Açude Orós atinge o pior nível hídrico desde a sua inauguração

Fundado em 1961, o reservatório que já foi o maior do Estado corre o risco de chegar ao volume morto, caso não ocorram recargas substanciais no período da quadra chuvosa cearense

Escrito por Honório Barbosa , regiao@verdesmares.com.br

O Açude Orós pode atingir o volume morto neste ano. A estimativa é do Comitê da Bacia do Alto Jaguaribe. O prognóstico advém do baixo volume do reservatório, o qual atingiu seu pior volume (5,3%) desde sua inauguração, em 1961. Há, ainda, uma expectativa de continuidade da redução aquífera nos próximos dias. Fevereiro é o primeiro mês da quadra chuvosa e, até agora, não houve recarga nos principais reservatórios do Estado.

O baixo volume resulta em uma situação crítica: fim dos criatórios intensivos de tilápia, queda na atividade de pesca, desemprego, impossibilidade de irrigação e dificuldades de abastecimento de água de três cidades e dezenas de localidades rurais.

O Açude Orós, na região Centro-Sul do Estado, integra a Bacia do Alto Jaguaribe. É um reservatório estratégico para atividades produtivas e abastecimento de água para milhares de famílias. De acordo com o Portal Hidrológico da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), o Orós acumula apenas 5,3% de sua capacidade que é de 2 bilhões de metros cúbicos. O atual ciclo de escassez de chuva, que começou em 2012, contribui para a perda da reserva hídrica. A última vez que o reservatório transbordou foi em 2011.

"O Orós nunca esteve tão seco como está agora", observa o encarregado do posto do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), Raimundo Nonato de Souza. "Agora já dá para ver a galeria de tomada de água para a válvula, próximo ao sangradouro, que sempre esteve encoberta", diz.

Do mirante, onde está a estátua do ex-presidente Juscelino Kubitschek, é possível observar o ressurgimento de ilhotas, de bancos de areia e de pedras, que antes estavam encobertos. Ruínas da igreja da localidade de Conceição do Buraco que foi encoberta pelas águas também começou a surgir. A tendência é de perda de volume nos próximos dias porque as chuvas estão escassas na região e o reservatório continua liberando, em média, cerca de mil litros por segundos para abastecimento das cidades de Jaguaretama e Jaguaribe por meio do leito do Rio Jaguaribe.

Histórico

Em 1993, o açude Orós liberou água para atender, de forma emergencial e pioneira, à Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) por meio do Canal do Trabalhador. À época, a ação evitou o colapso no abastecimento da Capital cearense e de cidades em seu entorno. Em 1994, o reservatório chegou a 13% de seu volume.

O açude é estratégico para atender a centros urbanos e localidades da Bacia do Médio Jaguaribe, as cidades de Jaguaretama, Jaguaribe e Orós, que ficam no entorno da barragem.

Antes da construção do Castanhão (2002), o Orós era o maior reservatório público do Estado. Tornou-se grande produtor de pescado, favoreceu o cultivo de arroz irrigado em várzeas no entorno de sua bacia, além de ser um atrativo turístico. Agora o açude enfrenta uma crise sem precedentes.

Se na atual quadra chuvosa não receber recarga, corre o risco de secar no decorrer deste ano. "Estamos vivenciando uma situação crítica", lamenta o integrante do Comitê da Bacia do Alto Jaguaribe, Paulo Landim. "Há vários anos que o Orós vem atendendo a demandas de outras cidades, reabastecendo o Castanhão, mas sem receber nenhuma compensação".

Paralisação

A perda acentuada de volume de água paralisa as atividades produtivas e de lazer. Os barcos de passeio de visitantes há tempos estão encostados às margens do reservatório. "Não aparece mais ninguém no fim de semana", comenta o barqueiro Luzimar Bezerra.

Nos últimos três anos, o setor turístico, que é movimentado pelo Orós, amarga queda acentuada nos negócios, mesmo no período das festas de fim de ano e férias escolares.

Outra área afetado com a escassez de água no Orós é o da piscicultura, que havia crescido nos últimos anos, gerando renda para 700 famílias e produzindo cerca de 150 toneladas de pescado por mês.

"A atividade está praticamente paralisada, com produção de apenas 5%", informa o empresário do setor José Lima. "Houve várias mortandades e prejuízos enormes para os criadores", completa.

Prejuízo

O baixo volume do Orós criou um clima de preocupação e de tristeza entre os moradores, produtores rurais, piscicultores e aqueles que trabalham com turismo.

A crise afetou duramente os negócios na cidade, com queda nas vendas nos postos de gasolina, lanchonetes e bares, farmácias e até mercadinhos. "Sem renda, as pessoas compram menos, procuram priorizar o essencial", reforça o empresário Luís Souza. "A cidade está parada".