Haddad e Bolsonaro firmam estratégias para captar votos de Ciro Gomes no Ceará

Bolsonaro não venceu em nenhuma cidade cearense no 1º turno, mas superou Haddad (PT) em três. Os partidos sinalizam objetivos traçados no Estado para a última semana da campanha

Escrito por Márcio Dornelles ,

Os dois candidatos à Presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), têm uma semana para buscar a preferência do eleitorado do País até o próximo domingo (28). No Ceará, reduto de Ciro Gomes (PDT), eles travam uma batalha particular, já que o pedetista amealhou a maior quantidade de votos no Estado no primeiro turno da eleição. 

Os espólios do ex-governador e ex-ministro estão no centro das discussões, o que fica evidente nas investidas do PT e do PSL em Fortaleza e no Interior do Estado neste fim de semana, mas o mapa da votação nos municípios cearenses no primeiro turno mostra que os postulantes têm trabalho para conquistar a preferência do eleitor, principalmente o capitão da reserva.

Ciro conquistou 1.998.597 votos (40,95%) no dia 7 de outubro, quase o dobro do acumulado por Bolsonaro, que recebeu 1.061.075 (21,74%). Haddad chegou mais perto, com 1.616.942 votos (33,12%). Apesar da distância para o pedetista, o candidato do PT rivalizou e venceu na mesma quantidade de municípios cearenses: 92. O militar reformado não teve maior votação em nenhuma cidade, mas superou Haddad em três: Eusébio, Fortaleza e Maracanaú. As duas últimas são, respectivamente, o primeiro e o quarto maiores colégios eleitorais do Estado.

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Enquanto a campanha de Bolsonaro busca espaço entre os eleitores cearenses, principalmente no Interior, cabe a Haddad se aproximar dos seguidores de Ciro, concentrados na Região Metropolitana de Fortaleza e no Norte, a exemplo de Sobral, base política da família Ferreira Gomes. No mapa da votação, o pedetista teve maioria também nos Inhamuns, em cidades como Tauá, Parambu, Arneiroz e Quiterianópolis. Teve, ainda, boa margem em Crateús, Boa Viagem e Independência.

Voto a voto

A maior votação do candidato do PSL no Ceará veio de Fortaleza (468.228), e a pior, de Deputado Irapuan Pinheiro (246). Em dez cidades, Bolsonaro alcançou mais de 10 mil votos, todas localizadas na Região Metropolitana da Capital, à exceção de Quixadá, no Sertão Central. Em 78 cidades ele teve mais de dois mil votos.

Fernando Haddad também teve sua votação mais expressiva em Fortaleza, com 263.009, enquanto apenas 827 eleitores de Ererê preferiram o petista na disputa, dando-lhe o pior desempenho no Ceará. Ele foi a escolha de mais de 10 mil eleitores em 40 municípios. Em 172, Haddad teve mais de dois mil votos.

O desejado espólio deixado pelo pedetista Ciro Gomes no primeiro turno da disputa, próximo a dois milhões de sufrágios, é considerado fundamental para as duas candidaturas, conforme apontam recentes movimentações do PT e do PSL no Ceará.

Diferentes estratégias em busca de espaços possíveis

De olho nos votos de Ciro Gomes (PDT) no Ceará, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) lançam mão de cartas na manga para atrair os eleitores do pedetista. Especialistas em marketing político avaliam o perfil do público e divergem sobre estratégias que cada um pode adotar, como buscar contradições do concorrente, reforçar o apoio de templos religiosos ou se reaproximar de lideranças regionais.

O primeiro desafio é analisar a votação nacional. Bolsonaro venceu em 17 estados das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte, enquanto Haddad saiu vitorioso no restante do Norte e em oito dos nove estados do Nordeste. Perdeu justamente no Ceará para Ciro Gomes, que anunciou apoio crítico ao petista.

“É muito mais difícil o Haddad conseguir mais votos em São Paulo, Minas Gerais, Sul do Brasil, no Centro-Oeste, do que no Nordeste, no próprio Ceará”, avalia o consultor e professor de marketing político, Guga Fleury. De acordo com ele, o caminho a ser adotado pelo petista versa sobre o medo da perda de políticas públicas e a suposta rejeição de outras regiões ao nordestino.

Já o publicitário Ricardo Alcântara, especialista em campanhas, alerta que Haddad tende a manter cautela na conexão com o ex-presidente Lula e forçar contradições no discurso do candidato do PSL, sobretudo no tocante à religiosidade. O consultor em marketing político Leurinbergue Lima avalia que o professor deve seguir mostrando ações do PT no Nordeste, com aproximação dos Ferreira Gomes.

Quanto à campanha de Jair Bolsonaro, o percurso é diferente, entende Leurinbergue Lima. “A tática de Bolsonaro é não perder de tão feio no Nordeste. Não é ganhar. Ele nem espera isso. É não levar um 70 a 30, 80 a 20. Acredito que ele vai concentrar a campanha nos municípios onde o voto é ‘rebelde’, como Fortaleza e Maracanaú”, analisa.

Lideranças

Ricardo Alcântara, por sua vez, pontua que o militar reformado costura apoio de lideranças com capilaridade em Fortaleza e na RMF, como Capitão Wagner (PROS) e Roberto Pessoa (PSDB), além de buscar reforço em ações ligadas a igrejas pentecostais. 

Já Guga Fleury, ao analisar o eleitorado de Ciro, cita um público mais suscetível a Bolsonaro. Para ele, o pedetista recebeu votos de eleitores que acompanham a política conduzida pela família, de um público alinhado à esquerda e, por último, de interessados no voto útil. “É o único (grupo) que tem chance de votar no Bolsonaro para tentar tirar voto do Ciro”, considera.

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