Popularidade de Bolsonaro sofre abalos após minimizar crise

Duas pesquisas divulgadas ontem mostraram um derretimento dos índices de aprovação ao presidente da República, enquanto o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, tem avaliação positiva devido à luta contra Covid-19

Escrito por Redação , politica@svm.com.br
Legenda: Cerca de 39% dos brasileiros desaprovam a maneira como Bolsonaro, que qualificou a Covid-19 como uma "gripezinha" e criticou a "histeria" em relação ao avanço da doença, está gerenciando a crise, revelou uma pesquisa do Datafolha
Foto: Foto: Isac Nóbrega/PR

O índice de desaprovação do presidente Jair Bolsonaro aumentou por causa da sua postura contrária às medidas de quarentena e isolamento social para conter a propagação do coronavírus, segundo dados publicados ontem (3).

Cerca de 39% dos brasileiros desaprovam a maneira como Bolsonaro, que qualificou a Covid-19 como uma "gripezinha" e criticou a "histeria" em relação ao avanço da doença, está gerenciando a crise, revelou uma pesquisa do Datafolha. Há duas semanas, esse índice era seis pontos menor.

O dado é similar à pesquisa realizada pela XP Ip Espe, que informou que o índice de desaprovação do presidente está em seu maior nível desde que chegou ao poder, em janeiro de 2019. Segundo a pesquisa, 42% dos brasileiros consideram a gestão de Bolsonaro como "ruim" ou "péssima", seis pontos a mais que a mesma estimativa feita há um mês. Ambas as pesquisas mostram que o índice de aprovação do presidente se mantém estável: 33%, na pesquisa da Datafolha, que perguntou especificamente sobre como o presidente lida com a pandemia, e 28%, segundo a XP, que questiona sobre o seu desempenho no geral.

Esses índices baixaram dois pontos em ambos os casos, o qual indica que o presidente conserva uma base de apoio relativamente estável, mesmo com o aumento dos índices de desaprovação.

No entanto, as pesquisam revelam um aumento da aprovação do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que trabalha de acordo com as recomendações internacionais para conter a pandemia, contrariando o presidente.

O índice de aprovação de Mandetta aumentou 21 pontos, para 76%, revela o Datafolha. Bolsonaro tem sido alvo de panelaços noturnos há semanas nas maiores cidades do País por sua resposta ao novo coronavírus.

A pesquisa do Datafolha foi realizada por telefone celular entre os dias 1º a 3 de abril, na qual participaram 1.511 adultos de todo o País. Sua margem de erro é de três pontos percentuais. A XP entrevistou 1.000 pessoas entre o último 30 de março e 1º de abril, com uma margem de erro de 3,2 pontos percentuais.

'Fiel escudeiro'

Mas como Bolsonaro conheceu seu ministro da Saúde? Nascido em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, Mandetta começou sua carreira na gestão da saúde, trabalhando em locais como a Secretaria Municipal da Saúde de sua cidade natal. Depois, foi por duas vezes deputado federal, entre os anos de 2010 e 2018, pela sigla DEM. Em Brasília, conheceu o então deputado Bolsonaro, a quem se uniu em oposição à ex-presidente Dilma Rousseff (2011-2016), principalmente em relação ao programa "Mais Médicos".

Em 2019, se tornou um dos poucos ministros com experiência política no governo atual. "O Mandetta foi um fiel escudeiro do presidente, um dos poucos que acreditou nas chances do Bolsonaro quando poucos o faziam. Participou ativamente da campanha e da elaboração do programa de governo de Bolsonaro", afirma o especialista em política, Thiago Vidal, da consultoria Prospectiva.

"O problema é que, agora, o discurso técnico do ministro é bastante conflitante com o discurso político do presidente. E, por isso, o ministro está sendo ofuscado pelo governo", acrescenta Vidal. Há um mês e meio, quando lhe perguntaram se pretendia se candidatar a algum cargo nas próximas eleições, Mandetta respondeu: "Em 2022 estarei trabalhando ao lado de Jair Bolsonaro", por sua reeleição.

Canetada

Apesar da perda de popularidade na condução da crise de saúde pública, Bolsonaro afirmou que pretende liberar o funcionamento do comércio, fechado na maior parte do País por causa do coronavírus, com uma "canetada".

Não foi a primeira vez que o presidente usa a expressão para se gabar do poder de sua caneta. Na avaliação de especialistas, porém, a esmagadora maioria dos atos do chefe do Executivo - como a edição de decretos e medidas provisórias - está sujeita a controles.

A contenção de medidas adotadas pelo Palácio do Planalto faz parte do sistema de "freios e contrapesos", que serve para impor limites e impedir abusos cometidos pelos Poderes. Segundo o professor de direito penal Davi Tangerino, da FGV São Paulo, um decreto de Bolsonaro liberando as atividades do comércio teria poucos efeitos práticos.

"O impacto na prática ia ser baixo, porque quase todos os estados e municípios já criaram decretos. Hoje é mais bravata e jogar para o grupo de apoiadores fanáticos, do que uma possibilidade de alteração jurídica importante", diz.

Ação para afastar filho do presidente

O deputado federal Rui Falcão (PT-SP) entrou ontem com uma ação junto à Justiça Federal de Brasília para que o vereador do Rio da Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do presidente Jair Bolsonaro, seja afastado de suas atividades no Palácio Planalto. Mesmo sem ter cargo no governo, Carlos foi alocado em uma sala no terceiro andar do Palácio do Planalto, na antessala do pai, junto com o chamado “gabinete do ódio”, grupo de assessores palacianos de perfil ideológico que cuidam das redes sociais do governo e incentivam o presidente a agir de forma beligerante.

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