Em áudio vazado, Dallagnol comemora suspensão de entrevista de ex-presidente antes das eleições

O primeiro áudio publicado pelo site "The Intercept Brasil" traz mensagem enviada a grupo de procuradores no Telegram

Escrito por Redação ,

Em nova divulgação de mensagens envolvendo atores da Operação Lava Jato, o site "The Intercept Brasil" publicou, na tarde desta terça-feira (9), áudio em que o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa, comemora decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux de suspender autorização de uma entrevista do  ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao jornal Folha de São Paulo 12 dias antes das eleições de 2018, concedida pelo colega Ricardo Lewandowski.

Esta foi a primeira mensagem de voz divulgada pelo site desde que começou a publicar diálogos relacionados à Operação, no início de junho. Em áudio enviado ao grupo do Telegram "Filhos do Januario 3" às 23h33 do dia 28 de setembro de 2018, Dallagnol adianta que a autorização para a entrevista será suspensa e pede segredo aos demais procuradores sobre o assunto. 

"Caros, o Fux deu uma liminar suspendendo a decisão do Lewandowski que autorizava a entrevista, dizendo que vai ter que esperar a decisão do plenário. Agora, não, não... Não vamos alardear isso aí, não vamos falar pra ninguém, vamos manter, ficar quieto pra evitar a divulgação o quanto for possível, porque quanto antes divulgar isso, antes vai ter recurso do outro lado, antes isso aí vai pro plenário. Então assim, o pessoal pediu pra gente não comentar publicamente e deixar que a notícia surja por outros canais pra evitar precipitar recurso de quem tem uma posição contrária à nossa. Mas a notícia é boa, pra começar... terminar bem a semana, depois de tantas coisas ruins. E começar bem o final de semana. Abraços, falou".

Segundo a publicação, o áudio demonstra conhecimento prévio de Dallagnol acerca da decisão do veto à entrevista, além de pedir aos demais para que não falassem sobre o assunto, na tentativa de impedir que o parecer fosse contestado a tempo antes das eleições. 

Mensagens

Na última sexta-feira (5), a revista Veja, que trabalha em parceria com o The Intercept, mostrou que o Ministro da Justiça Sérgio Moro chamou a atenção de procuradores da Lava Jato para a inclusão de uma prova considerada importante por ele na denúncia de um réu da operação. Em troca de mensagens pelo Telegram, em 28 de abril de 2016, os procuradores conversaram sobre um alerta de Moro à força-tarefa.

Na mensagem, Deltan diz à procuradora Laura Tessler que o então juiz o havia chamado a atenção sobre a ausência de uma informação na denúncia contra o lobista Zwi Skornicki, réu da operação e representante da Keppel Fels, estaleiro com contratos suspeitos com a Petrobras.

"Laura, no caso do Zwi, Moro disse que tem um depósito em favor do Musa (Eduardo Costa Vaz Musa, ex-gerente da Petrobras) e se for por lapso que não foi incluído ele disse que vai receber amanhã e dá tempo. Só é bom avisar ele", diz. "Ih, vou ver", responde a procuradora.

No dia seguinte a esse diálogo, de acordo com "Veja", a Procuradoria em Curitiba incluiu um comprovante de depósito de US$ 80 mil feito por Skornicki a Musa, o então juiz Moro aceitou a denúncia e, na decisão, mencionou o documento que havia pedido.

Segundo a legislação, é papel do juiz se manter imparcial diante da acusação e da defesa. Magistrados que estão de alguma forma comprometidos com uma das partes devem se considerar suspeitos e, portanto, impedidos de julgar a ação. Quando isso ocorre, o caso é enviado a outro juiz.

Procurada pelo site "The Intercept Brasil", a Lava Jato disse, em nota, que "o site se recusou a enviar o material usado na reportagem para avaliação da força-tarefa, prejudicando o direito de resposta e de análise do material".

"As mensagens que têm circulado como se fossem de integrantes da força-tarefa são oriundas de crime cibernético e não puderam ter seu contexto e veracidade verificados. Diversas dessas supostas mensagens têm sido usadas, de modo fraudado ou descontextualizado, para embasar falsas acusações que contrastam com a realidade dos fatos”, completa a Lava Jato.

O ministro da Justiça, Sergio Moro, tem reafirmado não reconhecer a autenticidade das mensagens obtidas pelo site e nega ter cometido ilegalidades na condução da Lava Jato.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.