Ofensiva do PSD sobre siglas da base domina debates na Assembleia

Incomodados com a cooptação de prefeitos e outras lideranças no interior, parlamentares repercutiram reportagem do Diário do Nordeste

Escrito por Letícia Lima ,
Legenda: Ofensiva do PSD no interior ganhou espaço na Assembleia Legislativa; parlamentares de diferentes siglas da base fizeram críticas e reclamações
Foto: Foto: Isanelle Nascimento

Deputados de partidos da base do Governo do Estado escancararam, nesta quinta-feira, na Assembleia Legislativa, o incômodo com a ofensiva do PSD, comandado pelo ex-vice-governador Domingos Filho, sobre municípios cearenses. Parlamentares do MDB, Solidariedade e PDT denunciaram "assédio" a prefeitos aliados e a suposta negociação de liberação de emendas parlamentares da União para os municípios deles, em troca da filiação deles ao PSD. Domingos Filho, no entanto, nega cooptação e rebate: "o que incomoda é porque estavam no poder e agora nem têm".

As acusações vieram à tona em repercussão à reportagem publicada pelo Diário do Nordeste, na última terça-feira (29), em que lideranças partidárias afirmam que o PSD pratica "perseguição", ao invadir suas bases eleitorais. Domingos Filho, que ainda é conselheiro em disponibilidade do Tribunal de Contas do Estado do Ceará (TCE-CE), tem feito filiações em massa, a maioria de prefeitos do MDB e do Solidariedade, liderados pelo ex-senador Eunício Oliveira e pelo deputado federal Genecias Noronha, respectivamente.

Repercussões

Na reportagem, a declaração de Genecias foi uma das que mais causaram polêmica entre parlamentares, quando ele disse esperar que Domingos Filho não esteja "vendendo terreno na lua para conseguir adesão de prefeitos ou lideranças". Alguns deputados comentavam nos bastidores que o PSD estaria conquistando novos filiados em troca da promessa de liberação de emendas parlamentares para os seus municípios.

Isso porque o relator do Orçamento da União de 2020 é o deputado federal Domingos Neto (PSD), coordenador da bancada cearense no Congresso Nacional e filho do presidente do PSD no Ceará, Domingos Filho. Na reportagem, o parlamentar negou o uso da função nas articulações políticas da legenda no Estado e defendeu que o PSD tem uma "força natural".

O deputado estadual Leonardo Araújo (MDB), cujo partido perdeu para o PSD o prefeito de Pacatuba, Carlomano Marques, até então um dos quadros históricos da sigla emedebista no Ceará, deu fôlego às especulações em entrevistas à imprensa. Conforme mostrou o Diário do Nordeste, as movimentações do PSD também conseguiram atrair quadros de outras siglas, como o ex-deputado estadual Ely Aguiar, que estava filiado há 14 anos ao Democracia Cristã (DC) e se tornou o novo presidente municipal do partido em Fortaleza.

O grupo político de Domingos Filho filiou, ainda, prefeitos de municípios importantes, como o de Iguatu, Ednaldo Lavor, que era do PDT; o de Jijoca de Jericoacoara, Lindbergh Martins, ex-SD; o de Novo Oriente, Vanaldo Moura, que pertencia ao PCdoB; o prefeito de Cariús, Iran, eleito pelo PSDB, e o atual gestor de Caucaia, Naumi Amorim, que era do PMB.

Assembleia

A troca de acusações chegou à Assembleia Legislativa, nessa quinta-feira (31), e dominou boa parte da sessão. O deputado Audic Mota (PSB), um dos adversários ferrenhos do grupo político de Domingos Filho na região dos Inhamúns, puxou o assunto na tribuna. Ele defendeu que o debate precisava ser feito na Casa, porque envolveria dinheiro público.

"Estamos diante do uso de uma oportunidade que foi dada, de uma relatoria geral da União. Um cargo que há vários anos não teve um cearense, que estamos usando de maneira travessa, para alimentar um projeto político que mais parece uma bolsa de assopro que não resiste a um alfinete", comparou o deputado.

Danniel Oliveira (MDB) aparteou a fala do correligionário e, mais uma vez, acusou Domingos Filho de ingratidão. "Existem dois tipos de pessoa: o grato e o Domingos Filho. Por quê? Ele iniciou a vida política agarrado nas saias do senador Eunício Oliveira, buscando através do senador chegar onde chegou. Quis ser o candidato ao Governo (do Estado), só que não tem a confiança de ninguém", atacou.

Tin Gomes (PDT) também apontou, durante as discussões em plenário, assédio ao seu partido, comandado no Estado pelos irmãos Cid e Ciro Gomes. "Estive em Irauçuba, como também em Tururu, e é um problema sério. Não sei a gravidade das emendas, mas sei que existe assédio para que prefeitos possam mudar de partido. Infelizmente, trata-se dos próprios aliados querendo passar por cima dos aliados. Não concordo com isso, não vou me calar", frisou.

Inédito

O pronunciamento de Tin Gomes, nesta quinta-feira, foi inédito na bancada do PDT na Assembleia. Entretanto, nos bastidores, parlamentares comentam declaração dada pelo senador Cid Gomes, na última reunião da bancada federal cearense, em Brasília, de que, se ele soubesse de algum deputado que estivesse "vendendo" emenda, denunciaria. Membros da base governista entenderam essa afirmação como um recado. Em outubro, a bancada realizou rodadas de reuniões para a definição das emendas antes do fim do prazo.

Para aumentar a fervura, o deputado Vitor Valim (Pros), sugeriu na sessão desta quinta-feira que o deputado Leonardo Araújo desse mais explicações sobre as queixas em relação ao PSD.

O deputado Carlos Felipe (PCdoB), por outro lado, pediu cautela ao tratar da denúncia, porque, frisou ele, a deputada Patrícia Aguiar (PSD), esposa de Domingos Filho, não estava presente na sessão para dar uma outra versão. "É importante não se misturar questão política com questão de denúncia. A ausência (da deputada) termina sendo um pouco atrevida. Que as pessoas tenham a responsabilidade de dizer, porque depois têm que provar".

Outro lado

Procurado pela reportagem, o presidente do PSD no Ceará, Domingos Filho, negou as acusações feitas por membros da mesma base do governador Camilo Santana (PT) na Assembleia envolvendo possível liberação de emendas em troca da filiação de lideranças políticas. Segundo ele, as emendas do Orçamento de 2020 já foram definidas e não houve cooptação de filiados por meio de emendas do filho.

Para o dirigentes estadual do PSD, o que incomoda a aliados do arco governista é o fato de alguns deles não estarem mais "no poder". "Agora não têm poder federal, estadual e municipal e estão vendo nitidamente que não têm perspectiva de eleição"

Sobre as acusações de Danniel Oliveira e Leonardo Araújo, o ex-vice-governador do Estado insinuou que os deputados emedebistas apenas fazem a defesa de Eunício Oliveira e disse que o MDB é que deve gratidão a ele.

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