serra da Ibiapaba, vem sendo desenvolvida no município de Tianguá uma experiência de agrofloresta, na busca de um equilíbrio dinâmico entre os seres humanos e a natureza. O manejo adota técnicas agrícolas ecológicas, para alcançar o desenvolvimento rural sustentável. A experiência acontece na comunidade São João, a 13 km da sede, encravada na região de carrasco, no “quintal” da residência do casal Francisco Barbosa Sá, o Chico Louro, 59, e Francisca Fernandes Sá, dona “Veinha”, 56. Em uma área de dois hectares é possível observar o manejo de árvores e arbustos com plantios voltados para a produção. De forma harmoniosa convivem no mesmo espaço espécies como sabiá, marmeleiro branco, grão de porco, besouro, rabuja, jequi, feijão bravo, cipó de tatu, canelinha, joão mole, mandioca e mucunam; as culturas de goiaba, caju, siriguela, graviola, azeitona, amendoim, fava, girassol, batata e gergelim.

A unidade familiar de agrofloresta no sítio São João enfoca o caráter agro-ecônomico-ecológico e de desenvolvimento sustentável. O projeto tem o apoio da Pastoral Social da Diocese de Tianguá, que investe em um programa de educação pelo exemplo, como forma de mudar as práticas agrícola rudimentares que têm como base o uso de queimadas na preparação dos roçados. O agricultor Francisco Barbosa Sá, o Chico Louro, ensina que “onde tem um amontoado de folha, de bagulho podre, o mato nasce mais rápido e forte, não é preciso queimar a terra. A mata queimada faz a destruição de pequenos seres vivos, insetos, que produzem adubo e alimentam a terra. O fogo estraga demais”. Sua esposa, Francisca Fernandes Sá, coloca, por sua vez, que conheceu este sistema em Nova Olinda, no Cariri. Logo percebeu que seu marido, sem saber, trabalhava a agrofloresta, “plantando sem usar o fogo, a agricultura orgânica”.

A comunidade, que é uma área de reforma agrária do Incra, é formada por 39 famílias. Dona “Veinha”, nome como dona Francisca é conhecida, comenta que esta experiência já deu certo e agora o trabalho é passar para os vizinhos. O sistema vinha sendo usado há oito anos, mas só foi reconhecido como agrofloresta em 2001. No ano passado, o plantio passou a contar com espécies do tipo palma forrageira, araruta (outra espécie de mandioca), laranja e coqueiro. No inverno deste ano, em uma área de 1 hectare, foi feita a colheita de 200 litros de milho, 100 litros de feijão, 250 litros de fava, 450 quilos de abóbora, 20 quilos de batata doce, 20 litros de feijão quandu, 30 litros de amendoim, seis litros de sementes de girassol, 30 litros de mamona e 300 litros de castanha de caju.

DIA DE CAMPO - Na unidade de agrofloresta também chama a atenção de todos a existência de quatro a cinco mil pés de sabiá nativos. O agricultor Chico Louro guarda sementes de sabiá para replantar em locais degradados. Todas estas atividades têm despertado o interesse de agrônomos, ecologistas e agricultores de outras comunidades. No último dia 26, houve um dia de campo com técnicos da Cepema, Fundação Cultural Educacional Popular em Defesa do Meio Ambiente, que tem atuação em todo o Ceará. Participaram representantes da Pastoral Social da Diocese e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Tianguá, junto com agricultores de São João e das localidades vizinhas - Bom Jesus e Pindoguaba. O objetivo é desenvolver um projeto um amplo projeto de reflorestamento na região.

O acesso para o sítio São João é feito através da CE-187, no trecho Tianguá - Viçosa do Ceará. A Pastoral Social da Diocese vem realizando um trabalho de educação específica dos moradores, com treinamentos nas áreas de beneficiamento de caju, cooperativismo, gestão de empresa rural, caprinocultura, defensivos agrícolas e agrofloresta.