Oposição se movimenta em meio a distintas pretensões para 2020

Grandes partidos que, em 2016, estiveram juntos na chapa derrotada pelo prefeito Roberto Cláudio (PDT), no segundo turno, como MDB, PSDB e PL (ex-PR), têm indicado articulações fragmentadas para o pleito municipal

Escrito por Luana Barros e Wagner Mendes ,
Legenda: Convenção que oficializou candidatura de Capitão Wagner em 2016: cenário, hoje, é diferente
Foto: Foto: Kid Júnior

A menos de um ano das eleições municipais de 2020, forças de oposição em Fortaleza buscam se movimentar em um cenário diferente do que antecedeu o último pleito municipal, em 2016. Diante do aumento do arco de aliança governista nos últimos anos e de pretensões individuais de grandes partidos que outrora formaram coligação – ao menos até o momento –, articulações ainda difusas indicam que legendas que estiveram juntas nas últimas eleições devem trilhar rumos distintos no pleito na Capital.

Segundo colocado na última disputa pela Prefeitura de Fortaleza, o deputado federal Capitão Wagner (Pros) foi o primeiro opositor a lançar pré-candidatura, ainda em janeiro deste ano. O prognóstico até o momento contudo, é de que ele poderá não contar com o apoio de partidos que foram aliados em 2016.

No pleito anterior, quatro siglas formavam a chapa de Wagner: PR (agora PL), ao qual ele era filiado, MDB, PSDB e Solidariedade (SD). Dos quatro, apenas um continua dialogando com Wagner – o SD, segundo o parlamentar –, enquanto os outros devem estar em chapas concorrentes, sejam próprias ou apoiando outros pré-candidatos. Outras siglas com as quais ele ensaiava aproximação também não concretizaram aliança até o momento, caso do DEM.

Presidente municipal do MDB, o deputado estadual Walter Cavalcante descarta a possibilidade de a aliança de 2016 voltar a ocorrer. “Queremos reoxigenar o MDB. Agora, ainda não definimos quem nós vamos apoiar ou se vamos lançar candidatura própria”, diz Cavalcante.

Governador

Quanto à possibilidade de uma aliança, ele afirma que o “diálogo estreito” mantido com o governador Camilo Santana (PT) deve pesar no posicionamento do partido. “O nosso candidato é o do Camilo Santana. Se a gente não lançar chapa própria, no segundo turno nós nos juntamos com o Camilo”, afirma.

Uma candidatura própria também tem sido a aposta de outro ex-aliado de Wagner, o PSDB. “Nós não vamos deixar de ter uma candidatura logo no primeiro turno para apoiar alguém. Aquilo (aliança de 2016) foi passado, estamos vivendo um novo momento, de fortalecer a nossa bancada”, frisa Luiz Pontes, presidente do partido no Ceará. 

O pré-candidato tucano à Prefeitura de Fortaleza é o ex-deputado estadual Carlos Matos. “Pela primeira vez o PSDB apresenta um candidato faltando um ano para a eleição. É a hora de o PSDB voltar a ser o protagonista”, sustenta Pontes. A sigla vem realizando reuniões em bairros da Capital “para discutir Fortaleza”. A meta é construir o plano de governo a partir dos problemas apontados nas reuniões. 

Sem descartar

Wagner afirma “respeitar demais” a construção de candidatura própria do PSDB, mas não descarta a possibilidade de aliança. “A gente tem muita proximidade com o que está sendo construído no plano de governo do PSDB, o que já viabiliza apoio no primeiro ou no segundo turno”.

Uma nova possibilidade de aliança surgiu no radar quando o deputado do Pros foi convidado para integrar o DEM pelo presidente nacional do partido, ACM Neto. Sem a liberação do presidente nacional do Pros, Eurípedes Júnior, o diálogo esfriou, mas, segundo Wagner, não foi encerrado. 

“A legislação eleitoral dificulta essa migração e, por conta disso, acabei não tomando a decisão de ir para lá. Mas a gente tem conversado ainda com o DEM”, afirma. O deputado estadual João Jaime (DEM) confirma um esfriamento nas negociações, mas diz que nada está descartado. “Se o Wagner estiver pensando ainda em vir para o DEM não tem problema”.

Apesar disso, o apoio do DEM ao deputado, caso a ida de Wagner para o partido não se concretize, não é certo. “Não tem nada definido ainda. Vamos fazer a convenção até o fim do ano e eleger o diretório. Está aberto para conversar com qualquer um”, ressalta Jaime. O empresário Chiquinho Feitosa tende a ser reconduzido ao comando do partido no Estado.

O posicionamento do DEM também é acompanhado por outro partido que compunha as fileiras da oposição e, desde o ano passado, voltou a fazer parte da base governista no Estado, o PSD. O presidente do partido no Ceará, Domingos Filho, reafirma que a sigla compõe “a aliança do PDT em Fortaleza” e sinaliza interesse na vaga de vice da chapa governista caso o posto não seja ocupado pelo DEM. 

“O Moroni (Torgan), que é o vice, é que pode ser candidato à reeleição. Naturalmente, é um aliado prioritário que está dentro de uma linha. Se o DEM vai apoiar nessa linha aí, o PSD não tem obstáculo. Se isso não ocorrer, e a vaga ficar em aberto, é claro que, respeitando à pretensão dos demais partidos, queremos participar da discussão da possibilidade de indicação de um vice”.

Estratégias

Capitão Wagner, por sua vez, se diz tranquilo com o afastamento de antigos aliados e pretende construir um arco de alianças de oito partidos. “Até as convenções, tem muita coisa a ser construída”, considera. Ele diz ter fechado aliança com quatro partidos e estar dialogando com outros seis, incluindo o SD. O deputado federal Genecias Noronha, presidente estadual da legenda, não atendeu às ligações da reportagem até o fechamento desta matéria.

“Surgiram novos atores das eleições de 2016 para cá. O PSL passa a ter o maior tempo de TV na oposição. É um partido que a gente tem conversado bastante”, acrescenta Wagner, minimizando possíveis efeitos das divisões internas do partido. “Além deles, nós temos conversado com partidos médios, alguns até que não estiveram conosco na campanha passada”. 

Divergências e diálogo em uma oposição à esquerda

Outras legendas se movimentam em oposição ao candidato que deve ser indicado pelo prefeito Roberto Cláudio (PDT). A tese de candidatura própria em 2020 é adotada tanto pelo PT como pelo Psol. 

Presidente municipal da sigla petista, o vereador Guilherme Sampaio diz que a articulação política para as eleições deve ser feita a partir de diálogos com as bancadas federal, estadual e municipal do partido, além do governador Camilo Santana (PT). 

“A minha intenção é que a gente aprofunde o máximo possível o diálogo com os partidos da esquerda. No que depender de mim, o nosso empenho será na construção de aliança com a esquerda”, afirma. Entre os partidos citados por Sampaio, na busca de alianças, está o PCdoB, hoje na base aliada de Roberto Cláudio, e o Psol. 

Contudo, o presidente estadual do Psol, Ailton Lopes, pondera que, por enquanto, não há diálogo da legenda com o PT. “Porque a gente tem percebido que o PT continua em uma linha de se aliar àqueles que nunca foram aliados verdadeiros nossos, como o MDB e outros partidos de direita. Então, ao PT fazer um movimento à direita, nesse sentido, o Psol não vai estar nesse movimento”, argumenta.

Além disso, ele explica para o Psol que o primeiro turno do pleito municipal deve ser um momento de apresentar uma alternativa política à população da Capital. 

O nome mais forte dentro do partido para concorrer ao Paço Municipal é o deputado estadual Renato Roseno (Psol), mas a decisão só deve ser tomada de maneira definitiva no primeiro semestre do próximo ano, em convenção do partido. Segundo Lopes, o objetivo é construir uma Frente de Esquerda Socialista em uma aliança com o PCB e também com a Unidade Popular, um partido em vias de formalização.

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