‘Experiência’ e ‘resultados’ são apostas do governador

Em busca da reeleição, Camilo, candidato do PT, defende ‘continuidade’ de projeto e diz conciliar divergências na base

Escrito por Edison Silva - Editor de Política ,

Quatro anos depois, quais são as razões que o senhor oferecerá ao eleitorado cearense para que ele se disponha a votar no senhor para mais um mandato?

Primeiramente, dizer que nós assumimos um compromisso há quatro anos, com o povo cearense, com algumas diretrizes e com algumas propostas. Eu me lembro muito bem que coloquei: melhorar aquilo que está bom e corrigir aquilo que não está funcionando no Estado do Ceará. Esse foi o meu compromisso com o povo cearense, principalmente (com) o desafio da Segurança Pública à época, e que é um grande desafio, hoje, para o País, e a gente procurou (cumpri-lo) nesses três anos e oito meses que estamos à frente do Governo do Estado, diante de um momento difícil de crise econômica do Brasil. O Brasil viveu uma das piores crises econômicas dos últimos 100 anos. (Diante) De uma crise hídrica que foi a mais longa da história do Ceará, e (de) uma crise política, onde o País passou pelo afastamento de uma presidenta, um descrédito muito grande da política brasileira, então tudo isso exigiu de mim, da minha equipe de governo, um olhar dedicado, criativo, inovador, muito trabalho para superar esse momento difícil do Brasil, e, talvez pela experiência que já tinha de oito anos como secretário do ex-governador Cid, que conhecia a máquina administrativa, a gente arregaçou as mangas e fomos trabalhar. (...) A minha proposta, a disposição que estou colocando o meu nome aqui para o Ceará, primeiro, é pela experiência, pelos resultados que alcançamos em todas as áreas. O Ceará, hoje, é o Estado mais bem equilibrado do País, é o Estado que mais fez investimento público, é o Estado que, do Nordeste, é o único que reduziu a extrema pobreza nos últimos anos, é um Estado que tem muito ainda a ser feito, nós representamos um projeto que está em curso no Estado do Ceará desde a época (que) o governador Cid assumiu o Governo. Queremos dar continuidade, aprofundar, corrigir as questões que ainda precisam ser corrigidas, melhorar onde precisa ser melhorado, mas avançar no Ceará sendo um destaque a nível internacional.

Governador, o senhor já fez referência ao que a sua administração produziu ao longo dos quase quatro anos de governo, mas, quando os adversários disserem que o senhor deixou de cumprir alguns compromissos de campanha, o que o senhor dirá como resposta?

Primeiro, é preciso dizer quais são os compromissos que eu não cumpri. E acredito que (cumpri) quase todos eles. A gente não tinha a dimensão de que iríamos enfrentar um momento tão difícil no Brasil. Tem estado, hoje, que não consegue nem pagar em dia a folha dos seus servidores, tem estado que não fez nem investimento público, ao contrário do Ceará. Nós fomos, durante os três anos do meu governo, o Estado que mais fez investimento público do País. O Estado do Ceará, um estado do Nordeste brasileiro, sofrendo com Seca. Então, além de honrar os compromissos que assumi na campanha, nós superamos todos os desafios que a crise nos impôs aqui no Estado do Ceará. O Ceará, rigorosamente, paga em dia os seus servidores, deu aumento salarial para os servidores, fiz a maior promoção na área da Segurança Pública, com a média salarial do Nordeste para todos os profissionais da área da Segurança, talvez fui o único governador do Estado que deu o piso nacional dos professores da rede pública estadual. Hoje, nós temos a melhor carreira do magistério estadual do País, porque, para mim, a coisa mais importante é valorizar a Educação pública, então, se você for pegar os compromissos que apresentei, que assumi com a população, quase todos foram cumpridos ou alguns ainda estão em andamento. Então, preciso primeiro ouvir a crítica da oposição, e sou uma pessoa que estarei sempre aberto. Acho que um gestor precisa saber ouvir a crítica, ouvir a sugestão, ouvir a reclamação, porque esse é o nosso papel. O nosso papel é o de procurar melhorar a vida das pessoas que estão vivendo no dia a dia dos seus bairros, das suas cidades, das suas ruas, das suas casas. Esse é o nosso papel, e procurar corrigir e melhorar os serviços públicos que são obrigação do Estado atender à população cearense. Mas, se tiver algum ponto específico que a oposição tenha dito que eu não tenho feito, estarei aberto a esse debate.

Isso cabe a ela, no momento dela. Mas o senhor já fez referências à atuação do Governo na área da Segurança, e esse foi o tema, talvez, mais discutido na eleição de 2014. Provavelmente, ainda vai ser um dos temas mais discutidos nesta campanha. O que falhou para que se discuta novamente com tanta intensidade a Segurança Pública?

Esse não é um tema do Ceará, é um tema do Brasil. O Brasil falhou em não enfrentar com coragem, com planejamento, o problema da violência, que começou ali, no eixo Rio-São Paulo, e se espalhou pelo País inteiro. Quando eu sempre disse que o crime ultrapassou as fronteiras do Brasil, era exatamente a necessidade de se construir uma pactuação no Brasil, e que precisava ser coordenada pela União, pelo Governo Federal. Até porque o problema da violência se agravou no Brasil e no Ceará por conta de uma coisa chamada tráfico de drogas, que é uma responsabilidade da União combater. Está lá na Constituição: combate o narcotráfico é responsabilidade do Governo Federal. O Brasil não produz droga, a droga entra pelas fronteiras brasileiras, quem tem que combater a entrada de droga nas fronteiras é a União, é o Exército brasileiro nas fronteiras terrestres, é a Marinha, a Aeronáutica, a Polícia Federal. E qual foi a política nacional que foi construída nessa área? Me mostre qual planejamento feito ao longo desse tempo a nível federal. Eu não recebi um centavo de recursos, nesses três anos e oito meses, para a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Ceará. Um centavo! (...)Então, esse é um tema que precisa ser pactuado e, pela primeira vez, o Governo Federal parece que abriu os olhos para isso. Criou o Ministério (da Segurança Pública), criou o Sistema que eu sempre defendia, porque a Saúde tinha o Sistema Único de Saúde, a Educação tinha um Sistema, com o Fundeb, e a Segurança, que é o tema que mais a população nos cobra no País inteiro, não tinha nada. Agora nós temos um Sistema, que foi aprovado no Congresso Nacional, com fundo de recursos. Há necessidade de chamar os governadores dos estados, pactuar uma política nacional nessa área de combate à violência, rever as leis desse País. Precisa envolver o Congresso Nacional, precisa envolver o Poder Judiciário. (...) Já que o Brasil não tinha um planejamento, nós fizemos aqui. Repito: eu não acredito em nenhuma política pública que tenha resultados efetivos se não houver planejamento.

Outro tema muito discutido na campanha anterior e, sem dúvida, também será nesta, é a questão da Saúde. O Estado falta fazer o que para evitar que se discuta com tanta veemência a questão da Saúde?

A gente faz parte de um projeto que está em curso no Ceará, e esse projeto tem um planejamento também na área da Saúde. É bom lembrar ao cidadão, à cidadã, que todos os equipamentos, hospitais, por exemplo, do Estado, todos eram aqui em Fortaleza. O Estado planejou uma Rede Estadual de Saúde, que levasse o serviço mais próximo à população, porque a partir do momento que eu tenho um hospital ou tenho um equipamento numa região do Interior, desafogo Fortaleza. Então, o Estado criou um hospital na Região Norte, funcionando, o Hospital no Cariri, Região Sul, funcionando, terminei e botei para funcionar um hospital no Centro do Ceará, em Quixeramobim, e já estamos com 30% da obra de um outro hospital na Região do Jaguaribe. (...) É importante a população saber: enquanto tem estados, nessa crise, que têm fechado equipamentos de saúde, que têm reduzido os investimentos em saúde pública, aqui no Ceará nós estamos aumentando, abrindo novas UPAs, novas policlínicas, ampliando serviços nos hospitais cearenses. Sei que ainda tem muitos problemas a resolver, é uma questão, até porque 82% da população do Ceará utilizam o Sistema Único de Saúde, e, para melhorar, fiz questão de implantar em cada unidade o Diagnóstico Cidadão, em que a população avalia o atendimento da unidade. Ou seja, eu quero saber como o pessoal tem sido atendido naquela unidade. (?) Sei que nós precisamos fazer muito ainda para melhorar a Saúde Pública do Estado do Ceará, mas temos feito muitos investimentos, mesmo diante de uma crise no Brasil.

Governador, o senhor já falou também sobre a situação a Educação no Estado do Ceará, reconhecida nacionalmente, mas há de se convir que ainda se falta fazer muito na Educação. Qual é a perspectiva de se chegar próximo do ideal na educação pública cearense?

Eu quero ser governador de novo para que a gente possa ampliar as escolas de tempo integral, que nós começamos. Essa é uma forma de você dar oportunidade e esperança para a juventude cearense, e também uma forma de proteção. É, também, uma ação de prevenção em relação ao problema da violência que a gente enfrenta hoje no Ceará. Nós inovamos em duas áreas importantes na Educação: primeiro, criamos uma coisa inovadora que foram os Centros Cearenses de Idiomas, inéditos no Brasil. Nós oferecemos, hoje, 11 mil matrículas para jovens de escola pública fazerem cursinhos gratuitos de inglês e espanhol, no melhor nível, na maior qualidade que possa existir aqui no Estado do Ceará. (?) Criei um programa pioneiro também no Brasil chamado Avance, em que nós damos uma bolsa de meio salário mínimo por mês para que ele (universitário advindo de escola pública) possa se manter e nunca desista do sonho dele de cursar o Ensino Superior. (?) Na Educação, nós queremos fortalecer a pactuação e o diálogo com os municípios. Das 100 melhores escolas públicas do País, 77 são do Ceará, e isso é um orgulho para nós, cearenses. Independente de partido, de ideologia, o Ceará está dando um exemplo.

O senhor está trabalhando, neste ano, com um Orçamento pouco superior a R$ 26 bilhões. R$ 12 bilhões estão reservados a gastos com pessoal e encargos. O senhor tem mais aí o custeio de uma máquina que tem um peso significativo, tem um déficit no sistema previdenciário de R$ 1,5 bilhão. Acaba sobrando pouco do Orçamento geral do Estado. Esse restante, que prioridade o senhor vai dar para investi-lo?

Primeiro, a sua colocação é importante, porque ninguém consegue fazer nada sem ter dinheiro, então, por exemplo, para eu poder investir em Segurança, Saúde, preciso ter recursos. No Ceará, hoje, esse Orçamento que você falou é o Orçamento de todos os poderes, aí eu tenho que tirar a parte do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público, da Defensoria, e tem o Orçamento líquido do Estado. (...) A minha prioridade é investir naquilo que são os graves problemas da população: Saúde, Segurança, Educação e Infraestrutura, para gerar emprego para as pessoas. Por que eu lutei tanto pelo Hub (aéreo) aqui? Porque Fortaleza tem que aproveitar o potencial que tem. (...) Para você ter uma ideia, nós estamos saindo de oito voos diretos internacionais de Fortaleza, por semana, para 48 voos agora em novembro. Isso significa a visibilidade que nós estamos dando ao Ceará lá fora, conectando o Ceará com o mundo. Isso é mais turista que vem para o Ceará, é mais emprego, é mais renda, esse é o caminho estratégico que nós estamos construindo no Estado do Ceará. E, para fazer isso, tem que ter investimento, é preciso ter recurso, e precisa gerir bem o Estado para poder garantir isso. Tem o déficit da Previdência, tem dificuldades orçamentárias, mas com trabalho, com boa equipe, com planejamento, nós fomos, nesses três anos, e é importante que a população saiba disso, o Estado mais equilibrado do País.

Estamos começando a campanha eleitoral. O senhor tem 24 partidos na sua aliança, tem dois candidatos à Presidência da República. Um deles ainda não está definido, que é o do seu partido, o PT, que a quase totalidade do PT insiste em dizer que o (ex-)presidente Lula é o candidato, mas ele tem as implicações da Lei da Ficha Limpa. Do outro lado, tem o outro candidato já definido, que é Ciro Gomes, do PDT. Até aqui, o senhor conseguiu conduzir essa coisa sem desagradar a gregos nem a troianos, mas agora o senhor terá que tomar uma posição.

São dois grandes homens, dois grandes brasileiros, aliás, acho que é um privilégio meu ter, dentro da minha aliança, dois grandes apoiadores meus, talvez poucos governadores tenham esse privilégio que tenho hoje, e a minha posição é de respeito, respeito aos que são do PDT, que vão defender o nome do Ciro, e aos que são do PT, que vão representar e defender o nome do candidato do PT. O que eu represento hoje é uma coligação. A partir do momento em que você se torna candidato de um conjunto de partidos, eu sou candidato de um conjunto de partidos, e nesse conjunto de partidos vou respeitar as divergências, as opiniões, os candidatos. Portanto, nós teremos dois candidatos dentro da nossa coligação, apoiados por esse conjunto dos partidos.

Dentro da coligação sim, mas e nos palanques específicos?

Teremos os dois candidatos. É um privilégio meu. Poucos governadores terão o privilégio de ter dois apoiadores de peso.

E eles aceitam estar lado a lado, se já se digladiam antes?

Não, acima das divergências, nós temos um projeto para o Ceará, e temos um projeto de Brasil. Você sabe o meu esforço muito grande, defendi a união desses partidos a nível nacional, sugeri até nomes de chapas. Infelizmente, não foi possível. A eleição no Brasil, com toda certeza, terá dois turnos. Dificilmente, teremos só um turno. Então, nós vamos no primeiro turno com essas divergências, respeitando porque representam um projeto para o Brasil, e estaremos, com certeza, juntos no segundo turno, a nível nacional. Quem quer que vá para o segundo turno, estaremos juntos para esse projeto nacional.

Governador, o senhor tem ainda outra dificuldade na sua coligação que é a questão do Senado. Tem um senador oficial na chapa do senhor e tem um senador na outra chapa que também faz parte do bloco, e há restrições a este, no caso, o senador Eunício Oliveira, tanto no PT, que é o partido do senhor, quanto no PDT, que é o partido do outro candidato. Como compatibilizar essas divergências?

Acho que respeitando a decisão da maioria. Divergências sempre existirão, faz parte da democracia. Por exemplo: eu tive divergências também na minha própria candidatura dentro do PT quatro anos atrás, então, há divergências dentro do meu partido, há divergências dentro do PDT. Importante é que há uma pactuação. Houve uma decisão democrática tanto do PT como do PDT, a decisão foi oficializar o nome do ex-governador Cid, que é um grande nome, um ex-grande governador, para mim também é um privilégio ter ao meu lado, na minha coligação. (...) E, por outro lado, nós decidimos apoiar, e eu, particularmente, já declarei isso, o senador Eunício Oliveira, do MDB, que faz parte de outra coligação. Por que isso? Porque há mais de um ano eu procurei o senador, nos aproximamos, procurei pedir apoio a ele para o Estado do Ceará, tínhamos vários projetos enterrados em Brasília, financiamentos que o Estado podia obter emperrados, e ele ajudou a destravar, porque eu não faço política pensando só em mim ou no meu partido, faço política pensando no povo do Ceará, que precisa de recurso, para poder investir em Segurança, em Saúde. (...) O senador Eunício ocupou um dos mais importantes cargos nesse País e, ao longo desse tempo, tem ajudado o nosso Estado. E isso se transformou numa parceria política, nesse momento, e que agora eu estou apoiando como segundo senador o nome do senador Eunício Oliveira, mesmo respeitando divergências.

Governador, nós vamos ter uma campanha decente no Estado do Ceará?

Espero que sim. O eleitor espera de todos nós, candidatos, primeiro, respeito. Segundo, o debate de ideias e propostas. Eu sempre tive a minha linha de conduta, ao longo da minha vida pública, de sempre respeitar isso. Espero que a gente possa ter, ao longo desses próximos quase dois meses de campanha, respeito à população, respeito ao cidadão, debater ideias sem oportunismo, sem discurso fácil, mas que a gente possa fazer o bom debate, a boa política. O povo já está tão desesperançado na política a nível nacional, que é importante que, no Ceará, a gente possa dar o exemplo de que é possível fazer a política decente, a política de ideias, de propostas, e que a população possa avaliar.

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