Paulo César Norões: Mourão se faz no vácuo de Bolsonaro

Escrito por Paulo César Norões ,

Quem acompanha o dia a dia da política tem percebido a desenvoltura do general Hamilton Mourão no relacionamento com a imprensa - a internacional, inclusive. O vice-presidente, que muitos que não o conheciam tinham na conta de um militar linha-dura, estilo João Figueiredo, surpreende ao demonstrar capacidade para o diálogo e, mais que isso, inteligência e sabedoria. Em longo artigo, a versão brasileira do jornal espanhol El País relativiza o desempenho do general, lembrando que o fato de ser vice de Bolsonaro - este sim, comprovadamente um sujeito sem maiores compromissos com o refinamento que normalmente reveste o comportamento de um presidente da República -facilita. Para o articulista, um pouquinho que seja de civilidade e inteligência já faz muita diferença. Faz sentido. Afinal, Bolsonaro vive às turras com a imprensa, a quem - com raríssimas exceções - não dá a menor bola. Prefere as redes sociais. Deve-se reconhecer, no entanto, que Mourão tem sabido ocupar esse vácuo. Não à toa é solicitado a todo instante para entrevistas na grande imprensa internacional. Em inglês fluente, diga-se de passagem.

Disputa acirrada

Se não tiver acontecido nada extraordinário na virada da noite, a eleição do Senado terá mesmo dois candidatos do MDB. É tradição que o partido de maior bancada indique o presidente. A falta de entendimento interno, no entanto, com disputa aberta entre Renan Calheiros e Simone Tebet, enfraquece o partido e abre espaço para a vitória de um nome de outro partido - tucano Tasso Jereissati é um deles. O plenário certamente vai ferver.

Razões de cada um

Muita gente se pergunta como pode um senador investigado em vários processos no STF pretender a presidência do Congresso Nacional? Mais ainda: como, num momento em que o Brasil se manifesta por novos costumes na política, ainda há quem, na Casa, dê suporte a essa pretensão? Simples, Renan é uma velha raposa, sabe usar bem a autoridade do cargo em seu favor e de seus aliados. O problema é: como apoiá-lo sem cair em desgraça com o eleitor? Voto secreto é a resposta.

Transparência

Não à toa opositores de Renan vão às últimas consequências para forçar a votação aberta, mesmo após a decisão em contrário do ministro Dias Tóffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal. O PSDB de Tasso foi um que fechou questão pela transparência. Senadores de vários partidos vão pelo mesmo caminho. Todos pretendem declarar o voto. Isso deixará implícito que os que não o fizerem é porque estarão votando em Renan.

Adeus ou até logo?

Eunício Oliveira amanhece hoje sem cargo eletivo, algo inédito nos últimos 24 anos. Quatro vezes deputado federal e senador da República desde 2010, com papel de destaque na política nacional - foi ministro das Comunicações de Lula e presidente do Congresso - o cearense de Lavras da Mangabeira viu sua trajetória interrompida justamente no quintal de casa. O mesmo Ceará que lhe deu votação recorde para o Senado, em 2010, lhe negou a reeleição no ano passado. O homem que quis ser governador, agora vai ter que se reinventar politicamente. Há um longo caminho para tentar retomar a trajetória que o levou ao núcleo do Poder nacional.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.