Rede sinaliza apoio ao PDT em Fortaleza e cobra autocrítica do PT

Durante evento de filiações da Rede na Capital, ela defendeu a aproximação com partidos como PDT, PSB, PV e Cidadania contra polarização "tóxica"

Escrito por Letícia Lima , leticia.lima@svm.com.br
Legenda: A ex-senadora Marina Silva participou de evento de filiações da Rede na Capital
Foto: Foto: Isanelle Nascimento

De passagem por Fortaleza para atos de filiação ontem, a ex-senadora Marina Silva (Rede) falou sobre o desafio de fortalecer o partido nestas eleições municipais e as alianças que vêm sendo articuladas nas capitais com PDT, PSB e PV, para se contraporem à hegemonia do PT. Em entrevista ao Diário do Nordeste, a ex-candidata à Presidência da República sinalizou que a Rede deve apoiar a candidatura à sucessão do prefeito Roberto Cláudio (PDT). Confira a íntegra:

Qual a estratégia da Rede para fortalecer o partido nestas eleições no Ceará?

Nós tomamos uma decisão de continuar com o partido, mesmo sem termos atingido a cláusula de barreira em 2018, e essa foi uma decisão com base nos nossos princípios. Então, em alguns estados, a gente pode fazer alianças, mas serão sempre compatíveis com esses valores. Em outros (estados), a gente pode lançar candidaturas, mas teremos crescimento de qualidade. Aqui, no Ceará, estamos criando os meios para que a gente possa ter uma participação nas eleições sem entrar na tentação da polarização tóxica, buscando aqueles partidos que mantêm a defesa da democracia.

A Rede tem uma aproximação em âmbito nacional com PDT, PSB e PV. A ideia é fazer aliança com esses partidos nas capitais?

Tem sido um esforço para que a gente faça com que esse campo democrático possa participar junto do processo eleitoral, e a Rede tem uma construção que respeita as especificidades dos estados. Em Fortaleza, há uma compatibilidade com esse esforço nacional, mas, no Brasil inteiro, a gente procura respeitar aquilo que as direções estaduais e municiais vêm construindo, compreendendo que o importante é o programa (de gestão) e, mais do que o programa, é o testemunho das pessoas que irão protagonizar o processo político em cada município.

O PT faz parte desse campo da esquerda. Acha que ele abre espaço para o crescimento de outras forças?

Eu acho que a gente tem que fazer política esquecendo essa coisa de que o PT é o centro do mundo. A gente tem que construir o nosso projeto, dialogar com quem quer dialogar, porque se você ficar preso a tudo o que o PT vai dizer, onde o PT vai estar... A gente tem que fazer aquilo que a gente acredita. O PT não faz autocrítica de todos os erros que cometeu, principalmente o grave erro da corrupção. A partir da visão que ele estende de que não cometeu nenhum erro na economia, em relação à ética, o País está nessa situação, então a gente tem que trabalhar com aqueles que querem ajudar a melhorar o Brasil. Tenho dialogado com pessoas ligadas ao PPS, tenho uma relação histórica com o ministro Ciro Gomes (PDT), desde a época em que éramos ministros. A Rede não fica com essa postura de que os outros partidos do mesmo campo devem ser eliminados, pelo contrário, achamos que esse campo deve ser fortalecido, mas, programaticamente, em torno daquilo que vale a pena aos brasileiros.

Acha que essa polarização nacional vai influenciar nas eleições regionais?

Infelizmente, ela está posta de forma muito tóxica e doentia, as pessoas já não fazem o diálogo na política. Desde 2010, temos insistido que não é o embate, é o debate, mas o que a gente vê é cada vez mais o fortalecimento do embate. Nesse contexto, a gente tem que fazer o debate, mas sem cair na armadilha de defender as nossas propostas a partir do que está posto (do Governo Federal), foi isso que levou o Brasil para o buraco. A Rede se constituiu para não entrar nessa polarização tóxica.

Quais as suas pretensões políticas? Pensa em 2022?

Eu tenho compromisso com a defesa da democracia, com o desenvolvimento sustentável, a melhoria da qualidade da política e quero encerrar os meus dias fazendo isso, independentemente de participar do processo político institucional. Tenho trabalhado muito com a juventude para fortalecer a participação de novas lideranças na política. Acho que é muito cedo para ficar pensando em 2022, o momento é de discutir o que pensamos para o Brasil para chegar em 2022 não apenas com o projeto de poder, mas com um projeto de país.

Filiações da Rede em Fortaleza

O evento da Rede do qual participou a ex-senadora Marina Silva teve como pano de fundo as filiações da ex-secretaria de Desenvolvimento Econômico, Nicolle Barbosa, e do presidente do Sindicato dos Taxistas do Ceará, Francisco Moura. Este último deve ser candidato a vereador de Fortaleza. A ex-vereadora Toinha Rocha também estava na plenária e deve disputar uma vaga na Câmara Municipal pela Rede.

No Estado, o partido quer eleger, pelo menos, dez vereadores e deve apresentar dez candidatos a prefeituras. Lideranças do PDT não puderam estar presentes no ato em Fortaleza, segundo a cúpula da Rede, por incompatibilidade da agenda, mas o prefeito Roberto Cláudio enviou representantes. Marina participou, à tarde, de evento, em Maracanaú, para o lançamento da pré-candidatura de Eudásio do Paju, à Prefeitura. 

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