Marcos Pontes nomeia militar para comandar interinamente o Inpe

A decisão vem dias depois da polêmica demissão de Galvão, ex diretor do Instituto, exonerado após defender os dados do Inpe sobre desmatamento e responder às críticas pessoas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro

Escrito por Folhapress ,
Legenda: Damião se formou pela Academia da Força Aérea em Ciências Aeronáuticas, e tem mestrado em sensoriamento remoto pelo Inpe, segundo consta em seu currículo Lattes.
Foto: Foto: Miguel Ângelo/Portal da Indústria/Divulgação

Marcos Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia, nomeou, na tarde desta segunda (5), Darcton Policarpo Damião como diretor interino do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O ex-diretor Ricardo Galvão foi exonerado na última sexta (2).

O anúncio de Pontes foi feito por meio de postagem em redes sociais. O ministro afirma que o nome foi enviado à Casa Civil e deve ser oficializado ainda nesta semana.

"Para quem conhece, sabe que o Deter e o Prodes [sistemas de monitoramento do Inpe para desmate] ajudaram na redução do desmatamento do País e vão ajudar muito mais agora que nós vamos melhorar os sistemas de satélites, a analise dos dados e como esses dados são apresentados para o cliente, que é o Ibama", diz o ministro, em vídeo, sem detalhar as possíveis melhorias em questão.

A decisão vem dias depois da polêmica demissão de Galvão, ex diretor do Instituto. Galvão foi exonerado após defender os dados do Inpe sobre desmatamento - que apontaram crescimento nos últimos meses- e responder às críticas pessoas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Nesta segunda, Bolsonaro chegou a afirmar durante evento na Bahia que "maus brasileiros ousam fazer campanha com números mentirosos contra a nossa Amazônia". No domingo (4), o presidente afirmou que ordenou a demissão: "Está a cargo do ministro. Eu não peço [a demissão], certas coisas eu mando".

O ministério da Ciência e Tecnologia afirma que a escolha do próximo diretor não tem data prevista e que haverá comitê de busca com lista tríplice, como é o costume na escolha de uma nova direção no instituto.

Damião se formou pela Academia da Força Aérea em Ciências Aeronáuticas, e tem mestrado em sensoriamento remoto pelo Inpe, segundo consta em seu currículo Lattes. Também fez doutorado em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília (UnB), e cursos de especialização no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e na Universidade da Pensilvânia.

Exoneração

Em café da manhã com jornalistas estrangeiros, ao ser informado sobre o aumento no desmatamento – documentado a partir de dados do Deter (projeto Desmatamento em Tempo Real, que têm a finalidade de ajudar ações do Ibama no combate ao desmate) –, Bolsonaro afirmou que Galvão poderia estar a "serviço de alguma ONG".

No dia 20, ao Jornal Nacional, Galvão afirmou que "ele [Bolsonaro] tem um comportamento como se estivesse em botequim. Ou seja, ele fez acusações indevidas a pessoas do mais alto nível da ciência brasileira, não estou dizendo só eu, mas muitas outras pessoas". "Isso é uma piada de um garoto de 14 anos que não cabe a um presidente da República fazer", disse o diretor do Inpe.

Em entrevista à Folha no último dia 21, Galvão havia dito que até poderia ser demitido, mas que o instituto era cientificamente sólido o suficiente para resistir aos ataques do governo.

Após ser exonerado, Galvão afirmou que o que motivou a demissão foi seu discurso em relação a Bolsonaro, que criou constrangimento. "Diante do fato, a maneira como eu me manifestei com relação ao presidente, criou-se um constrangimento que é insustentável. Então eu serei exonerado", afirmou, na sexta, o diretor, que disse concordar com sua substituição.

Cronologia das críticas ao Inpe e ao seu antigo diretor

19 de julho 

O presidente Jair Bolsonaro questiona dados de desmatamento do Inpe e diz que Ricardo Galvão poderia estar a "serviço de alguma ONG". O presidente diz que conversaria com o diretor do Inpe

20 de julho 

Galvão fala ao Jornal Nacional que Bolsonaro "tem um comportamento como se estivesse em botequim" e que os ataques são como "uma piada de um garoto de 14 anos que não cabe a um presidente da República fazer"

21 de julho 

Bolsonaro recua, diz que não falará com Galvão e que não quer propaganda negativa do Brasil. Galvão diz à Folha que poderia até ser demitido, mas que o Inpe não poderia ser atingido. Diretores de institutos de pesquisa entregam carta ao ministro Marcos Pontes (Ciência) pedindo que ele interceda junto a Bolsonaro por Galvão e pelos dados de desmate

22 de julho 

Pontes, em rede social, diz que compartilha da "estranheza" de Bolsonaro quanto aos dados de desmate. Bolsonaro afirma querer que os dados passem por ele antes da publicação, para não ser "pego de calças curtas"

26 de julho 

Durante reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Pontes defende que dados do desmate não sejam divulgados como ocorre hoje. Os dados são públicos e podem ser acessados por qualquer cidadão

31 de julho 

Reunião entre Salles, Pontes e representantes do Ibama e do Inpe. Galvão participaria, mas é desconvidado de última hora. Salles diz que dados do Inpe não são corretos e que instituto reconhece o problema. Inpe nega afirmação

1º de agosto 

Em entrevista coletiva com Salles, com o chanceler Ernesto Araújo e com o ministro-chefe do GSI, general Augusto Heleno, Bolsonaro diz que dados do desmate foram "espancados" para "atingir o nome do Brasil e do atual governo". Presidente diz que vai contratar empresa para fazer monitoramento do desmate

2 de agosto 

Galvão é exonerado por Pontes. Em rede social, ministro agradece Galvão e encerra mensagem com "abraços espaciais"

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.