Na oposição, Camilo buscará diálogo com Bolsonaro

Um dos desafios da próxima gestão do governador petista Camilo Santana será transitar no Governo de Bolsonaro em busca de pleitos necessários ao Ceará

Escrito por Letícia Lima ,

Depois de quase 10 anos de aliança com o Governo Federal, o Ceará vai experimentar a partir do ano que vem, sob o comando do governador reeleito Camilo Santana, estar no lado oposto ao próximo presidente da República: Jair Bolsonaro (PSL). Apesar do Governo Michel Temer (MDB) não ser um aliado do PT, Camilo conta com o apoio do presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB), para ter acesso à máquina federal, só que o emedebista não foi reeleito. Agora, distante do futuro mandatário, a cúpula governista no Estado adota discurso conciliador em relação ao capitão da reserva.

Embora ainda seja uma incógnita como será a relação de Jair Bolsonaro com os governadores alinhados a partidos de esquerda ou mesmo com aqueles que fazem oposição a ele, o governador Camilo Santana, ontem, em entrevista coletiva na residência oficial, afastou qualquer tensão e ressaltou o desejo de abrir diálogo com o futuro chefe do Poder Executivo Federal, "em defesa do Estado".

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"Eu acredito que nós vivemos numa Federação e que a relação possa existir (de forma) institucional entre a Presidência da República e os estados brasileiros, e vou procurar dialogar, contribuir. Acho que a eleição terminou, o que é importante agora é pensar no Brasil, no Ceará. O meu desejo é que o Brasil possa retomar o seu crescimento, possa respeitar a Constituição brasileira, e é isso o que todos nós esperamos e já é o que o novo presidente sinalizou nos seus primeiros pronunciamentos".

Esse aceno de Camilo Santana a Jair Bolsonaro - após a derrota do candidato do PT, Fernando Haddad, na disputa presidencial - vem na contramão de declarações do presidente do PSL no Ceará, o deputado federal eleito Heitor Freire (PSL). No domingo (28), o dirigente declarou que não quer "nenhuma aproximação" com o governador do Estado, justamente, por ele ser de esquerda.

Diante de declarações desse tipo, o secretário-chefe da Casa Civil, Nelson Martins, admite temer restrições do futuro Governo Bolsonaro ao Ceará. "Receio é claro que existe, porque houve momentos da campanha em que o Bolsonaro declarou que iria discriminar o governante que não tivesse apoiado ele, eleitoralmente".

Recursos

Nelson enfatizou o papel do Governo Federal junto aos estados, "que já estão esgotados em termos de recurso", principalmente na hora de destravar projetos que dependem do aval da União.

"O Estado tem muitas parcerias com o Governo Federal, vai continuar precisando de financiamentos externos importantes e esses financiamentos dependem de aprovação do Tesouro Nacional, então a gente espera que o Estado não seja discriminado".

Já o senador eleito Cid Gomes (PDT) argumentou que se recusa a acreditar "que um Governo possa lançar mão de atitudes discriminatórias contra entes da Federação". "Se fizer isso, ele terá uma forte oposição e denúncias nas casas legislativas", reforçou.

Por outro lado, o pedetista ponderou que terá uma postura diferente no Senado em prol do Estado, ainda que o seu partido seja de oposição a Bolsonaro. Cid disse, inclusive, que vai buscar uma "sintonia" com os outros dois senadores do Ceará - Tasso Jereissati (PSDB) e Luís Eduardo Girão (PROS) -, opositores ao governo estadual.

"Procurarei os dois para que a gente possa ter, respeitando as posições partidárias, uma atuação, naturalmente, a mais afinada possível, colocando acima de qualquer coisa os interesses do Estado. Não quero ser nem situação automática e nem oposição sistemática. O povo brasileiro nos colocou na oposição, mas quero exercer esse papel crítico, com o objetivo de construir e ajudar o Brasil", defendeu.

Relação republicana

Na reta final do segundo turno, no entanto, Bolsonaro disse em entrevistas que manterá boas relações com os governadores de esquerda e que irá tratar todos os estados de "forma republicana". Ontem, o presidente nacional do PSL, deputado federal eleito Luciano Bivar, afirmou que o novo Governo vai mudar a forma de interlocução com prefeitos e governadores. Por isso, já decidiu extinguir o Ministério das Cidades.

Estrategicamente, integrantes de partidos que apoiam Jair Bolsonaro nacionalmente decidiram se manter na base do governador no Estado e são vistos como uma ponte de interlocução entre Camilo Santana e o presidente eleito. Pelo menos cinco dos 13 partidos que comporão a bancada federal cearense em 2019 estão aliados a Bolsonaro - PR, PSD, Progressista, Solidariedade e PTB - e apoiam o governador Camilo Santana no Ceará.

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