Partidos começam busca por mulheres para a Eleição 2020

Além de atingir o mínimo obrigatório de 30% de mulheres filiadas, legendas miram representatividade efetiva para dissipar efeitos negativos do escândalo nacional das candidaturas laranjas na disputa do ano passado

Escrito por Jéssica Welma , jessica.welma@verdesmares.com.br
Legenda: Na Assembleia Legislativa do Ceará, a participação feminina ainda é tímida em comparação com a masculina
Foto: Foto: José Leomar

A proximidade de um novo ciclo de eleições municipais aquece as articulações partidárias em busca de novos filiados, especialmente do sexo feminino. Em novembro, vários partidos do Ceará têm investido na realização de encontro de mulheres nos municípios. Porém, não basta atingir o mínimo de 30% de todos os filiados. É preciso protagonismo. 

Os escândalos nacionais que envolveram candidaturas fictícias de mulheres para suposto desvio de verba e a pecha de que a carreira política feminina está quase sempre atrelada a uma estrutura familiar na área cobram das legendas uma revisão do terreno preparado para as postulações das mulheres.

“O foco é incentivar as candidaturas femininas em todo o Estado porque compreendemos que a sociedade ainda está muito desequilibrada do ponto de vista da representatividade. Somos cerca de 52% da população e temos menos de 15% de representação feminina nos espaços políticos”, afirma a deputada estadual e vice-presidente do PSD Ceará, Patrícia Aguiar, cujo partido realizou encontro na última sexta-feira (22). No Ceará, considerando os principais espaços de debate político, o maior índice de participação feminina é na Câmara Municipal de Fortaleza, com sete vereadoras dentre 43 parlamentares. Ainda assim, são muitos os desafios dessa atuação. 

Alguns gargalos à viabilidade de postulações femininas, inclusive, ficaram evidentes nas eleições gerais de 2018. Casos de candidaturas de fachada, denunciados em vários locais do País, também vieram à tona no Ceará. 

Suspeitas de fraudes envolvendo candidatas de pelo menos dois partidos – Pros e PSL – no Estado estão em investigação pela Polícia Federal. Nesses e em outros casos semelhantes, o suposto incentivo às candidaturas de mulheres era sobreposto por interesses em recursos públicos para financiamento de campanha e o mero cumprimento da chamada “cota de gênero”.

“É mais difícil por ser mulher, são poucas as vereadoras. Devíamos nos unir mais, mas acaba sendo cada uma no seu cantinho”, afirma a vereadora Bá (PTC), que já somava 25 anos como líder comunitária na Capital quando foi eleita pela primeira vez, em 2012. 

No dia a dia que mantém nos bairros, ela ainda vê pouco interesse da classe feminina na carreira política. “Tem não. Eu faço é mandar (se candidatar). É muito difícil ver mulher interessada em entrar na política. Há muita mulher que ainda sonha com um casamento que vai sustentá-la. As que trabalham, se formam ou abrem seu negócio, não querem se envolver. Não é uma carreira fácil”, diz Bá. 

A deputada estadual Fernanda Pessoa (PSDB), cujo partido também realizou encontro de mulheres nos últimos dias, ressalta que as mudanças no protagonismo feminino na sociedade têm feito com que “até o menor município esteja preocupado que a mulher realmente participe, não seja mais só para constar, seja só uma cota”. 

“Uma pré-candidata que conhece a luta e a dificuldade de um paciente que tem problema de saúde e busca tratamento, por exemplo, tem noções que podem ajudá-la a lutar por políticas públicas muito mais eficientes”, ressalta Fernanda. 

Filha do deputado federal Roberto Pessoa (PSDB), Fernanda, bem como as outras cinco deputadas estaduais do Ceará, partilha trajetória política com familiares. Além dela, a prima Emília Pessoa (PSDB) é vereadora de Caucaia e pré-candidata à Prefeitura do Município em 2020. 

A relação familiar, apesar de presente na trajetória de muitas mulheres, não é a única razão da entrada na vida pública, ressalta Patrícia Aguiar — esposa do ex-vice-governador Domingos Filho e mãe do deputado federal Domingos Neto, todos do PSD. 

“Essa questão de ter esse vínculo familiar, quer seja de um pai, de um marido, depende também do talento, porque há muitos outros políticos de quem as mulheres fizeram a opção de não ter nenhuma ligação com a política. As mulheres que fazem a opção de entrar (na vida pública) também abraçaram a causa e se identificaram com o movimento”, pontua Patrícia. 

Formação

Incentivar a candidatura de mulheres passa também pela formação. O PSD prevê uma série de cursos sobre atuação em redes sociais e orientações jurídicas para as mulheres. “São muitas as dúvidas”, destaca Aguiar. Ela frisa que o desconhecimento e as raízes culturais atrapalham na relação das mulheres com a política. 

Na última sexta-feira, o PSDB reuniu mais de 100 mulheres de 60 municípios para tratar de legislação eleitoral e marketing político com a meta de preparar novas lideranças. “Precisamos melhorar a eficácia desse modelo de proteção jurídica à participação da mulher na política”, disse a presidente do secretariado estadual do PSDB-Mulher Ceará, Maria de Jesus Bertoldo. O encontro define as pautas que serão levadas à gerência nacional do partido durante o Congresso Nacional do PSDB, previsto para 7 de dezembro.

“É um universo diferente. A mulher que é política, também é mãe, dona de casa, profissional de outra área. É também uma vida de que a gente não pode negar que há uma exposição pública e os riscos do enfrentamento. Mas é um enfrentamento que tem de ser feito. Muitas mulheres lutaram por esse direito de termos participação e reconhecimento. Esse reconhecimento é uma questão cultural e se dá aos poucos. Ainda há quem acredite que política não é lugar de mulher, mas estamos aqui para quebrar esses preconceitos”, frisa Patrícia. 

Mulheres administram 23 prefeituras do Ceará

  • Alto Santo - Iris (PP)
  • Aratuba - Maria Auxiliadora Batista (PL)
  • Boa Viagem - Aline Vieira (PL)
  • Brejo Santo - Dra. Tereza Landim (PDT)
  • Camocim - Mônica (PDT)
  • Canindé - Rozário Ximenes (MDB)
  • Caridade - Amanda Lopes (PDT)
  • Catunda - Ravenna (PDT)
  • Granja - Amanda do Romeu (PDT)
  • Guaramiranga - Roberlândia (PDT)
  • Hidrolândia - Iris Martins (PDT)
  • Icó - Laís Nunes (PDT)
  • Jati - Neta (PSD)
  • Madalena - Sonia (MDB)
  • Ocara - Amália Pereira (PP)
  • Pires Ferreira - Marfisa (PDT)
  • Potengi - Alizandra (PT)
  • Quixelô - Fátima Gomes (PT)
  • Senador Sá - Regina (PSD)
  • Tejuçuoca - Heloide Estevam (MDB)
  • Tururu - Fátima Galdino (PDT)
  • Umari - Mirineide Moura (PSD)
  • Varjota - Célia (MDB)

DEM liderou esquema, diz PF

Investigação da Polícia Federal aponta fortes indícios de que verba eleitoral pública do DEM nacional foi desviada por meio da maior candidatura laranja das eleições de 2018. Uma mulher do Acre, que oficialmente concorreu a deputada estadual, recebeu R$ 240 mil do Diretório Nacional da sigla, e declarou ter contratado 46 pessoas para atividades de mobilização de rua, entre elas dois coordenadores de campanha, além de aluguel de 16 automóveis, confecção de santinhos e contratação de anúncios — recebendo ainda R$ 39.500 em material eleitoral doado.

Apesar do aparente grande aparato de campanha, a policial militar Sônia de Fátima Silva Alves obteve apenas seis votos, tornando-se a candidata com o voto mais caro do País –foram R$ 46,6 mil de verba pública por apoiador.
De acordo com o inquérito da PF, Sônia foi usada como candidata laranja para desvio da verba em benefício da campanha do deputado federal Alan Rick (AC). Negando as evidências, o deputado Alan Rick afirmou que Sônia foi escolhida já perto da eleição para a vaga de uma candidata que havia desistido e que o expressivo repasse de verbas, decidido pela Executiva Estadual, ocorreu para que ela pudesse reverter a desvantagem.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.