Olavo de Carvalho exerce influência na montagem do futuro governo

Filósofo inspira o presidente eleito Jair Bolsonaro, seus filhos e seguidores

Escrito por Redação ,
Legenda: Guru do bolsonarismo, escritor Olavo de Carvalho, de 71 anos, indicou novo chanceler brasileiro, Ernesto Araújo
Foto: Folhapress

O ministro da Educação foi a segunda indicação que o filósofo Olavo de Carvalho, 71, emplacou no futuro governo Jair Bolsonaro. Antes de Ricardo Vélez Rodríguez, o guru da direita e autor de "O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota?" já havia apadrinhado Ernesto Araújo nas Relações Exteriores. Olavo afirmou que teve apenas três contatos com Bolsonaro. Seus escritos, porém, têm influência no pensamento do político e de seus filhos. O presidente eleito chegou a citá-lo como possível ministro da Educação, mas o filósofo mora nos EUA e rejeita a ideia de se tornar "funcionário público".

Desde quando o senhor tem contato com Vélez Rodríguez?

Eu conheço o Ricardo Vélez Rodríguez há uns 30 anos. Tive muito contato com ele na época do Fórum da Liberdade do Rio Grande (evento que reúne liberais, realizado no Rio Grande do Sul), e no encontro que tivemos no Instituto Liberal. Faz tempo que não converso com ele, mas conheço bem seu trabalho, suas ideias. Os jornalistas brasileiros não sabem nada a respeito dele, avaliam tudo de uma maneira pueril e fantasiosa. No Brasil, um liberal clássico se tornou extrema direita. Se o liberalismo é extrema direita, não sei o que vem depois. Estão dizendo que ele é um extremista de direita.

Qual exatamente é a linha dos senhores, então? Conservadorismo, com liberalismo na economia?

Conservadorismo, no sentido americano, chamamos de liberalismo no Brasil. O que os americanos chamam de "liberalism" é o que chamamos de esquerdismo, progressismo. Primeiro, é preciso diferenciar esses dois conceitos.

No sentido brasileiro, Ricardo Vélez Rodríguez é um liberal. No sentido americano, poderia ser um "moderate conservative" (conservador moderado). Essa é a classificação científica, correta. Não é uma rotulagem.

O senhor chegou a conversar diretamente com Bolsonaro sobre Vélez Rodríguez, ou o indicou apenas por meio de postagem no Facebook?

Eu conversei com o Bolsonaro três vezes na vida. Uma vez, quando ele sofreu o atentado, fiz uma comunicação para mostrar minha solidariedade, e, quando ele foi eleito, telefonou para cá para agradecer. Isso foi todo o contato que eu tive com o Bolsonaro. Com o filho dele, Eduardo (deputado federal mais votado em São Paulo este ano), tive um pouquinho mais, devo ter conversado umas cinco vezes. Eles leem as coisas que eu escrevo e levam a sério.

O senhor publicou recentemente um vídeo com críticas ao movimento Escola sem Partido, por ser muito focado em mudar a legislação, e pouco no combate cultural. Já discutiu esse assunto com Vélez Rodríguez?

Não, e nem tentei influenciá-lo nisso. Foram notas sobretudo para os fundadores do Escola sem Partido, que são pessoas amigas minhas. À medida que o movimento evolui na direção de um projeto de lei, a coisa se complica, porque o projeto de lei é prematuro, não existe documentação científica a respeito do problema (do esquerdismo nas escolas e universidades). Você não pode começar um debate legislativo sem ter o debate científico primeiro. Acho que colocaram a carroça na frente dos bois. Nós não temos uma visão quantitativa da hegemonia comunista no ensino, e ainda estamos na esfera do argumento retórico.

Por que o nome de Vélez Rodríguez é o melhor para o Ministério da Educação?

Porque ele é o (acadêmico) que mais conhece o pensamento brasileiro, no Brasil e no mundo.

Ele conhece o Brasil mais do que qualquer brasileiro.

O que é exatamente este "pensamento brasileiro"?

Todos os autores políticos, desde o Brasil colônia até hoje, ele leu todos. Eu não conheço outra pessoa que tenha esse conhecimento. Se você falar de integralismo brasileiro, ele sabe tudo.

E o mais importante, para o ambiente universitário, é criar um panorama (desse conhecimento histórico).

O senhor foi convidado para participar do governo?

O Bolsonaro falou, várias vezes, que queria que eu ocupasse o Ministério da Educação e da Cultura, e eu falei que não iria. Eu nunca serei funcionário público. No governo Bolsonaro posso ser consultor pessoal do presidente, e cobrarei R$ 100 por mês.

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