Prefeito em exercício de Uruburetama toma primeiras medidas em meio a divisões

Artur Nery, que assumiu o cargo interinamente na última terça, exonerou comissionados e reduziu salários em meio a brigas políticas

Escrito por Letícia Lima ,
Legenda: Aliados do prefeito em exercício, como o deputado Romeu Aldigueri (PDT), acompanharam a posse de Artur Nery na terça-feira
Foto: Foto: JL Rosa

O escândalo envolvendo o prefeito afastado de Uruburetama, Hilson de Paiva, além de deixar o município em clima de tensão, revela brigas políticas entre os grupos que detém poder na cidade. Até então no cargo de vice, o novo prefeito em exercício, Artur Nery (PCdoB), rompido com o titular, assumiu o cargo com críticas à administração do prefeito afastado, mas algumas de suas primeiras medidas à frente da Prefeitura têm gerado reações negativas. O gestor interno disse ao Diário do Nordeste que exonerou os servidores comissionados e reduziu em 15% o salário dele e dos secretários para tentar equilibrar as contas.

Até os primeiros meses da gestão do prefeito afastado, Artur Nery era aliado de Hilson de Paiva, afinal, foram eleitos em 2016 na mesma chapa. A aliança foi firmada, por conveniência, em meio a um troca-troca de aliados de ambos os lados. Os dois, na verdade, pertenciam a grupos políticos adversários. Em 2012, Hilson de Paiva apoiou para prefeito o candidato Vasconcelos Neto, para derrotar Artur. Depois, Hilson rompeu com Vasconcelos e, para a eleição em 2016, se uniu a Artur. Os dois foram eleitos.

Logo nos primeiros meses da gestão, porém, prefeito e vice romperam. No ano passado, quatro mulheres denunciaram Hilson de Paiva, que é médico, por abuso sexual durante atendimento ginecológico. No entanto, o caso acabou arquivado na Justiça. Na época, o vice-prefeito, Artur Nery, já rompido com o titular, foi acusado por aliados de Hilson de Paiva de fazer chantagem contra ele, de olho em assumir o cargo.

Artur Nery nega ter feito chantagem com interesse de tomar a Prefeitura. Ele conta que passou um tempo afastado das atividades de vice-prefeito, porque estava com a mulher hospitalizada. Desde a última terça-feira (16) como prefeito em exercício de Uruburetama, o gestor faz várias críticas à administração de Hilson de Paiva.

Legenda: Artur Nery diz que a gestão faz um recadastramento de funcionários após a exoneração dos cargos comissionados
Foto: Foto: JL Rosa

Cortes

De acordo com ele, a situação financeira da gestão municipal é "precária", com dívidas "em todo canto". "Posto de gasolina, medicamento, dívidas de aluguel, e estamos com pouco dinheiro. O INSS pegou todo o dinheiro que chegou nas duas últimas verbas (repassadas) e tirou de uma vez, e tem que fazer repasse para a Câmara, tem que ter dinheiro para gasolina e estamos com dificuldade", relata.

O prefeito em exercício diz que exonerou todos os cargos comissionados na gestão e baixou uma portaria reduzindo em 15% o salário dele e dos secretários, para tentar diminuir os "prejuízos" no caixa da Prefeitura. Artur Nery conta que os gastos da gestão com pagamento de pessoal atingiram 60% da Receita Corrente Líquida (RCL), acima do limite de 54% estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal com esse tipo de despesa.

"Teve uma quantidade enorme de nomeações. Exoneramos todos (os cargos comissionados) e estamos fazendo um recadastramento dos funcionários, porque alguns vão ter que voltar. Escola, por exemplo, não pode fechar, então vamos ver aqueles cargos que a gente vai ter que nomear novamente", explica. Artur Nery não soube detalhar quantos comissionados tinha a administração.

Câmara

Apesar da tensão na cidade, Artur Nery garante que tem o apoio dos vereadores de Uruburetama para colocar essas medidas em prática. A Câmara Municipal é composta por 11 parlamentares - quase todos faziam parte da base aliada do prefeito afastado, Hilson de Paiva. Apenas os vereadores Jean Serpa (PP), Hélio da Vó (SD) e Alexandre Nery (PPS) eram da oposição.

Hélio da Vó diz que quando as primeiras denúncias contra Hilson de Paiva vieram à tona, no ano passado, passou a fazer oposição ao prefeito. "Na tribuna, decretei que não faria mais parte da bancada do prefeito por toda essa imoralidade. No momento, estou do lado do povo, das mulheres com as almas quebradas".

O vereador Diego Barroso (PSL) era um dos aliados do prefeito afastado Hilson de Paiva e, após as denúncias, foi o autor do pedido de afastamento dele na Câmara. Para ele, no entanto, o cenário político na cidade ainda é incerto.

"Está um negócio confuso. Nós não esperávamos esse tipo de acontecimento na nossa cidade, de ficar manchada. A real situação política é que nós estamos do lado do povo. Eu era aliado, politicamente, do prefeito, mas não estou para compactuar com esse tipo de sem-vergonhice", criticou.

Aliados

Um dos principais aliados do prefeito afastado, Hilson de Paiva, o deputado estadual Leonardo Araújo (MDB) frisa que a relação que ele tem com o município é "institucional" e evitar falar sobre o médico.

"Minha relação com o município é uma relação institucional, de amizade e de muito trabalho. O que for para o bem do Município, o nosso mandato está à disposição. Já fui votado lá desde 2014, na época não fui apoiado por Dr. Hilson. O que fez ele votar em mim foi o trabalho realizado", avalia o parlamentar.

Já o deputado Romeu Aldigueri (PDT), também votado na cidade, mas adversário do prefeito afastado, manifesta apoio ao novo prefeito em exercício. "Acho que Dr. Artur tem experiência e vivência suficiente para pacificar Uruburetama, restabelecendo a probidade e o desenvolvimento para aquele município que já está muito sofrido com a repercussão nacional negativa. É um momento de união em torno do novo prefeito".

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