Para especialistas, robôs e perfis falsos atuaram nas eleições

Institutos de pesquisa acompanharam a movimentação de sistemas automatizados que faziam disparos em massa de informações sobre candidatos. A avaliação é de que houve equilíbrio entre candidatos

Escrito por Márcio Dornelles ,

O receio de pesquisadores sobre a influência de robôs e perfis falsos nas redes sociais durante as eleições se confirmou. Twitter, Facebook e principalmente WhatsApp foram os principais canais utilizados na propagação de conteúdo duvidoso, sobretudo no segundo turno da disputa presidencial. A avaliação de estudiosos é negativa quanto ao trabalho desenvolvido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que precisará ampliar parcerias com institutos de pesquisa.

Há vários sintomas que apontam para uma contaminação da disputa eleitoral por um comportamento "robotizado" nas mídias, entende o professor e coordenador do Laboratório de Estudos Sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Fábio Gouveia, que acompanha o trabalho de dez pesquisadores.

"A disseminação de números telefônicos, máquinas que tocam quantidades absurdas de chips, e ficam criando grupos e produzindo informação. É fato. Aconteceu. Porém, só aconteceu porque há uma reverberação das informações que circularam pelas pessoas de fato", explicou Gouveia sobre a influência das notícias entre os receptores.

O caráter privado do aplicativo Whatsapp, considerado também uma rede social, dificulta qualquer tipo de fiscalização. "Como você controla um dispositivo que não tem transparência?", questionou.

Apesar do alerta, não é possível afirmar que a atuação de mecanismos autômatos ou personas, como são chamados os usuários falsos, interferiram diretamente no resultado das urnas, disse Gouveia.

Dois polos

Os robôs, responsáveis por sistematizar informações, teriam atuado nos dois extremos da disputa eleitoral, afirma o pesquisador Danilo Carvalho, integrante da Diretoria de Análise de Políticas Públicas (DAPP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

"A gente notou uma massiva presença de robôs em ambos os polos de discussão. Então não foi exclusividade de um dos lados utilizar isso. E a gente notou um crescimento constante da utilização de robôs durante o processo eleitoral, afirmou o estudioso.

Os pesquisadores buscam sinais de automatização relacionadas à origem dos robôs, a partir do "padrão temporal", ou seja, a velocidade no compartilhamento dos dados.

Desafios

As eleições de 2018 impuseram novo desafio ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para o combate a estas ferramentas. "É uma prática escusa, então ela tira a naturalidade do debate", pontua Danilo Carvalho. Na opinião dele, é preciso ampliar parcerias com institutos de pesquisa. Já Fábio Gouveia destaca que o acompanhamento é desafiador, mas precisa de um posicionamento mais forte das autoridades sobre as irregularidades "para um avanço democrático".

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