Faltas a reuniões expõem baixo entrosamento na bancada federal do Ceará

Tem sido escassa a presença de deputados federais a eventos que pretendem debater demandas do Estado. O governador Camilo Santana tenta realizar, nesta terça-feira (11), a primeira reunião com toda a bancada cearense na capital federal

Escrito por Miguel Martins ,
Legenda: Em janeiro deste ano, deputados federais estiveram com Camilo Santana no Palácio da Abolição
Foto: Foto: Natinho Rodrigues

Em busca de alinhar pautas de interesse do Ceará, o governador Camilo Santana (PT) marcou para esta terça-feira (11) a primeira reunião com os 22 deputados federais e os três senadores da bancada federal cearense, em Brasília. Sabendo da dificuldade que tem sido reunir o grupo em terras cearenses, o chefe do Executivo estadual marcou encontro com os parlamentares na residência oficial do Ceará, no período da noite. 

Nos últimos eventos realizados no Estado, a bancada tem se mostrado dispersa, seja em convites do governador ou de entidades que representam prefeitos e vereadores. Na última sexta-feira (7), por exemplo, apenas cinco deputados compareceram à reunião convocada pela Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece), na sede da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), para discutir pautas municipalistas. 

De acordo com parlamentares da bancada, por motivos de conflito de agendas, é quase impossível reunir todo o grupo em debates realizados no Ceará. O coordenador da bancada, deputado Domingos Neto (PSD), por outro lado, diz que posicionamentos ideológicos de seus pares também contribuem para que encontros desse tipo sejam realizados com o um número reduzido de representantes. 

Dos 22 deputados federais e três senadores do Ceará, pelo menos quatro têm alguma relação com o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e são opositores do Governo Camilo Santana. No caminho oposto, 12 fazem parte da base governista de Camilo e são oposição ao Governo Federal. Há, ainda, aqueles que são aliados tanto de um quanto de outro. 

As diferenças ideológicas, segundo Domingos Neto, acabam por inviabilizar reuniões com um quadro qualificado de presenças. No entanto, ele relata que isso não tem impedido que pautas de interesse macro da população cearense sejam discutidas. 

“Realizamos mais de dez reuniões (neste ano). Toda semana tem alguma coisa para ser pautada”, diz ele, destacando que, na maioria das vezes, os encontros ocorrem com ministros da gestão de Jair Bolsonaro. “(Reunir toda a bancada) no Estado é sempre mais difícil. Por isso que o governador vai realizar reunião em Brasília, porque é mais fácil de reunir a maior parte da bancada”, ressalta.

Esvaziamento 

Domingos Neto menciona que, em recente reunião realizada com o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), não eram esperados, por exemplo, parlamentares do PT, do Pros ou do PSL, visto que esses são partidos que fazem oposição ao gestor na Capital. “Eu sempre convido todos, mas compreendo que, em alguns momentos, alguns símbolos políticos impedem que eles se reúnam. Mas isso não é um influenciador em nossas decisões”, afirma. 

No primeiro mandato, o deputado federal Antônio José Albuquerque (PP) justifica a ausência de colegas em reunião realizada pela Aprece e pela União dos Vereadores do Ceará (UVC) na sexta-feira última dizendo que outros eventos estavam ocorrendo na Capital, caso do encontro estadual do PSD, na Assembleia Legislativa, e da visita do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, ao Ceará. “Eu dei preferência a este evento porque sou municipalista, fui prefeito e sei das dificuldades que eles passam”. 

O deputado Leônidas Cristino (PDT) sustenta que a bancada “está bem antenada” a todos os assuntos de interesse da população cearense. Segundo ele, apesar das diferenças partidárias e ideológicas, quando há uma decisão da bancada, todos os membros acompanham. “Agora, temos 22 deputados federais e três senadores, então é difícil reunir todos”, pondera. 

Robério Monteiro (PDT), por outro lado, diz estar acompanhando com preocupação a pouca interação entre o grupo no início da atual legislatura. “Falta um pouco mais de compromisso de todos, colocar realmente o que está acontecendo, mostrar a realidade de Brasília. Falta a bancada se reunir mais para tratar desses assuntos”, opina.

Compromissos 

“A agenda do deputado é extensa. Dizer que, só porque nove estiveram reunidos com o Governo, os demais não têm alinhamento, não está correto”, defende, por sua vez, o deputado Eduardo Bismarck (PDT). De acordo com ele, até o momento, foram realizadas duas reuniões internas da bancada e outras “quatro ou cinco” com ministros da gestão do presidente Bolsonaro. 

Para o pedetista, é praticamente impossível conseguir uma unidade de 100% dos membros de uma bancada que é formada por 22 deputados federais e três senadores. “Cada um tem suas bases, suas lutas. Mas a gente busca votar algumas pautas em conjunto. Isso não quer dizer que 100% pensem igual”. 

Previdência e convênios na pauta

O encontro do governador Camilo Santana (PT) com parlamentares cearenses com atuação no Congresso Nacional deve acontecer, hoje, na residência oficial do Ceará, em Brasília, a partir das 20 horas. De acordo com o convite feito pelo petista, nesta primeira reunião em Brasília, serão debatidos os convênios que o Estado tem com a União, fonte de recursos federais.

Reportagem publicada pelo Diário do Nordeste na última semana revelou que a liberação de repasses de convênios ao Ceará no primeiro quadrimestre de 2019 atingiu o montante mais baixo dos últimos cinco anos – em igual período. 

Levantamento feito pelo Núcleo de Dados do Sistema Verdes Mares, com base nos portais da transparência do Estado e da União, mostrou que o repasse do Governo Federal para o Ceará, por meio de convênios, caiu 71,3% entre janeiro e abril deste ano, se comparado a igual período de 2015.

O Estado mantém 1.746 convênios com a União, no valor total de R$ 2,2 bilhões. Nos quatro primeiros meses do ano, no entanto, foram liberados apenas R$ 29,3 milhões para o Ceará. O valor é 47% menor que o volume de recursos depositado em igual período de 2018.

“Devemos tratar sobre pautas de interesse do Governo em Brasília, como recursos federais e convênios que podem estar ameaçados, como o Cinturão das Águas”, argumenta o deputado federal Domingos Neto. Segundo ele, o tema Previdência Social também deve ser tocado pelo governador. 

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