Sucessão em Fortaleza acirra disputa entre governistas e opositores

O grupo liderado pelos irmãos Cid e Ciro Gomes tentará manter o comando da Prefeitura, em meio à polarização das forças de direita e esquerda, e as incertezas sobre a influência desse cenário na disputa local e na oposição

Escrito por Letícia Lima , leticia.lima@svm.com.br
Legenda: O projeto de manter o Paço Municipal é o grande desafio para o grupo político dos Ferreira Gomes, num cenário de polarização ideológica
Foto: Foto: Miguel Martins

O ano de 2020 será marcado pela polarização política com as eleições municipais. Em meio a um clima de indefinições, as forças de situação e oposição no Estado precisam fazer movimentos certeiros nas peças do tabuleiro para manter territórios e conquistar novos espaços. Fortaleza é o epicentro da disputa e servirá de teste para o grupo político comandado pelo PDT dos irmãos Ferreira Gomes. O projeto de manter o Paço Municipal é o grande desafio, num cenário de polarização ideológica.

Ainda não há como prever a influência no pleito eleitoral do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), representante do campo de direita e, portanto, opositor do grupo governista no Ceará, ligados ao espectro de centro-esquerda. Embora o desempenho de Bolsonaro no Nordeste, tenha sido ruim em 2018, se 2020 trouxer bons resultados na economia, como avaliam especialistas, os candidatos apoiados pelo governo federal podem ganhar fôlego na corrida eleitoral de 2020.

Do outro lado do espectro ideológico, existe outro personagem cuja participação política no ano eleitoral também é pouco definida: o ex-presidente Lula (PT). O partido pretender investir na Região e a participação de lideranças nacionais poderá ser decisiva.

Divergências

Aliados no Estado, PT e PDT, dependendo das estratégias, podem estar em palanques diferentes, novamente. As divergências no Ceará entre as duas siglas, principalmente nas eleições de Fortaleza, sempre são momentos de turbulências. O governador Camilo Santana, maior liderança do PT no Ceará, tem que conciliar interesses do partido e do grupo político.

Camilo defende a manutenção da parceria política na Capital, bem diferente do que as alas mais ideológicas do seu partido querem. O grupo governista terminou o ano sem dar pistas de quem será o candidato à sucessão do prefeito Roberto Cláudio, enquanto isso o PT já se movimenta.

A deputada federal Luizianne Lins, ex-prefeita de Fortaleza por dois mandatos, desponta como o nome do partido, mas não é unanimidade. Outras lideranças como o presidente do PT de Fortaleza, vereador Guilherme Sampaio, são apontadas por quem acha que a sigla, desgastada com os escândalos de corrupção, merece um "frescor".

Apesar dos conflitos de interesse, o sociólogo Emanuel Freitas, professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), acredita que o governador conseguirá administrá-los. "Desde que o Cid assumiu o Governo do Estado sempre houve dois PTs: um mais militante e outro mais próximo dos Ferreira Gomes. Em 2016, o Camilo não fez campanha para a Luizianne, vamos ter repetição disso. O Camilo tem consciência de que ele se tornou governador por mais obra e graça dos Ferreira Gomes do que do PT".

Oposição

Se um confronto entre os Ferreira Gomes e o PT vai se repetir ou não em 2020, não se sabe. Mas o que já está desenhada é a disputa com o deputado federal, Capitão Wagner (Pros). Candidato derrotado nas eleições municipais de 2016, desde que Wagner foi eleito para a Câmara Federal, no ano passado, ele se movimenta como pré-candidato a prefeito de Fortaleza. O parlamentar anunciou apoio de três partidos pequenos e promete a adesão de siglas maiores no início do ano.

Em pesquisas internas, Wagner aparece na frente de prováveis adversários. Não é à toa. Ele tem o recall da última eleição municipal e foi campeão de votos na disputa para a Câmara Federal.

Além disso, Wagner é fortemente ligado aos militares e alas conservadoras, e apoiou o presidente Jair Bolsonaro em 2018. Ao mesmo tempo, divergiu com o Governo Federal, em votações no Congresso Nacional. Wagner tenta se equilibrar com certa distância por conta da baixa popularidade do presidente na Capital, pelo menos por enquanto. Esse descolamento, analisa Emanuel de Freitas, pode ser um entrave para ele nas eleições, mas há dificuldade maior.

"Wagner vai enfrentar um candidato do Governo que tem o que mostrar. Como ele vai administrar um discurso crítico da atual gestão, mas que convença a população que não porá fim ao que Roberto Cláudio vem fazendo em termos de obras".

O PSDB ensaia ter candidato próprio nas eleições, no entanto, observou-se ao longo deste ano uma aproximação do senador Tasso Jereissati, principal liderança do partido, com o grupo de Cid e Ciro Gomes. Se essa aproximação atravessará para o campo político, 2020 mostrará.

Governismo

Na avaliação de Emanuel de Freitas, o pacote de obras que Roberto Cláudio lançou, neste ano, na Capital, deverá ser o "grande trunfo" do grupo governista. Segundo ele, o candidato a sucessor de Roberto Cláudio poderá "invocar a continuidade de uma cidade em obras e quem melhor fará essa continuidade será ele".

A indicação do nome ainda é um mistério que ficou para ser desvendado no ano que vem. Até o momento, os nomes cotados são o do presidente da Assembleia Legislativa, deputado José Sarto (PDT), e do secretário municipal de Governo, Samuel Dias.

A cientista política Carla Michele Quaresma, professora do Centro Universitário Estácio do Ceará, acredita que a próxima eleição não será "confortável" para o grupo. Para ela, a licença de 120 dias do senador Cid Gomes, que assumiu a presidência estadual do PDT, indica isso.

"O discurso da renovação política, apontando um grupo que está há muito tempo no poder, deve vir à tona. A ideia de que o grupo não dá transparência às suas ações. O discurso de que, no plano nacional tem uma posição contrária às reformas, mas, no Estado, apoiam medidas alinhadas com o plano federal", elenca.

E se a situação econômica do Brasil melhorar, continua Quaresma, a oposição pode ganhar terreno na disputa. "Se os indicadores de renda, de emprego melhorarem, isso cria condições para que as candidaturas alinhadas com o Governo Federal se fortaleçam".

Já para o professor de Ciências Políticas da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Josênio Parente, o grupo governista continua como o favorito. "O projeto deles não está ameaçado, Ciro Gomes está tendo um potencial nacional e tem força no Ceará", atesta.

No Estado, além das oposições, movimentos na própria base governista são observados com atenção. O grupo liderado por Domingos Filho, presidente estadual do PSD, promete continuar a ofensiva sobre municípios e isso deve continuar incomodando partidos como o MDB, comandado pelo senador Eunício Oliveira, personagem cujo protagonismo ainda é incerto. Derrotado nas Eleições de 2018, o desafio de Eunício, então, será reestruturar o partido, eleger novas prefeituras e aumentar as bancadas. O emedebista quer ter peso também nas articulações de Fortaleza.

Camilo Santana

O governador terá peso na decisão do PT sobre candidatura própria e terá o desafio de conciliar interesses com o seu grupo político.

Roberto Cláudio

No último ano do segundo mandato, vai preparar a máquina para o sucessor e influir na indicação do candidato do PDT ao cargo.

Cid Gomes

Licenciado do cargo de senador, vai conduzir as alianças do PDT, nomeação de diretórios e a escolha do candidato do partido na disputa na Capital.

Capitão Wagner

Candidato derrotado em 2016,disputará a Prefeitura de Fortaleza novamente com o desafio de arregimentar partidos para seu arco de aliança.

Tasso Jereissati

Maior liderança do PSDB no Estado, terá poder de decisão sobre a tese de candidatura própria do partido e eventual aliança com a oposição.

Eunício Oliveira

Derrotado nas Eleições de 2018, o ex-senador terá que reestruturar o MDB para conquistar prefeituras e vagas na Câmara Municipal.

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