Fragilizado após perdas, MDB busca se aproximar do Planalto

Fiel da balança em diversos governos presidenciais, o MDB, agora, procura estratégias para sobreviver politicamente. Reduzindo bancadas e influências, o partido quer perder a pecha de "velho" procurando se reinventar e readaptar os quadros em um País pós-Lava Jato e governado pela direita

Escrito por Wagner Mendes ,

Pela primeira vez em 34 anos de redemocratização, o MDB não tem posto de destaque em âmbito nacional. Sem as presidências da República, do Senado e da Câmara dos Deputados, a legenda se vê com a necessidade de se reinventar para manter posição de influência no cenário político nacional. O partido sofreu duras derrotas no Senado e ganhou posição coadjuvante na Câmara, nas eleições do início deste mês.

Desde o fim da ditadura militar, o MDB tem logrado posição de protagonismo. A eleição indireta de Tancredo Neves, em 1985, já demonstrava a força da legenda naquela época. José Sarney assumiu a Presidência da República, após a morte do presidente eleito indiretamente, e foi um dos nomes mais influentes da sigla até deixar a presidência do Senado, em 2013.

Mesmo sem nomes de força eleitoral para vencer uma eleição presidencial, a legenda assumiu o comando do País desde a redemocratização por três oportunidades: com José Sarney, em 1985, Itamar Franco, em 1992, e Michel Temer, em 2016. Em todos os cenários, na condição de vice na chapa titular.

Emedebistas venceram 17 das 20 eleições para a Presidência do Senado, cujo eleito também comanda o Congresso Nacional. O partido venceu, ainda, nove disputas para chefiar a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados - segundo posto na linha sucessória da Presidência da República.

Espaços

Mesmo derrotado nas urnas, em 2002, quando pediu votos na condição de vice para o candidato tucano José Serra, contra o ex-presidente Lula, o partido, aos poucos, foi conquistando espaços na Esplanada dos Ministérios. Ao integrar o Governo, ganhou postos de comando nas gestões de Lula e Dilma Rousseff, ambos do PT.

Logo depois que deixou o comando do Planalto, com Temer, o MDB perdeu, também, a presidência do Congresso Nacional, que teve na chefia o ex-senador cearense Eunício Oliveira de 2017 a 2019.

Emedebistas perderam a Presidência da República - e, consequentemente, ministérios -, o comando do Senado, e deixaram o protagonismo na Câmara dos Deputados, quando conquistaram apenas a terceira suplência com o deputado federal Isnaldo Bulhões Júnior, de Alagoas. No Senado, a legenda emplacou Eduardo Gomes, do Tocantins, na segunda secretaria - posto modesto para o partido que tem a maior bancada na Casa.

O deputado federal Darcísio Perondi, do Rio Grande do Sul, foi enfático ao ser questionado pelo Diário do Nordeste sobre a situação atual da legenda. "O sentimento nosso, da bancada, é que o MDB inova, muda, ou vai acabar morrendo", admitiu. Ex-interlocutor da linha de frente do presidente Michel Temer com o Congresso, o parlamentar adiantou que o partido vai se aproximar do Governo. "É a tendência", disse.

Perondi defende, no entanto, que o partido eleja um novo presidente da agremiação que represente um novo jeito de fazer política. É um modo, segundo ele, de sobrevivência. "A estratégia é eleição logo, é elegermos um nome novo que não seja da política velha. É fazer uma eleição com presidente que não é marcado para nós reagirmos a essas ameaças de diminuição (de bancada)", defendeu.

Aproximação

O líder do partido no Senado, Eduardo Braga, do Amazonas, destacou à reportagem que a legenda iniciou as primeiras conversas com o Governo Jair Bolsonaro. No último dia 7, ele teve um primeiro encontro com General Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, quando conversaram sobre a relação MDB e Governo.

"Estamos no aguardo do próprio presidente, do chefe da Casa Civil (Onyx Lorenzoni). O Congresso está se instalando, as comissões vão se instalar. Estamos imaginando que o governo vai começar um diálogo conosco", disse.

De acordo com o senador, a legenda, que "nesse momento não pode dizer que é base ou oposição", não vai buscar espaços no Governo, como sempre ocorreu, e quer apenas ter voz no diálogo das principais reformas. "O MDB quer é diálogo para compreender. Qual a proposta da Previdência, da reforma fiscal, tributária? Qual é, afinal, a proposta do ministro (Sérgio) Moro?", reivindicou Eduardo Braga.

Não coadjuvante

O líder emedebista, no entanto, não vê o partido como coadjuvante no atual momento. Ao ser questionado sobre a perda de influência do MDB, depois de não conseguir se manter na Presidência do Congresso, o parlamentar disse que o protagonismo se faz na atuação conjunta da legenda no Legislativo.

"Houve uma disputa política e que nós não fomos bem-sucedidos, mas a nossa bancada saiu das eleições de 2018 com a maior bancada do Senado, com 13 senadores, dos quais sete foram eleitos agora para o novo mandato. Conquistamos essa maior bancada nas urnas e, portanto, a questão do protagonismo se dará pelo exercício do mandato dessa bancada, não se dará pela Presidência do Senado", argumentou o senador.

As mesmas práticas devem se manter, avaliam analistas

Para cientistas políticos, o DEM, hoje com as presidências da Câmara dos Deputados, com Rodrigo Maia (RJ), e do Senado, com Davi Alcolumbre (AP), pode ser o “MDB” do presidente Jair Bolsonaro. O professor da Universidade Federal do Ceará, Uribam Xavier, argumenta que o DEM deve sofrer um processo de “inchaço”, com adesões de parlamentares em busca de influência política. 

As práticas, segundo Xavier, continuam as mesmas, já que houve uma “renovação negativa”. “Mudaram as figuras, as caras velhas, mas a maioria dos que entraram tem um perfil respondendo a processos”, diz. 

O professor Vladimir Feijó, do Ibmec/MG, argumenta que o partido pode ganhar destaque na gestão Bolsonaro pela experiência de Parlamento. “Não sendo bem administrado o Legislativo (pelo PSL), o Governo vai procurar figuras que têm bons trâmites para acelerar os interesses”, avalia — assim como quando elegeu Rodrigo Maia para articular a aprovação da reforma da Previdência. 

A característica governista do partido, segundo Feijó, pode contribuir nesse processo. “O MDB é partido de Governo. Por ser muito amplo, não tem muito rigor ideológico. Tem diretrizes amplas, consegue se amoldar às necessidades de cada Governo”, explica. 

O professor Francisco Moreira Ribeiro, da Universidade de Fortaleza, acredita que a legenda não passará por grandes transformações no modo de fazer política, já que “sempre sobreviveu dessa forma e vai continuar fazendo isso”. Segundo ele, “o MDB sempre foi um partido fragmentado representando interesses locais”, e foi isso que direcionou os rumos e estratégias de poder da legenda nas últimas três décadas.

Candidaturas do MDB a governador em 2018:

Pará, Rondônia, Alagoas, Bahia, Maranhão, Paraíba, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Governadores eleitos:

- Pará: Helder Barbalho
- Alagoas: Renan Filho
- Distrito Federal: Ibaneis Rocha

Lideranças históricas derrotadas em 2018:

- Eunício Oliveira (CE)
- Edison Lobão (MA)
- Romero Jucá (RR)
- Roberto Requião (PR)
- José Fogaça (RS)
- Garibaldi Alves (RN)

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