No Nordeste, Bolsonaro lança plano e pede apoio à reforma da Previdência

A primeira viagem do presidente da República à região rendeu: ele assinou plano de desenvolvimento, ouviu cobranças e críticas dos governadores e pediu união para a aprovação da reforma da Previdência

Escrito por Márcio Dornelles ,
Legenda: Comitiva presidencial em Pernambuco contou com parlamentares e ministros
Foto: Foto: Marcos Corrêa/PR

O presidente Jair Bolsonaro (PSL), durante sua primeira viagem oficial ao Nordeste após as eleições de 2018, levou na bagagem o lançamento do Plano Regional de Desenvolvimento, anunciou mais recursos, entregou unidades habitacionais, mas não foi poupado de cobranças e críticas dos governadores da região. Bolsonaro aproveitou o encontro para pedir apoio na aprovação da reforma da Previdência.

O cenário encontrado pela comitiva presidencial que desembarcou em Pernambuco, nesta sexta-feira (24), já era previsto pela equipe de Governo. Além dos compromissos de agenda, a viagem tinha uma missão ainda maior: reduzir a resistência ao Governo Federal no Nordeste, região onde os gestores são majoritariamente de partidos de oposição.

Bolsonaro chegou a Recife por volta das 9h, utilizando uma base aérea próxima do aeroporto internacional da cidade. Seguiu de helicóptero até o Instituto Ricardo Brennand, complexo cultural, onde se encontrou com os governadores do Nordeste, do Espírito Santo e de Minas Gerais para a reunião do Conselho Deliberativo da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).

Mais pedidos

O encontro começou às 10h e teve cerca de duas horas de duração, quando foi aprovado o plano de desenvolvimento e anunciado acréscimo de R$ 4 bilhões ao Fundo Constitucional do Nordeste (FNE). Em acordo com o Governo, o Conselho aprovou que 30% do FNE sejam destinados à infraestrutura dos estados, o que precisa ser aprovado pelo Congresso Nacional.

O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), voltou a citar a Transnordestina como um dos "projetos prioritários que possam ter influência regional". "É uma obra fundamental para o Nordeste e hoje ligaria Piauí, Pernambuco e Ceará. Passamos quatro anos lutando para que a ferrovia pudesse ser concluída", disse o chefe do Executivo.

Camilo também falou sobre a atração de investidores internacionais para a região. "Há um interesse muito grande de investidores internacionais no Brasil, principalmente no Nordeste. Eles enxergam o Nordeste como um grande potencial de crescimento. Eles têm interesse de investir aqui, mas falta um instrumento que possa acelerar esse processo e acho que a Sudene poderia ser esse órgão", pontuou.

Críticas

Durante o evento, um grupo de manifestantes com faixas e cartazes protestou em frente ao local da reunião. O governador da Paraíba, João Azevedo (PSB), disse que esperava mais da visita presidencial. "Esperávamos que o presidente, a exemplo do que acontecia anteriormente, trouxesse mais notícias boas. As notícias boas não foram tantas".

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), foi na mesma linha. "De um modo geral, o Governo do presidente Bolsonaro enfrenta dificuldades no País, não apenas no Nordeste. Hoje, essa contestação de que o Governo vem frustrando expectativas é nacional", disse. De Alagoas, Renan Filho (MDB) corroborou. "Popularidade não se relaciona com dinheiro, mas com a capacidade de liderar".

Previdência

O ambiente de diálogo e anúncios deu a Bolsonaro a oportunidade de pedir apoio aos governadores à proposta de reforma da Previdência. "Faço um apelo aos senhores governadores do Nordeste. Temos um desafio que não é meu, mas também dos senhores, independentemente da questão partidária, que é a reforma da Previdência, sem a qual não podemos sonhar em colocar em prática parte do que estamos tratando aqui", disse o presidente.

O tema espinhoso, inclusive, teve mais um capítulo ontem. O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse em entrevista que deixaria o cargo caso não tivesse apoio do presidente ou o projeto virasse uma "reforminha".

"Vou embora"

"Eu não sou irresponsável. Não sou inconsequente. Ah, não aprovou a reforma? Vou embora no dia seguinte. Não existe isso", disse Guedes. A resposta de Bolsonaro foi dada em Recife. "Ninguém é obrigado a continuar como ministro meu. Logicamente, ele está vendo uma catástrofe. E é verdade, concordo com ele, se não aprovarmos uma reforma muito próxima da que nós enviamos ao Parlamento".

Não bastassem as dificuldades para a aprovação da reforma previdenciária, o Governo Federal também dedica esforços para que o Senado aprove a medida provisória da reforma administrativa na próxima terça-feira (28).

O líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM), anunciou que o partido votará para tirar o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Já o PSD tentará reverter a decisão. "O Coaf no Ministério da Justiça vai dar condição de Moro investigar profundamente a lavagem de dinheiro, evasão de divisas e uma série de coisas", defendeu o líder do partido, Otto Alencar (BA).

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