Deputados federais cearenses terão que buscar novas fontes para tentar reeleição

Pelo menos 15 dos 22 parlamentares eleitos tiveram mais de 50% das campanhas financiadas por doações empresariais

Escrito por Redação ,

Diferentemente de pleitos anteriores, deputados federais cearenses que tentarão reeleição, não contarão, desta vez, com o financiamento empresarial para alavancar as candidaturas. Esta nova realidade – inédita em uma eleição geral –, pode ser um desafio para muitos pré-candidatos, uma vez que as campanhas da maioria dos parlamentares da bancada federal cearense demonstraram, no pleito passado, considerável dependência de recursos de empresas. Indicador disso é que pelo menos 15 dos 22 parlamentares cearenses eleitos em 2014 para a Câmara dos Deputados tiveram mais de 50% das campanhas financiadas por doações empresariais e, neste ano, se quiserem ter o mesmo êxito nas urnas, devem buscar outras estratégias para financiar suas candidaturas à reeleição. 

O autofinanciamento, por sua vez, pode favorecer aqueles candidatos mais ricos, que injetam recursos nas próprias candidaturas. Três dos atuais deputados federais cearenses – Macedo (PP), Aníbal Gomes (DEM) e Vicente Arruda (PDT), que nem foi eleito, mas, na condição de suplente, acabou efetivado em 2016, com a eleição de dois parlamentares para gestões municipais – na eleição passada, utilizaram recursos próprios para financiar mais de 90% dos gastos das próprias candidaturas. Em 11 das 22 campanhas exitosas em 2014, as doações de pessoas físicas, por outro lado, corresponderam a menos de 20% do total de receitas declaradas à Justiça Eleitoral. 

O detalhamento das votações obtidas por cada deputado no pleito passado, bem como as receitas, os doadores e os gastos de campanha, além do custo médio individual de cada voto, estão disponíveis em uma base de dados online elaborada pela ONG brasileira Dados.org a partir de dados originais extraídos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com base nos valores declarados por cada um dos eleitos à Justiça Eleitoral, um levantamento comparativo das receitas de campanha dos 22 parlamentares cearenses na Câmara dos Deputados, feito pelo Diário do Nordeste, mostra que Genecias Noronha (SD) foi o deputado eleito no Estado com o maior percentual de doações de pessoas jurídicas – no total, 99,3% das receitas declaradas por ele no pleito passado correspondem a R$ 765.666 dos R$ 822.660 arrecadados. Ele também doou R$ 2 mil para a própria campanha (o autofinanciamento corresponde a 0,2% do total) e recebeu o equivalente a R$ 4 mil de pessoas físicas (0,5% do total).

Além de Genecias, tiveram campanhas financiadas majoritariamente por empresas os deputados Domingos Neto (95,9% das receitas oriundas de pessoas jurídicas), Luizianne Lins (92,9%), Gorete Pereira (85,3%), Danilo Forte (74,7%), Antônio Balhmann (72,9%), Ronaldo Martins (70,8%), José Airton Cirilo (70,1%), Leônidas Cristino (68,5%), Cabo Sabino (68,1%), Adail Carneiro (60,6%), José Guimarães (59,8%), Chico Lopes (57,5%), Odorico Monteiro (54,5%) e Raimundo Gomes de Matos (53,1%). 

Na outra ponta, os que fizeram campanhas com menores quantidades de recursos empresariais foram Macedo (2% do total declarado), Aníbal Gomes (8,7%), Moses Rodrigues (10,6%), Vitor Valim (31%), André Figueiredo (37,9%), Arnon Bezerra (48,5%) e Moroni Torgan (49,5%). Estes dois últimos, porém, foram eleitos, em 2016, prefeito de Juazeiro do Norte e vice-prefeito de Fortaleza, respectivamente. Seus lugares na Câmara, desde então, foram ocupados pelos suplentes Vicente Arruda, que teve apenas 0,2% das receitas de campanha oriundas de empresas, e Vaidon Oliveira, que não registrou nenhuma doação de pessoa jurídica.

No detalhamento dos recursos utilizados no pleito, Domingos Neto (PSD) declarou R$ 917.858 em receitas na campanha. Deste total, R$ 880.558 constam na prestação de contas como oriundos de pessoas jurídicas e outros R$ 37.300 doados por pessoas físicas. Luizianne Lins (PT), a terceira parlamentar cearense que mais recebeu recursos de empresas em 2014, declarou receitas de R$ 732.340 na campanha, dos quais R$ 680.360 foram doados por pessoas jurídicas e R$ 51.980 por pessoas físicas. Assim como Domingos Neto, ela não registrou nenhum valor oriundo de autofinanciamento. 

Gorete Pereira (PR), por sua vez, foi eleita em 2014 com R$ 1.470.590 declarados à Justiça Eleitoral. Deste valor, R$ 1.254.690 foram doados por empresas, enquanto R$ 192.200 são oriundos de pessoas físicas. A deputada ainda injetou R$ 23.700 do próprio bolso na campanha que lhe garantiu o atual mandato. Já Danilo Forte (PSDB), cuja campanha arrecadou R$ 2.476.972 em receitas no pleito passado, teve R$ 1.849.971 vindos de empresas e R$ 327.000 doados por pessoas físicas. Outros R$ 300 mil teriam sido doados pelo próprio partido, à época o PMDB, para a candidatura do parlamentar. 

O deputado Antônio Balhmann (PDT), que teve receitas de R$ 2.273.058 na campanha de 2014, arrecadou R$ 1.657.558 por meio de empresas e R$ 595.500 em doações de pessoas físicas. Além disso, ele investiu R$ 20 mil em autofinanciamento. Ronaldo Martins (PRB), com R$ 1.300.758 arrecadados no pleito passado, vem em seguida no ranking dos mais beneficiados por recursos empresariais. Do total de receitas na campanha, R$ 920.558 foram doados por pessoas jurídicas, enquanto recursos de pessoas físicas corresponderam a R$ 353.600 do total declarado à Justiça Eleitoral. Ele também destinou R$ 26.600 de recursos próprios para a campanha.

José Airton Cirilo (PT) e Leônidas Cristino (PDT) também tiveram mais da metade das respectivas campanhas custeada por empresas. O petista, que somou R$ 431.019 em receitas, recebeu R$ 302.250 de pessoas jurídicas, R$ 45.716 de pessoas físicas e doou R$ 83.053 para a própria candidatura. O pedetista arrecadou quase o triplo: dos R$ 1.281.457 declarados em receitas, R$ 877.287 foram oriundos de pessoas jurídicas, enquanto R$ 224.400 foram doados por pessoas físicas, R$ 142 mil pelo partido e R$ 12.700 por outros candidatos. Ele investiu, ainda, R$ 25 mil do próprio patrimônio na campanha. 

Já Cabo Sabino (Avante), eleito pela primeira vez em 2014 pelo PR, declarou receitas de R$ 122.176 no total, dos quais R$ 83.170 foram doados por pessoas jurídicas e R$ 32.990 por pessoas físicas, além de R$ 3.501 oriundos de comitê. Adail Carneiro (Podemos), eleito pelo PHS, registrou R$ 685.358 em receitas. Deste total, R$ 415.358 foram oriundos de empresas, R$ 262.500 de autofinanciamento e R$ 7.500 de outros candidatos. Ele não recebeu nenhuma doação de pessoa física.

A campanha de José Guimarães (PT) arrecadou mais: dos R$ 1.610.171 declarados no total, R$ 963.058 foram doados por pessoas jurídicas. As doações de pessoas físicas, por sua vez, totalizaram R$ 646.000, que se somaram a R$ 1.114 de origem identificada como “outras” na base de dados Datascópio, da ONG Dados.org. Já Chico Lopes (PCdoB), que declarou R$ 1.643.013 em receitas à Justiça Eleitoral, recebeu R$ 944.758 de empresas e R$ 595.255 de pessoas físicas. A estes recursos, somaram-se R$ 100 mil doados pelo partido e R$ 3 mil de autofinanciamento.

Os deputados Odorico Monteiro (PSB) e Raimundo Gomes de Matos (PSDB) completam a lista dos parlamentares cearenses cujas campanhas foram majoritariamente financiadas por empresas em 2014. O pessebista, que disputou a eleição ainda filiado ao PT, declarou R$ 780.165 em receitas. Deste total, R$ 425.450 foram doados por empresas, R$ 287.690 por pessoas jurídicas e R$ 1.525 por candidatos. Além disso, ele investiu R$ 65 mil do próprio bolso na campanha. O deputado tucano também registrou R$ 56.600 de autofinanciamento, mas o maior montante da campanha – R$ 460 mil – foi oriundo de pessoas jurídicas. Ele recebeu, ainda, R$ 346 mil de pessoas físicas e R$ 3.501 de comitê. Somadas, as receitas de campanha de Raimundo Gomes de Matos chegaram a R$ 866.101.

Na outra ponta, Macedo e Aníbal Gomes foram os parlamentares eleitos com menos doações de empresas, mas investiram, proporcionalmente, mais do que todos os outros em autofinanciamento. O primeiro, que declarou à Justiça Eleitoral R$ 1.021.000 em receitas, doou R$ 1.001.000 do próprio bolso para a campanha. Os outros R$ 20 mil ele recebeu de empresas. Já as receitas de Aníbal Gomes totalizaram R$ 229.600. Deste valor, R$ 207.400 correspondem a autofinanciamento, R$ 20 mil foram doados por empresas e apenas R$ 2.200 por pessoas físicas. 

Com R$ 629.807 em receitas, a maior parcela de arrecadação de Moses Rodrigues (PMDB), por sua vez, correspondeu a doações de pessoas físicas – R$ 371 mil, valor equivalente a 58,9% do total. Outros R$ 66.510 foram doados por empresas e R$ 192.297 foram investidos por ele na própria campanha. Já Vitor Valim (PROS) declarou R$ 322.452 em receitas, dos quais R$ 218.950 foram de autofinanciamento (67,9% do total), R$ 100 mil foram doados por empresas e R$ 3.501 por comitê. A receita declarada por André Figueiredo (PDT) foi maior: R$ 1.040.950 no total. Deste valor, R$ 394.700 foram doados por pessoas jurídicas, R$ 373.750 por pessoas físicas e R$ 240 mil pelo PDT. O deputado também injetou R$ 32.500 do próprio patrimônio na campanha.

Eleitos para a Câmara em 2014, Arnon Bezerra (PTB) e Moroni Torgan (DEM) também fizeram campanhas consideravelmente financiadas por corporações. O primeiro declarou receitas no valor total de R$ 426.458, dos quais R$ 206.958 foram doados por pessoas jurídicas. Outros R$ 200 mil foram oriundos de pessoas físicas e R$ 19.500, de autofinanciamento. Já Moroni Torgan, que arrecadou R$ 1.118.282, recebeu R$ 553 mil de empresas, R$ 162 mil de pessoas físicas, R$ 400 mil do partido e R$ 3.282 de comitê. 

Quando eleitos para gestões municipais, em 2016, os dois deram lugar a Vicente Arruda (PDT) e Vaidon Oliveira (PROS) na Câmara. Este, que teve apenas 9.445 votos no último pleito, somou R$ 42.350 em receitas – R$ 28.350 oriundos de pessoas físicas e R$ 14 mil de autofinanciamento, sem nenhum valor recebido de empresas. Vicente Arruda, por sua vez, recebeu apenas R$ 558 de pessoa jurídica e R$ 10 mil de pessoas físicas. A maior parte da campanha, correspondente a R$ 246.450, ele tirou do próprio bolso para custear a candidatura. No total, as receitas do suplente efetivado somaram R$ 257.008.

Custo do voto dos parlamentares eleitos (Total gasto dividido pelo número de votos obtidos):

- Antônio Balhmann: R$ 25,93 (Votos: 87.666 / Receita bruta: R$ 2.273.058)

- Chico Lopes: R$15,81 (Votos: 80.578 / Receita bruta: R$ 1.643.013)

- Danilo Forte: R$12,64 (Votos: 180.157 / Receita bruta: R$ 2.476.972)

- Leônidas Cristino: R$ 14,07 (Votos: 91.085 / Receita bruta: R$ 1.281.457)

- Gorete Pereira: R$ 11,23 (Votos: 130.983 / Receita bruta: R$ 1.470.590)

- Ronaldo Martins: R$ 8,49 (Votos: 117.930 / Receita bruta: R$ 1.300.758)

- Macedo: R$ 9,48 (Votos: 107.734 / Receita bruta: R$ 1.021.000)

- Raimundo Gomes de Matos: R$ 9,10 (Votos: 95.145 / Receita bruta: R$ 866.101)

- André Figueiredo: R$ 6,65 (Votos: 125.360 / Receita bruta: R$ 1.040.950)

- José Guimarães: R$ 6,58 (Votos: 209.032 / Receita bruta: R$ 1.610.171)

- Odorico Monteiro: R$ 6,41 (Votos: 121.640 / Receita bruta: R$ 780.165)

- Adail Carneiro: R$ 6,02 (Votos: 113.885 / Receita bruta: R$ 685.358)

- Luizianne Lins: R$ 3,68 (Votos: 130.717 / Receita bruta: R$ 732.340)

- Arnon Bezerra*: R$ 5,05 (Votos: 84.474 / Receita bruta: R$ 426.458)

- Domingos Neto: R$ 4,79 (Votos: 185.226 / Receita bruta: R$ 917.858)

- José Airton: R$ 4,58 (Votos: 94.056 / Receita bruta: R$ 431.019)

- Moses Rodrigues: R$ 4,28 (Votos: 147.044 / Receita bruta: R$ 629.807)

- Moroni Torgan*: R$ 4,03 (Votos: 277.774 / Receita bruta: R$ 1.118.282)

- Genecias Noronha: R$ 3,71 (Votos: 221.567 / Receita bruta: R$ 822.660)

- Vitor Valim: R$ 3,49 (Votos: 92.499 / Receita bruta: R$ 322.452)

- Aníbal Gomes: R$ 1,32 (Votos: 173.736 / Receita bruta: R$ 229.600)

- Cabo Sabino: R$ 1,01 (Votos: 120.485 / Receita bruta: R$ 122.176)

* - Vicente Arruda: R$ 3,63 (Votos: 70.768 / Receita bruta: R$ 257.008)

* - Vaidon Oliveira: R$ 4,48 (Votos: 9.445 / Receita bruta: R$ 42.350)

Fonte: Datascópio/Dados.org

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