Agricultores acumulam prejuízo com o plantio de grãos de sequeiro

As precipitações irregulares e com baixa intensidade têm ocasionado perda do cultivo de sequeiro em pelo menos três regiões do interior do Estado. A cultura depende exclusivamente da água da chuva

Escrito por Honório Barbosa , regiao@verdesmares.com.br
Legenda: Com o milho perdido por causa da escassez de chuvas, alguns agricultores vão usar o que sobrou como forragem para os animais
Foto: Fotos: Honório Barbosa

O plantio de grãos de sequeiro já começa a se perder na maioria dos municípios da região Centro-Sul do Ceará por falta de água e irregularidade de chuva em fevereiro passado e neste mês.

Passado o Dia de São José (19 de março), os agricultores familiares começam a perder a esperança de que ainda é possível salvar a plantação de milho e feijão.

O cultivo de sequeiro é aquele que depende exclusivamente da água da chuva. De acordo com o escritório regional da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), as maiores perdas estão ocorrendo em Quixelô, Acopiara, Catarina, Saboeiro, Iguatu e Jucás.

"Vamos para o oitavo ano seguido de frustração de safra na maioria dos municípios da região", observa o chefe do escritório regional da Ematerce, Joaquim Virgolino Neto. Em Quixelô e em Acopiara, muitos agricultores sequer fizeram o plantio por falta de água. "As chuvas estão irregulares, localizadas e abaixo da média", completa.

Segundo ele, "as terras foram preparadas mas, sem umidade adequada, a maioria não plantou e quem plantou já está perdendo milho e feijão".

Além da região Centro-Sul do Ceará, quadro semelhante de frustração em relação à safra ocorre nos Inhamuns e Sertão Central. As chuvas abaixo da média e irregulares nessas regiões já eram previstas pela Funceme quando divulgou o prognóstico para a atual quadra chuvosa e alertou que a região Centro-Norte mais uma vez seria favorecida com melhores índices.

O agricultor José Luiz Moreira plantou dois hectares de milho e feijão na região de Calabaço, zona rural de Acopiara, em janeiro. "Estava esperançoso, achando que neste ano teríamos um bom inverno, mas infelizmente estou perdendo tudo", disse. "Não temos o que fazer a não ser esperar pela vontade de Deus. O agricultor tem que arriscar, plantar todos os anos para ver se dá certo", pondera.

O vizinho de Moreira, Paulo Lima, decidiu não plantar mais. "Este vai ser o último ano. Nunca vi tempos tão atrapalhados como estes, só perdendo a lavoura. Já perdi a conta de tanto prejuízo". Sem esperança de que o cultivo de milho iria prosperar, decidiu colocar o gado na roça para se alimentar da plantação. "Não tenho mais esperança de chuva para garantir uma safra e nem vou fazer um novo plantio se voltar a chover logo".

Virgolino avalia que a safra de grãos de sequeiro terá um prejuízo elevado na região, mas mantém a esperança de que a chuva ocorra em abril e maio para favorecer o surgimento de pastagem nativa (capim) para alimentar o rebanho de bovinos, ovinos e caprinos. "Esperamos que pelo menos este inverno deixe forragem para os animais".

"Outra preocupação é com a escassez de água. Os poços estão com a vazão baixa, secando. Nos riachos e nos rios, não escorreu água e o lençol freático caiu consideravelmente", reitera.

Desvio negativo

Em Saboeiro, a média de chuva neste ano, até ontem, segundo a Funceme, era de apenas de 154 mm, um desvio negativo de 73.5%. Em Acopiara, choveu menos 72% para o esperado no trimestre (janeiro, fevereiro e março), em Jucás, menos 71%, e em Iguatu, menos 69%. Os dados são parciais. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguatu, Evanilson Saraiva, avalia que a chuva deste ano até o momento lembra a seca de 1958. "Não temos mais o que esperar. Será um ano ruim", lamenta.