Mesmo com Sisu liberado, erros no Enem geram desgaste político

Nesta terça, o MBL ampliou o coro que pede a mudança no comando do MEC, somando-se a vozes de partidos de oposição e especialistas em educação. Decisão do STJ atendeu ao Governo e liberou a divulgação dos aprovados

Escrito por Redação , politica@svm.com.br
Legenda: Ministro da Educação Abraham Weintraub
Foto: Foto: Agência Brasil

Mesmo após a liberação da divulgação da lista de aprovados no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), nesta terça-feira (28), pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), os problemas - e incertezas - envolvendo o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) continuam sendo ponto de desgaste político para o Governo Bolsonaro. Em paralelo às críticas de partidos de oposição, o Movimento Brasil Livre (MBL) cobrou, nesta terça, a demissão do ministro da Educação, Abraham Weintraub, em virtude do "lamentável trabalho" que ele tem feito à frente da Pasta.

Em nota, o movimento lista as principais controvérsias em que Weintraub se viu envolvido nos últimos meses, que culminaram com os problemas na realização do Enem. "A presença do ministro Weintraub é incompatível com um Governo que, durante a campanha eleitoral, prometeu um ministério de notáveis", afirma o MBL.

O grupo tem forte presença entre jovens, especialmente estudantes secundaristas e universitários. Surgido em 2014 com uma pauta liberal, cresceu durante o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e, no segundo turno da campanha presidencial de 2018, apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro.

Desde então, contudo, distanciou-se do Governo e se tornou um crítico do presidente, mantendo apoio apenas a pautas pontuais, como a agenda econômica. Ao pedir a cabeça do ministro, o movimento direitista amplia o coro que pede a mudança no comando do ministério, somando-se a vozes de esquerda e especialistas em educação. O MBL pede a substituição de Weintraub por alguém competente, técnico e responsável.

Sabotagem

Na manhã desta terça, Bolsonaro falou pela primeira vez sobre os problemas no Enem. Ele reconheceu que a situação do exame está "complicada" e cogitou a possibilidade de que os erros tenham sido provocados por uma sabotagem, mesmo sem apontar qualquer evidência.

"Está complicado. Eu tenho conversado com ele (Weintraub) para ver o que está acontecendo. Se realmente foi uma falha nossa, se tem uma falha humana, sabotagem, seja lá o que for. Temos que chegar no final de linha e apurar isso aí. Não pode acontecer isso. E nós sabemos que tudo está na mesa. Eu não quero me precipitar e dizer o que deve ter acontecido com Enem", disse, ao chegar ao Palácio da Alvorada.

Também, na terça, a Comissão de Ética da Presidência concluiu que o titular do MEC desrespeitou o decoro do cargo e aplicou a ele uma sanção de advertência. O órgão colegiado concluiu, por unanimidade, que o ministro infringiu o artigo terceiro do Código de Conduta da Alta Administração Federal, segundo o qual autoridades públicas devem se pautar por padrões da ética. Em junho, Weintraub comparou nas redes sociais os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff com substâncias entorpecentes.

Batalha judicial

Na semana passada, o ministro da Educação informou que notas do Enem foram divulgadas com erros. O motivo, segundo ele, foi uma falha na gráfica que passou a imprimir a prova no ano passado.

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) liberou na última sexta-feira (17) os resultados individuais da última edição do exame. Em decorrência de relatos de erros e de uma decisão judicial suspendendo a divulgação dos resultados do Sisu, o MEC informou, na segunda (27), que suspenderia por tempo indeterminado a abertura das inscrições do ProUni, programa que oferta bolsas a estudantes em instituições privadas do ensino superior.

Um dia depois, porém, o presidente do STJ, ministro João Otávio de Noronha, atendeu ao pedido do Governo e liberou nesta terça a divulgação da lista de aprovados no Sisu. A divulgação dos aprovados nas universidades havia sido barrada na Justiça até o MEC comprovar ter corrigido todas as falhas em notas do Enem. Com a decisão, também foi liberada a abertura das inscrições do ProUni.

Na noite desta terça, os candidatos às vagas no Sisu (237 mil) já puderam consultar as listas oficiais na plataforma. Cerca de 1,8 milhão de participantes se inscreveu para tentar o ingresso em universidades.

Demissão

A viagem que motivou a demissão do secretário executivo da Casa Civil, Vicente Santini, em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) levou integrantes do governo a discutir limites ao uso dos aviões oficiais. Desde o início da gestão de Jair Bolsonaro, 13 ministros utilizaram os jatos para deslocamentos ao exterior.

Ranking

O campeão de uso é o chanceler Ernesto Araújo, que viajou 22 vezes, seguido de Ricardo Salles (Meio Ambiente), Osmar Terra (Cidadania), Tereza Cristina (Agricultura) e Fernando Azevedo (Defesa) - três viagens cada um.

Reação

Santini foi demitido nesta terça por Bolsonaro após solicitar o avião da FAB para ir a Davos, na Suíça, e depois se juntar à comitiva presidencial em Nova Délhi, na Índia. Uma viagem como esta, segundo cálculos de integrantes da Aeronáutica, não sai por menos de R$ 740 mil. O presidente considerou a atitude do número 2 de Onyx Lorenzoni como "inadmissível".

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