Libelo do general motiva avaliação do tucanato

Tasso admite que a imagem do PSDB está muito desgastada e defende, no pós-eleição, uma "refundação"

Escrito por Edison Silva - Editor de Política ,
Legenda: General Theophilo, na entrevista publicada na edição da última quinta-feira, falou dos infiéis do partido e da decisão de não continuar político
Foto: FOTO: SAULO ROBERTO

Enquanto o general Theophilo, candidato do PSDB ao Governo do Ceará, registrava para o Diário do Nordeste a sua insatisfação com os "infiéis" do seu partido e a decepção com segmentos da classe política, o senador Tasso Jereissati, um dos líderes nacionais da sigla, no mesmo dia manifestava, para o jornal Valor Econômico, sua irresignação com o quadro político-partidário atual.

Tasso, na sua entrevista ao Valor, assinada pelo jornalista Fernando Taquari, também tratou da disputa presidencial no Nordeste, e em especial no Ceará, para afirmar que a situação eleitoral de Ciro Gomes (PDT) vai depender da capacidade de transferência de votos do ex-presidente Lula para o candidato Fernando Haddad (PT).

"Uma coisa vai depender da outra. Vai depender muito da capacidade de Lula em transferir votos para o Haddad. Se essa capacidade se comprovar grande, isso prejudicará o Ciro e ele cairá. Do contrário, beneficia o Ciro". O senador cearense reconhece a dificuldade do seu presidenciável Alckmin no Ceará, em razão dessa realidade.

Indagado sobre o seu envolvimento na criação de um novo partido nacional, o senador cearense não confirma que esteja trabalhando atualmente na formação de uma nova agremiação, mas garante que muitos governadores e senadores falam dessa possibilidade.

Ele, porém, é enfático ao declarar que o atual "sistema político e os partidos políticos no Brasil faliram", tanto que a sua agremiação, "ganhando ou perdendo (a eleição), tem que se rever, fazer uma autocrítica. Já propus isso no passado. Tentei fazer isso. Muitos de nós já tínhamos percebido que a imagem do partido estava claramente muito desgastada. Temos que fazer um processo de refundação".

Formação

A afirmação do general Theophilo, de abandonar a vida político-partidária, ao fim das eleições deste ano, seis meses após sua primeira filiação para disputar o cargo de governador do Estado, merece uma percuciente avaliação. Primeiro, ela não pode ser analisada apenas como uma insatisfação de alguém com a perda da eleição, por não ser propriamente por isso, embora venha a ser uma derrota, de certa forma, acachapante.

Segundo, pela decepção externada com o caráter da maioria dos políticos, inclusive os ligados ao seu próprio partido. O surgimento do general, praticamente no fim do prazo de filiação partidária para os candidatos às eleições deste ano, registre-se, foi a salvação do PSDB e de parte da oposição cearense, pois sequer candidato a governador tinham para apresentar.

A manifestação do candidato tucano ao Governo do Ceará expressa, lamentavelmente, a realidade do afastamento de muitos dos bons brasileiros do dia a dia da vida partidária e da convivência com a maioria dos políticos nacionais. A sua formação, sobretudo a moral, conflita com a de muitos detentores de mandatos e de pretendentes a tê-los, pois ele pensa no coletivo, tem projeto de servir, diferentemente de tantos quantos aproximam-se da política, ou enfronham-se nela, para obtenção de satisfações de interesses diferentes, ou precisamente pessoais.

A refundação do PSDB, como defende o senador Tasso Jereissati, pode ser uma razão para demover o general da ideia de deixar de fazer política no partido, onde, sem dúvida, hoje só o engrandece. O universo partidário brasileiro está muito carente de quadros, inclusive para as disputas de todos os cargos no Legislativo e no Executivo.

A relação dos candidatos, nesta e nas últimas eleições, é uma prova evidente do afirmado. O PSDB cearense, no caso específico, deveria imediatamente expulsar todos os infiéis e estimular o general a ficar no partido. A depuração que se faz imperiosa, também por conta do libelo que foi a declaração espontânea e sincera do general, pode até ser um marco no projeto de acabar com os cartórios que são a quase totalidade das agremiações hoje existentes no País.

Inquietação

O senador Tasso Jereissati também falou sobre a sucessão presidencial aqui no Ceará, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada no mesmo dia daquela dada ao Valor Econômico. Ao Estadão, dentre outros pontos, ele falou sobre a possível transferência de votos de Lula para Haddad no nosso Estado.

"Essa é uma grande questão. Aqui tem no mesmo palanque do governador do PT (Camilo Santana) 99% dos prefeitos, a máquina e o apoio do governo federal. Eunício é o homem do Temer aqui, e ele está ajudando o Camilo. Qualquer nomeação federal aqui passa por ele. Tem político ligado a nós que, de repente, foi para o lado de lá. O candidato majoritário é PT. Como ele vai fazer? Essa é a pergunta que fica no ar. Com Lula era fácil. Mas, e agora que o Haddad é o candidato oficial? O PT não tem estrutura forte aqui. Quem tem é o grupo dos irmãos Ferreira Gomes. Camilo vai fazer campanha para o Haddad? Fica essa hipocrisia e os petistas fazem vista grossa", declarou.

Nas últimas horas, realmente, já surgiram murmúrios, de pessoas ligadas a Ciro Gomes, questionando o posicionamento do governador Camilo Santana quanto à campanha presidencial. Ele não tem faltado a compromissos considerados importantes à campanha de Ciro, chegando até a sinalizar que é o seu preferido, mas ao mesmo tempo há demonstrado ser um político fiel, portanto apoiador do PT.

Ciristas, com a perspectiva de o cearense ir para o segundo turno da disputa pela Presidência da República, disputando mais arraigadamente com Haddad, beneficiado com a transferência dos votos de Lula, já registrada na pesquisa de ontem, começam a dar demonstrações, nos bastidores, de esboçarem reação contra a postura de Camilo.

A reeleição do governador, salvo uma catástrofe, está garantida já no primeiro turno, como mostram as pesquisas sobre a sucessão estadual, mas a reação dos pedetistas sobre o voto dele em Ciro terá reflexos, se uma solução não surgir de imediato, no curso do próximo Governo.

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