PT rejeita fazer autocrítica em resolução

Após obter em 2018 um dos piores resultados eleitorais de sua história, o diretório nacional do partido aprovou no sábado (1º) uma nova resolução para orientar seus rumos a partir de 2019

Escrito por Estadão Conteúdo ,

Mesmo após ter sido derrotado em 15 Estados e no Distrito Federal no segundo turno da eleição presidencial deste ano, o PT se recusou oficialmente, no sábado (1º), a fazer uma autocrítica sobre os motivos que levaram o partido a colher um dos piores resultados eleitorais de sua história e a mergulhar numa crise que consagrou o eleitorado "antipetista" como um fator decisivo politicamente no País. 

Após dois dias de discussões, o diretório nacional do PT aprovou uma nova resolução para orientar seus rumos a partir de 2019. Diferentemente do que estava previsto na primeira versão do documento, o partido recuou de autocríticas feitas aos governos petistas e optou por dar ênfase à importância de Fernando Haddad, candidato derrotado nas eleições de 2018, como "nova liderança".

A autocrítica no documento se resumiu apenas a um "equívoco" do partido em relação ao "republicanismo" com grupos e instituições que ajudaram a "derrubar" o PT. "O conjunto do partido parece ter incorrido em alguns equívocos durante os nossos governos. O primeiro foi o 'Republicanismo', fomos republicanos com quem não é e nunca foi republicano", diz o documento, citando na sequência "a mídia monopolista, parte do Judiciário que sempre foi o reduto e o reflexo da elites mais atrasadas e antigas do escravismo nacional, os serviços de inteligência, as Forças Armadas e os aparatos de segurança, ainda sob controle dos que estavam no poder na época da ditadura de 1964-1985, corporações conservadoras e que se pautavam apenas por interesses próprios e pelas disputas de poder para seus agrupamentos, como parte do MP e grande parte da PF".

A resolução traz também uma análise de como o partido confiou apenas nos resultados de suas políticas sociais para se manter próximo das "maiorias sociais". "Não investimos na disputa de valores e da cultura como deveríamos fazer, na disputa de hegemonia. Essa disputa de hegemonia se dá pelos meios de comunicação, pela produção cultural, na educação e na organização dos movimentos sociais", diz o texto.

"Não tem autocrítica no texto. O PT faz autocrítica na prática. O PT fez financiamento público de campanha, o PT está reorganizando as bases, o PT está com movimento social. Não faremos autocrítica para a mídia e não faremos autocrítica para a direita do País", afirmou a presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), implicada na Lava-Jato.

Divergências

A elaboração da resolução expôs as divergências que tomaram conta do partido desde as eleições, quando o deputado do PSL Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República. Uma primeira versão do texto havia sido elaborada por uma comissão formada com integrantes de todas as correntes internas da sigla. O documento, porém, causou desconforto principalmente entre os membros do grupo majoritário, denominado Construindo Um Novo Brasil (CNB), e do grupo Movimento PT.

Com mais de 70 itens, o texto trazia críticas à política econômica da presidente cassada Dilma Rousseff - que tinha Joaquim Levy como ministro da Fazenda, hoje indicado para ser o novo presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na gestão de Bolsonaro. Também atacava setores da centro-esquerda que não deram apoio a Haddad no segundo turno da disputa presidencial, numa referência indireta ao PDT, de Ciro Gomes.

Após pressão da CNB, o partido retirou essas questões e focou no enaltecimento de Haddad. "É imprescindível ressaltar nesse balanço que o companheiro Fernando Haddad se projeta como uma nova liderança nacional do partido. Defendeu o legado do PT, ao mesmo tempo em que simbolizou aspectos de renovação política." 

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