Nordeste puxa alta da rejeição do Governo Bolsonaro, diz Datafolha

A região ultrapassou o índice de 50% na avaliação de ruim e péssimo, e tem também o menor estrato do País que aprova o Governo, apenas 17%. Em contrapartida, Centro-Oeste e Sul mantêm as melhores médias

Escrito por Wagner Mendes ,

Mais da metade dos eleitores nordestinos, que respondeu aos questionamentos do Instituto Datafolha, reprova o Governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL). O índice chegou a 52% em agosto - o mais alto desde o início da gestão, em janeiro deste ano.

A alta regional puxou a rejeição nacional. O Sudeste, que tem os estados mais populosos do País, como São Paulo e Rio de Janeiro, vem em segundo lugar com a maior avaliação negativa: 36% de ruim e péssimo. Na sequência, vem Centro-Oeste com 32%, Norte e Sul com 31%.

O crescimento na avaliação negativa do Nordeste (de 41% para 52%) pode ser explicado, em parte, pelas declarações do presidente. Em julho, Bolsonaro teria afirmado que "daqueles governadores 'de paraíba', o pior é o do Maranhão. Tem que ter nada com esse cara", antes do início de um café com jornalistas em julho.

Nas redes sociais, no entanto, o presidente negou ter atacado os nordestinos. Segundo a pesquisa, 69% dos eleitores disseram discordar dessa afirmação. Outros 22% apoiaram a fala reservada.

A desidratação média atingiu o maior percentual da gestão em oito meses: 38%. A aprovação de Bolsonaro também caiu, dentro do limite da margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou menos, de 33% em julho para 29% em agosto.

O Datafolha informa também que Bolsonaro é o presidente com maior rejeição entre os de primeiro mandato nos últimos anos. Fernando Henrique Cardoso (15%), Lula (10%) e Dilma (11%), avaliados em igual período, estavam com índices mais modestos de reprovação.

A avaliação positiva do Governo caiu também entre os eleitores de rendimento acima de dez salários mínimos. Em um mês, de julho para agosto de 2019, a queda foi de 52% para 37%.

Além do estrato do Nordeste, os ateus são os que mais rejeitam o presidente: 76%, seguidos dos considerados pretos (51%), os desempregados (48%), os de renda superior a dez salários mínimos (46%) e as mulheres (43%). De dois meses para cá, o presidente viu aprovada na Câmara dos Deputados a reforma da Previdência, sua principal bandeira de Governo, e a tramitação acelerada no Senado. Nas últimas semanas, porém, o Governo Federal tem enfrentado pressões internas e externas.

Polêmicas

Neste período, Bolsonaro sugeriu que o pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) havia sido morto por colegas de luta armada na ditadura, e ensaiou indicação do filho, Eduardo Bolsonaro, para a embaixada brasileira em Washington.

O período viu o presidente bater de frente com o ministro Sergio Moro (Justiça) sobre mudanças na Polícia Federal (PF) e extinguir o Coaf (órgão de investigação financeira em atuação desde 1998), recriado de forma ainda incerta sob o Banco Central.

Também nesses dois meses explodiu a maior crise internacional do Governo até aqui, sobre o desmatamento e as queimadas da Amazônia. Conforme levantamento do Datafolha, há grande rejeição à condução de Bolsonaro no quesito (51% a consideram ruim ou péssima).

Apoio

O presidente ainda mantém a fidelidade em algumas classes da população. Quase metade dos empreendedores apoiam o Governo. São 48%. O índice também é expressivo entre evangélicos neopentecostais (46%). Os eleitores com renda entre cinco e dez salários mínimos aprovam com o percentual de 39%, seguidos dos moradores do Sul e Centro-Oeste (37%), dos eleitores brancos (36%) e dos homens (33%).

Embora haja queda na perspectiva de Governo para a maior parte dos brasileiros (com redução de 14 pontos percentuais), o índice ainda é considerado relevante. Para 45% dos eleitores, a expectativa para os próximos meses é ótima ou boa. A pesquisa foi realizada nos dias 29 e 30 de agosto em 175 municípios em todo o País. O nível de confiança do levantamento é de 95%. Foram ouvidas 2.878 pessoas.

Bolsonaro cancela ida à Colômbia

A expectativa de viagem do presidente Jair Bolsonaro à Colômbia para tratar de uma das crises, a Amazônia, logo foi suspensa pela equipe médica. “Por questões de orientação médica, o presidente precisará, a partir de sexta-feira, entrar em dieta líquida”, disse o porta-voz Otávio Rego Barros. Bolsonaro fará uma cirurgia abdominal.

O Governo analisa a possibilidade de um substituto. A reunião foi proposta por Peru e Colômbia em meio ao alarme internacional envolvendo o aumento das queimadas na Amazônia, cujo território abrange nove países da América Latina. 

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