Edital 'DendiCasa' vira alvo de embate entre artistas cearenses e o Sindicato dos Médicos do Ceará

Presidente da entidade criticou a destinação de R$ 1 milhão para a Cultura, apesar dos recursos serem oriundos do Fundo Estadual da Cultura 

Escrito por Redação ,
Legenda: Edmar Fernandes diz que não é contra ações voltadas à Cultura, mas afirma que há "desvio" no uso de recursos do Fundo Estadual da Cultura para o edital
Foto: Foto: Saulo Roberto

Campanha divulgada nas redes sociais do Sindicato dos Médicos do Ceará tem gerado embate entre a entidade e artistas cearenses. As críticas capitaneadas pelo presidente do sindicato, Edmar Fernandes, são direcionadas ao edital "Festival Cultura DendiCasa", medida emergencial adotada pelo Governo do Estado e voltada a trabalhadores da cultura cearense. 

Por meio do edital, que está com inscrições abertas até as 23h59 desta sexta-feira (10), serão beneficiados 400 artistas de diferentes linguagens na Capital e no Interior, com cada projeto aprovado recebendo R$ 2,5 mil. Todo o edital está orçado em R$ 1 milhão, recursos oriundos do Fundo Estadual da Cultura. O conteúdo produzido será exibido gratuitamente à  população via internet. 

Na perspectiva de Edmar Fernandes, há "desvio" desse recurso, que deveria ser destinado à Saúde devido ao estado de calamidade pública causado pelo avanço do novo coronavírus. "Todos os recursos e todas as estratégias, tanto do Governo (do Estado) como das prefeituras, têm que ser voltadas a ações de combate ao coronavírus", afirmou.

Segundo ele, a critíca não é sobre "para quem está sendo direcionado este edital", mas sim quanto ao "desvio desse dinheiro, que era para estar sendo usado na Saúde". Nos vídeos publicados nas redes sociais do Sindicato, é também feita uma associação entre o déficit de equipamentos de proteção para profissionais de saúde, por exemplo, e o edital lançado. 

A Secretaria de Cultura do Ceará, contudo, esclarece que não há nenhuma relação entre os dois fatos. "O edital conta com recurso originário do Fundo Estadual da Cultura, que agrega um orçamento que deve ser investido necessariamente na política cultural do Estado. Não há, portanto, nenhum tipo de concorrência com os recursos da saúde", afirmou a Pasta, em nota. 

O texto aponta ainda as razões centrais para a realização do edital. "Está ligado à manutenção de investimentos no campo da arte e da Cultura, que conta com em sua maioria com trabalhadores informais e autônomos. O Edital é, assim, um gerador de renda e reparador econômico para empresas, microempresas, artistas, produtores e técnicos culturais", defendeu.

Dificuldades

O embate gerou reações entre artistas. Eles dizem que, por conta da quarentena, espaços públicos e privados voltados a lazer, entretenimento ou cultura estão fechados. Apresentações, shows, espetáculos foram cancelados ou adiados. Inúmeros trabalhadores da classe artística, afirmam, estão sem nenhum tipo de remuneração.

"O que deixa a gente muito indignado é porque é impossível que eles não soubessem que estes recursos só podem ser utilizados na Cultura", afirmou a diretora e professora de teatro, Herê Aquino. Ela integra o Fórum Cearense de Teatro, um das entidades a assinar carta de repúdio à campanha feita pelo Sindicato dos Médicos. 

Segundo Aquino, publicações contrárias à realização do Festival 'DendiCasa' continuaram a ocorrer nas redes sociais do sindicato mesmo após as explicações da classe artística sobre a origem dos recursos. "A Saúde tem que estar bem amparada, mas não se pode usar isto como desculpa para atacar a Cultura", ressaltou. 

Na carta aberta de repúdio à campanha feita pelo Sindicato dos Médicos, são elencados os trabalhadores da cultura beneficiados pela medida, sendo não só os artistas, como "produtores, técnicos, trabalhadores da cultura em geral, integrantes de diversas categorias profissionais e prestadores de serviços de várias atividades da economia da cultura, da arte, do entretenimento, do turismo".

Na classe artística cearense, existe uma mobilização  para que coletivos ou artistas que tenham ganhado outros editais não se inscrevam no 'DendiCasa'. O objetivo é que o novo edital possa beneficiar quem está passando por dificuldades mais sérias nesse período, principalmente na periferia e em municípios mais afastados da Capital. Também há uma mobilização para arrecadação de cestas básicas para distribuição entre artistas que estão com dificuldade financeira. "Essa crise escancarou a condição precária do artista", disse Herê Aquino. 

Críticas

Sobre a necessidade de suporte econômico à classe artística, Edmar Fernandes concorda com a crise econômica que está sendo enfrentada. Ele cita, na sequência, pequenas e micro empresas, que estão passando por dificuldades financeiras e tendo, inclusive, que demitir funcionários. 

"O caos é geral, é em todas as categorias. Não queremos desmerecer, mas não posso pensar em mim, quando o meu irmão ou o meu amigo está morrendo", afirmou. 

Sobre o fato de que o dinheiro destinado ao edital é de um Fundo que deve ser destinado à Cultura, o presidente do Sindicato dos Médicos diz que, "em um momento de calamidade", é natural retirar recursos de uma Pasta para outra dentro do Governo. Ele também reafirma que não é contra nenhuma ação voltada à Cultura no Estado. 

Edmar Fernandes se filiou ao Pros e já foi apontado por Capitão Wagner como pré-candidato a vereador de Fortaleza. A candidatura, no entanto, não está certa, garante ele. Para o médico, as críticas feitas ao edital voltado à Cultura e a outras ações do Governo do Estado e da Prefeitura de Fortaleza, como a construção do hospital de campanha no Estádio Presidente Vargas, não têm intenção eleitoreira. 

"Esta posição é coerente com todo trabalho que o Sindicato fez nos últimos cinco anos. Nós não falamos de nomes e não estamos somente denunciando, estamos propondo solução, porque essa é a função de entes representativos", ressaltou.

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