Turbulências e polêmicas exigem nova postura, avaliam deputados

Diante de entraves na construção de uma base aliada e críticas que envolvem o relacionamento com o Congresso, parlamentares da bancada cearense se dividem no balanço do Legislativo sobre os primeiros 100 dias do Governo

Escrito por Miguel Martins ,
Legenda: A prioridade declarada do Governo no Legislativo é a mesma desde o início do mandato: reforma da Previdência
Foto: Agência Senado

Após dias de uma turbulenta relação do Palácio do Planalto com o Congresso Nacional, deputados cearenses, em sua maioria, somam críticas aos 100 primeiros dias da gestão do presidente Jair Bolsonaro (PSL), mas alguns destacam mudanças já sinalizadas e, com otimismo, buscam traçar perspectivas para a gestão.

Para parte dos parlamentares, a lista de polêmicas envolvendo o chefe do Executivo e as indicações de auxiliares sem conhecimento técnico de suas funções são os principais fatores para entraves no início do Governo. Por outro lado, o cumprimento de algumas propostas de campanha e mudanças na estrutura administrativa são apontados como fatores positivos.

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Coordenador da bancada federal cearense, o deputado Domingos Neto (PSD) define o momento político da gestão como "conturbado" e defende mais segurança nas ações. "O Governo precisa se encontrar. A gente precisa saber de forma mais clara quais os papéis de cada membro que está no Palácio".

O parlamentar acredita que, a partir de polêmicas criadas no Governo, o Legislativo passou a ter um protagonismo maior. "O Congresso está tomando para si a direção de muitas políticas públicas, sobretudo sociais".

Correligionário do presidente, o deputado Heitor Freire (PSL), por sua vez, diz que a avaliação dos primeiros 100 dias "é a melhor possível". "Destaco principalmente o pronto cumprimento de muitas promessas de campanha, como o melhor acesso à posse de armas, o pacote Anti-Crime de Sérgio Moro e mais recentemente o anúncio do pagamento de 13° salário para beneficiários do Programa Bolsa Família. Também é impossível não reconhecermos o esforço transformado em ações concretas para desinchar a estrutura de Governo", menciona.

Desafios

Representante do PSDB na bancada, o deputado Roberto Pessoa contabiliza que Bolsonaro passou apenas pouco mais de 80 dias no poder desde que assumiu, pois esteve afastado do cargo por razões de saúde e viagens. Apesar da "turbulência" na gestão federal, o tucano destaca ser importante discutir a reforma da Previdência.

"Não se pode criar discussões ideológicas e partidárias sobre isso. Agora, no Congresso, com a participação de todos, ela será melhorada. São temas polêmicos, mas que o Congresso dará solução para o País", acredita.

Sobre polêmicas nas quais o presidente esteve envolvido, o tucano afirma que "ele está cumprindo o que falou na campanha. Muita gente não acreditou, mas se é certo ou errado somente o tempo vai dizer". A reforma da Previdência citada pelo tucano, aliás, é também vista por Heitor Freire como "o primeiro grande desafio desse Governo".

Críticas

Já o líder do PDT na Câmara, André Figueiredo, classifica os 100 primeiros dias de gestão como "festival de desencontros". "O presidente eleito deveria ter mais cautela na formação de sua equipe. Alguns ministros são completamente inaptos para o cargo. Estamos vendo com muito receio a possibilidade de o Brasil descambar para uma política de enfrentamento entre favoráveis e contrários".

O pedetista defende maior "senso de moderação". "Vamos discutir a reforma da Previdência, mas nunca essa proposta que só penaliza quem quase não tem direitos. Também temos que discutir o novo Fundeb, porque País sem Educação não tem futuro".

Para Denis Bezerra (PSB), as polêmicas do Governo pelas redes sociais têm atrapalhado a gestão. "São diversos atropelos, diversas caneladas, como ele mesmo diz. Ele tem que entender que foi eleito presidente da República. Ele tem que sentar na cadeira efetivamente, pôr ordem na casa para que o País volte a crescer".

Célio Studart (PV) avalia que Jair Bolsonaro ainda não conseguiu demonstrar força para iniciar a agenda-base da campanha e tem tido dificuldade "na construção de um Governo de coalizão". "O Governo precisa ponderar a sua comunicação oficial para poder estabelecer credibilidade perante a sociedade e perante o Congresso", defende.

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