Temor de derrotas deve afastar Bolsonaro de palanques municipais

Sem tempo hábil para registrar o Aliança pelo Brasil no TSE para concorrer nas próximas eleições, presidente evita se envolver diretamente com disputas eleitorais a fim de evitar desgastes

Escrito por Redação ,
Legenda: Jair Bolsonaro não conseguiu ainda registrar seu partido para concorrer nas eleições de outubro
Foto: Foto: PR

A confirmação da já esperada ausência do Aliança pelo Brasil nas eleições municipais deste ano pela cúpula do partido em criação levou o presidente Jair Bolsonaro a anunciar que ele também pretende ficar distanciado do pleito, sem subir em palanques ou fazer campanha por candidatos a prefeito. Pelo menos no primeiro turno.

O presidente concluiu que teria mais a perder do que a ganhar envolvendo-se formalmente nas disputas municipais. A avaliação de seus aliados é que um envolvimento mais direto só teria potencial de trazer prejuízos a Bolsonaro, tanto por ser vinculado a possíveis derrotas como pela possibilidade de desgaste caso aquele que seja eleito com seu apoio não consiga fazer uma boa administração.

Ainda não está claro se seus filhos seguirão a decisão do pai. Em 2018, por exemplo, o senador Flávio Bolsonaro apoiou declaradamente o agora desafeto da família Wilson Witzel (PSC) ao Governo do Rio de Janeiro. 

Outro ponto importante em aberto é como se comportará a ativa militância bolsonarista nas redes sociais, considerada decisiva para os resultados eleitorais de 2018, tanto na disputa presidencial como nos estados. Candidatos a prefeito alinhados com o presidente anseiam pela ajuda dessa máquina virtual, mesmo se não for possível ter o presidente no palanque.

A decisão de Bolsonaro frustra candidatos que tinham a expectativa de contar com seu apoio declarado. É o caso do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), candidato à reeleição, e de Andrea Matarazzo (PSD), postulante ao comando da capital paulista.

Bolsonaro reconheceu que, “pelo que tudo indica”, não haverá tempo hábil para oficializar a sigla que lançou no ano passado após deixar o PSL. E foi questionado como vai se portar na corrida eleitoral. “Pretendo não participar no primeiro turno de qualquer candidatura entre os quase 6 mil municípios do Brasil”, declarou aos jornalistas.

O presidente abriu, no entanto, uma exceção à regra que adotará até outubro e informou que vai “dar uma força” a alguns candidatos a vereador. “Eu tenho um amigo ou outro por aí, vou dar uma força para eles nisso aí”, comentou, sem citar nomes.

Neutralidade

A posição de relativa neutralidade já era tida como provável por aliados. Mas até o fim de 2019, ele vinha prometendo que daria seu apoio a alguns poucos candidatos considerados de confiança e alinhados ideologicamente em cidades estratégicas.

Na avaliação de Bolsonaro e seus filhos, o mais adequado seria “perder em quantidade para ganhar na qualidade dos candidatos”. O pano de fundo da estratégia é evitar que se repita o que houve nas eleições de 2018, quando vários postulantes a deputados e senadores se elegeram sob o manto do bolsonarismo pelo PSL, mas romperam com o presidente quando ele se distanciou do deputado federal Luciano Bivar (PE), que comanda a legenda.

Além disso, os governadoWilson Witzel e João Doria saíram vitoriosos das urnas fazendo uma campanha se associando a Bolsonaro, mas se afastaram logo no primeiro ano de Governo.

A declaração de Bolsonaro, no entanto, abre margem para que ele entre em cena em eventuais disputas de segundo turno, o que pode dar esperanças, por exemplo, a Crivella, que tem se aproximado do presidente. 

Em ato evangélico no mês passado, a dupla chegou a dançar lado a lado. O prefeito já participou de um mutirão de coleta de assinaturas para a criação do Aliança pelo Brasil.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já analisou mais de 22 mil apoiamentos do partido, dos quais 7.298 foram considerados aptos e 15.032 inaptos. Há ainda 55.407 fichas em prazo de análise.

Para ser criado, o Aliança precisa apresentar 492 mil assinaturas válidas. Bolsonaro se manifestou sobre o fato de o TSE ter identificado a assinatura de sete pessoas que já morreram nas fichas de apoiamento para a legenda. “A questão de mortos, a manchete, acho que foi do (jornal) Estado de São Paulo, “Aliança tem...”. São sete mortes. Um, o cara lá assinou a ficha e, na semana seguinte, teve uma acidente de motocicleta. Morreu. Os outros, meia dúzia... Só sete, né?, de não seis quantos mil, 50 mil. Sete apenas. Era CPF errado, a numeração errada, só isso aí”, disse.

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