Juraci Magalhães não resiste ao câncer

Escrito por Redação ,
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Ex-prefeito de Fortaleza vinha enfrentando a doença desde 1997, início de seu segundo mandato

O médico Juraci Vieira Magalhães (77) faleceu ontem, às 10 horas da manhã, devido a disfunções múltiplas de orgãos, segundo o boletim médico divulgado pela direção do Hospital São Mateus, onde o ex-prefeito de Fortaleza estava internado desde a última quinta-feira. Há 11 anos, Juraci lutava contra um câncer de pulmão. Na semana que se internou, após exames, foi descoberto que a doença já havia atingido também o fígado.

Segundo o último boletim médico, divulgado na terça-feira, dia 20, antes do falecimento do ex-prefeito da Capital, ele estava sedado e anestesiado, utilizando um suporte ventilatório mecânico e suas funções orgânicas, cardio-respiratórias e renais vinham piorando desde a segunda-feira.

O corpo de Juraci Magalhães foi conduzido pelo carro funerário até a Câmara Municipal de Fortaleza (CMF) onde foi velado durante toda a tarde e, posteriormente, encaminhado ao cemitério Parque da Paz para o sepultamento.

Trajetória

Na história de Fortaleza, Juraci Magalhães foi o administrador que ficou mais tempo (1990-1992 e 1997-2004) no comando do município cearense nos últimos 100 anos. Em primeiro lugar está o coronel Guilherme César Rocha que ficou 20 anos no comando da cidade nos anos de 1892 à 1912 na 1ª República.

Juraci Vieira de Magalhães nasceu em 20 de setembro de 1931, em Senador Pompeu, região do Sertão Central cearense. Saiu da cidade natal por divergências políticas do pai, Antônio Ferreira de Magalhães, para morar em União, hoje Jaguaruana. Em 1949, mudou-se para Recife, onde se formou em medicina (dermatologia).

Juraci, depois de ter regressado, passou no concurso para médico do Instituto da Aposentadoria e Pensão dos Comerciários (IAPC). Casou-se com Zenaide Magalhães com quem teve dois filhos: Magalhães Neto e Nádia Benevides, esposa do ex-deputado Sérgio Benevides, que viria a protagonizar, em 1997, o maior escândalo de corrupção na administração de Juraci: o caso de desvio da merenda escolar, motivo pelo qual Sérgio acabou tendo o mandato de deputado estadual cassado. Em 1988, foi superintendente do extinto Instituto Nacional da Previdência Social (INPS), indicado por Mauro Benevides, na época senador, e um dos primeiros aliados políticos do ex-prefeito.

Ele foi introduzido na política por intermédio do próprio Mauro. Os dois eram amigos e vizinhos no bairro de Fátima. Em 1974, Juraci Magalhães coordenou, em Fortaleza, a campanha vitoriosa de Mauro Benevides ao Senado. Depois, por indicação de Benevides, que presidia o diretório estadual do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), chegou à presidência da legenda na Capital.

Em 07 de janeiro de 2005 se desfiliou do PMDB, partido ao qual era filiado há 39 anos. Na saída, Juraci, bem ao seu estilo de declarações fortes, afirmou que não conseguia “assimilar um partido dirigido por quem não tem voto” quando teve divergências com Eunício Oliveira, presidente regional da sigla, e demonstrava insatisfação com a intervenção da direção estadual no comando municipal da sigla, sob seu controle até aquele momento.

Desempenho eleitoral

Juraci ficou à frente da administração de Fortaleza por 10 anos e 09 meses, ao todo. Durante anos, esteve somente na burocracia do partido quando, em 1988, foi candidato a vice-prefeito de Fortaleza, na chapa vitoriosa, encabeçada por Ciro Gomes, assumindo o poder, os dois, em 1989. Sua indicação foi feita pelo então senador Mauro Benevides, presidente regional do PMDB. Antes, em 1986, havia sido coordenador da primeira campanha para governador de Tasso Jereissati, quando este era do partido.

Eleito vice-prefeito, passou um ano e três meses no cargo, quando assumiu a capital do Ceará, em definitivo, em 02 de abril de 1990, após Ciro renunciar ao mandato para a disputa do Governo do Estado. Poucos meses depois, estes romperam porque Juraci não acompanhou Ciro na decisão de deixar o PMDB para fundar o PSDB.

Nesse período, realizou várias construções, quando em 12 de agosto de 1991, chega a marca histórica de mil obras, sendo a milésima o prolongamento da avenida Desembargador Moreira. Com bastante popularidade, adquirida durante o primeiro mandato, Juraci conseguiu eleger, na eleição seguinte, em 1992 , em 1º turno, o seu secretário de Finanças, Antônio Cambraia.

Nessa época, voltou a clinicar como dermatologista e chegou a anunciar o fim da sua carreira política. Porém, em 1994, já retornara para disputar o Governo do Estado tendo como adversário, seu ex-aliado, Tasso Jereissati. Ele perdeu a peleja para o tucano, que se elegeu com 55% dos votos, contra 37%, melhor desempenho eleitoral do peemedebista fora da capital cearense.

Dois anos depois, foi eleito prefeito da Capital com 63% dos votos no 1º turno, na época, o maior índice registrado nas capitais brasileiras. Seu vice era Marlon Cambraia. No ano em que reassumiu a Prefeitura, foi descoberto um tumor no pulmão esquerdo do ex-prefeito. Mais precisamente em 12 de janeiro de 1997 anunciou o diagnóstico de câncer.

Decadência

Também foi nesse período que denúncias de corrupção começaram a aparecer, como o famoso escândalo da merenda escolar, envolvendo o nome do deputado estadual Sérgio Benevides (PMDB), seu genro.

Três anos depois, foi reeleito, em 2000, com 53,9% dos votos no 2º turno em uma disputa com Inácio Arruda (PCdoB). Juraci permaneceu na Prefeitura até 2004 quando entregou o cargo para Luizianne Lins, em quem havia votado no 2º turno daquela eleição, afirmando ver na petista “a melhor opção”. Luizianne concorreu com Moroni Torgan (DEM), que, na época, era do PFL.

Marcaram a administração de Juraci tanto a popularidade quanto os altos índices de rejeição apontados no seu terceiro mandato, no qual foi marcado escândalos e desgastes políticos. Em 1993 quando entregou o cargo a Cambraia, teve 87% de aprovação. Já nas eleições de 2004 obteve 55% de desaprovação. É tanto que seu candidato, na época, Aloísio Carvalho, ficou em quinto lugar na disputa. O fundo do poço na política para ele, foi quando se candidatou a deputado federal, em 2006, pelo Partido Liberal (PL), obtendo apenas 31 mil votos, ficando somente na 2ª suplência. Nem nesses momentos, Juraci Magalhães perdeu o bom humor. Na época, questionado por jornalistas sobre o motivo da derrota, enfatizou: “faltou voto, meu filho”.
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