Sem articulação, oposição perde terreno na Assembleia Legislativa

Em três meses de legislatura, opositores pouco discursaram e trataram majoritariamente de questões nacionais no Plenário

Escrito por Letícia Lima ,
Plenário da Assembleia Legislativa do Ceará
Legenda: Número de parlamentares eleito por cada região não deve servir como um indicativo de maior ou menos representatividade qualitativa desses deputados e deputadas.
Foto: José Leomar

Passados três meses do início dos trabalhos na Assembleia Legislativa, a oposição ao Governo Camilo Santana (PT) - composta por oito dos 46 parlamentares - ainda não demonstrou força na Casa em meio à desarticulação entre seus membros. Sem sintonia, o que mais se vê dos opositores são discursos voltados a questões nacionais ou a categorias que representam. Além das divergências de interesses, a paralisia é explicada também pelo fato de alguns partidos manterem ligações com a máquina estadual. Os seus integrantes, entretanto, defendem fazer uma oposição "responsável".

No início da legislatura, PSDB, PSL e Pros montaram um bloco para disputar vagas nas comissões técnicas da Assembleia, e só. De lá para cá, o bloco se desfez e, hoje, cada partido atua isoladamente, assim como o Psol, representado pelo deputado Renato Roseno, e o deputado Heitor Férrer, do Solidariedade (SD) - partido que integra a base governista. Quando estavam no mesmo bloco, deputados do PSDB, do PSL e do Pros se reuniram, no máximo, três vezes.

A promessa entre lideranças desses partidos, porém, era outra: unidade. O Diário do Nordeste fez um levantamento no portal da Assembleia sobre os assuntos levados pelos opositores para a tribuna durante o Primeiro Expediente - primeira parte da sessão, dedicada aos grandes discursos de 15 minutos -, nos últimos três meses, e constatou, além das divergências nos debates realizados, a pouca presença dos opositores na tribuna do plenário.

(Des)afinados

No último mês de abril, a oposição fez 10 discursos, sendo quatro sobre assuntos de interesse predominantemente local. Em março, menos ainda. De oito pronunciamentos, apenas dois repercutiram questões relativas ao Ceará: um foi de Renato Roseno, sobre as políticas para geração de emprego, e outro de Heitor Férrer, sobre investimentos em habitação. Situação diferente de fevereiro, quando os deputados tinham acabado de assumir o mandato e os adversários do Palácio da Abolição subiram 12 vezes à tribuna - em cinco destas para tratar de questões relativas ao Estado.

Além da falta de contraponto ao Governo, alguns deputados da oposição focaram os discursos nos interesses das categorias que representam, como a dos militares. Líder do Pros e do antigo bloco de oposição, o deputado Soldado Noélio diz que o grupo já levantou questões importantes, como a paralisação das obras do Acquario Ceará e supostos crimes de superfaturamento na Cagece. Ele reconhece, porém, que a oposição precisa de organização.

Desarticulação

"Temos um número pequeno de pessoas na oposição, e isso exige um esforço quadruplicado, comparado a alguém que é da base, que tem quase 40 deputados do lado do governador, então acho que a gente pode sentar e atuar mais junto, definir pontos importantes, para todos os parlamentares poderem estar presentes no mesmo horário, no mesmo momento da sessão", afirma o parlamentar.

O deputado André Fernandes (PSL), que fez até o momento apenas um discurso no Grande Expediente, concorda que a oposição está desarticulada no Legislativo. Por outro lado, ele defende que, em todas as outras vezes que discursou no plenário - em outros momentos das sessões -, chamou atenção para questões no Estado. Apesar disso, muitos dos pronunciamentos entoados por ele e o colega de partido, deputado Delegado Cavalcante, foram de defesa do Governo Bolsonaro.

"Quando anunciei que iria bater de frente com o governador, quando ele aumentou o ICMS dos pequenos e microempresários do ramo de móveis e eletros, a própria bancada da base foi lá e revogou o decreto. Quando fiz um vídeo sobre o Governo gastar quase R$ 8 milhões com tornozeleiras eletrônicas, o Governo foi lá e apresentou um projeto para que o preso pague pela tornozeleira. Sobre minha atuação, está excelente", responde o parlamentar.

Uma das mais "barulhentas" na bancada de oposição na legislatura passada, a deputada Fernanda Pessoa (PSDB) pouco travou embates na Assembleia, nos últimos meses, muito porque estava de licença médica. A parlamentar, no entanto, confessa ter dado uma "amenizada" nas críticas ao Governo estadual, porque tem visto resultados em áreas como a Saúde, cuja secretaria é comandada pelo Dr. Cabeto, integrante do PSDB.

"A gente vai nas secretarias e às vezes estão sendo resolvidos os problemas para a gente. A minha postura é de fazer uma oposição responsável e nós temos, no Governo do Estado, alguns secretários do PSDB, que são excelentes, então eu tenho que ser justa. Hoje, temos o secretário de Saúde, que é o Dr. Cabeto, que está fazendo um grande favor ao Estado. Subo à tribuna quando vejo falhas", alega.

Independentes

Além de Cabeto na Secretaria de Saúde, outro nome ligado à sigla tucana também faz parte do Governo Camilo: Maia Júnior, atual secretário de Desenvolvimento Econômico e Trabalho. Apesar da ligação do partido com a máquina estadual, Fernanda Pessoa garante que ela e o colega de bancada na Assembleia - Nelinho - estão na oposição. "A Segurança, para mim, ainda não está resolvida. O Estado é o que mais aumentou a frota de carro blindado, isso mostra que não está fazendo a sua parte".

Apesar do desalinhamento entre os opositores, Fernanda Pessoa acredita que a bancada - sem um líder de oposição - poderá se "engajar" nos próximos meses e ganhar terreno na Assembleia. Já o deputado Heitor Férrer (SD) não espera tanto. "Tem temas que estamos todos juntos e quando aparece algum projeto de lei, algum requerimento em torno daquele tema, mas pautas conjuntas não temos, cada qual age de acordo com a peculiaridade do seu mandato", diz, em tom cético.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.