Em eleições mornas, Tianguá e Irauçuba definem novos prefeitos

Domingo tranquilo nos dois municípios terminou com vitórias de Dr. Luiz (cassado em 2018) e Geraldina Braga, respectivamente. Para corrida eleitoral de 2020, resultados foram positivos para grupo político do PSD

Escrito por Flávio Rovere, de Tianguá ,
Legenda: A abstenção em Tianguá foi maior que nas eleições anteriores. Eleitores relatavam desconfiança ao longo do dia
Foto: Foto: Thiago Gadelha

Três anos depois, a população de Tianguá repetiu neste domingo (27), nas urnas, o resultado que deu início à sequência de embates políticos e jurídicos que levou o município à incomum situação de, em um curto espaço de tempo, ter quatro gestores diferentes no comando do Executivo.

Eleito em 2016, Luiz Menezes de Lima (PSD), o Dr. Luiz, assumiu por força de liminar, mas foi afastado, no ano passado, por entendimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre crime de abuso de poder cometido ainda na eleição de 2008, que o tornou inelegível. No domingo, foi reconduzido ao poder por 20.268 tianguaenses, 51,78% dos votos válidos, contra 16.923 votos (43,24%) de Valdeída Azevedo (PDT), 1.135 (2,9%) de Haroldo Aragão (PT) e 814 (2,08%) de Zé Terceiro (Patriota).

Ainda com a apuração inconclusa, mas com vantagem que já tornava impossível uma virada por parte da adversária Valdeída Azevedo, Luiz Menezes chegou ao comitê em um barulhento cenário que o aguardava, mesclando fogos de artifício, carros de som e eleitores efusivos, que disputavam a atenção e o contato do prefeito eleito, no letreiro que marca a entrada da cidade. "Eu vou responder o carinho desse povo com muito trabalho, muita responsabilidade e, acima de tudo, com carinho também", disse.

Luiz deve ser diplomado no dia 11 de novembro, após ter prestação de contas analisada pelo Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE). "Assim como respeitamos o povo, o povo devolve a gente ao lugar da gente. Esse é um recado para os políticos de Tianguá, para que saibam fazer política com o povo e para o povo".

Com eleições marcadas pelo TRE-CE em 17 de setembro, os candidatos tiveram pouco tempo para preparar e realizar campanha, principalmente a adversária Valdeída Azevedo, que, de vice, foi alçada à cabeça da chapa após Regildo Aguiar (PP) ter o registro de candidatura indeferido.

"Meu nome foi cotado faltando 15 dias apenas para as eleições", disse a esposa do ex-prefeito Jean Azevedo, presidente municipal do PDT, tornado inelegível por abuso de poder econômico no pleito de 2016, no mesmo processo que tirou da prefeitura José Jaydson Aguiar (PTB), vice de Jean em 2016 e vencedor da eleição suplementar de junho do ano passado. Durante a campanha, Valdeída chegou a contar com o apoio de nomes como o deputado estadual Queiroz Filho (PDT).

Assim como em Irauçuba, que elegeu Geraldina Braga (PSD) com 58,65% dos votos também em eleição suplementar realizada nesse domingo, o resultado em Tianguá amplia o leque de influência do grupo político capitaneado pelo ex-governador Domingos Filho, presidente estadual do PSD, e pelo filho e deputado federal Domingos Neto, que tem se movimentado para atrair prefeitos com vistas à corrida eleitoral até 2020.

"Espero que com a segunda vitória dos candidatos do partido, os adversários se convençam da necessidade de deixar os eleitos trabalhares pelo desenvolvimento e crescimento dos municípios", disse Domingos Filho após o resultado. Na eleição suplementar, Dr. Luiz também teve o apoio do deputado federal Júnior Mano (PL).

Desconfiança

A festa da vitória comandada pelos eleitores mais fiéis do eleito contrastou com o clima de pouco envolvimento visto em Tianguá nos últimos dias. O clima de descrédito do tianguaense no cenário eleitoral já era perceptível desde a reta final da campanha, que tinha quatro postulantes ao comando do Executivo municipal (desde que o candidato do MDB, Valfrido Fontenele, retirou a candidatura em apoio a Valdeída), mas, de fato, apenas dois nomes com poderio político para disputar votos em quantidade que pudesse levá-los à Prefeitura.

Legenda: A festa da vitória de Dr. Luiz contrastou com o pouco envolvimento de eleitores com o pleito nos últimos dias
Foto: Foto: Thiago Gadelha

Se, em anos anteriores, o amarelo, que representa o grupo de Jean Azevedo, e o azul, com o qual se vestem os apoiadores de Luiz Menezes, predominavam na cidade como um bom termômetro da disputa, os dias que antecederam o pleito de ontem mostravam uma Tianguá pouco movimentada e dispersa em cores diversas, a não ser nos atos de campanha mais discretos que a população presenciou na história recente. Os 7.625 eleitores que deixaram de ir às urnas (15%) foram um marco em comparação com as eleições anteriores.

"O pessoal não veio muito pra rua. E olha que Tianguá é sempre muito movimentado. O pessoal está desconfiado, porque uma cidade que passa por três eleições (em três anos), é realmente pro povo estar desconfiado", disse o técnico em radiologia Magela Teixeira, 45, que foi votar, apesar da desconfiança.

Ainda pela manhã, com as ruas mais vazias do que de costume para um dia de eleição, o comerciante Antônio Martins, 46, já previa um alto índice de abstenção. "Com certeza vai faltar gente. Muita gente já me falou que não vinha votar. Principalmente os idosos, que não são obrigados".

Ocorrências

O clima de tranquilidade que cercou a eleição suplementar de Tianguá também foi refletido no número de ocorrências. "Foi relativamente tranquilo, sem nada mais gravoso. Tivemos apenas um TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência) e três situações para averiguação posterior de possíveis crimes eleitorais, por compra de votos. Indícios, ainda vamos apurar", disse o delegado da Polícia Federal Francisco Martins, que reforçou os trabalhos de fiscalização durante o final de semana.

Legenda: A tranquilidade nas ruas de Tianguá, ao longo do dia, também teve reflexos no baixo número de ocorrências
Foto: Foto: Thiago Gadelha

Eduardo Braga, juiz eleitoral de Tianguá, corroborou com a avaliação. "A eleição foi tranquila comparada com os anos passados. Tivemos algumas ocorrências, em virtude de algumas aglomerações de pessoas com vestimentas padronizadas, o que é vedado nesse dia de eleição, mas as polícias Militar e Civil atuaram efetivamente, dispersando. Tivemos também algumas situações de boca de urna, mas, fazendo um balanço geral, foi uma eleição muito tranquila".

De acordo com o TRE-CE, o pleito em Irauçuba também ocorreu de forma tranquila e não houve nenhuma substituição de urna eletrônica. Em Tianguá, apenas uma troca foi necessária. Geraldina Braga, eleita, obteve 7.894 votos dentre os mais de 13 mil eleitores de Irauçuba. A candidata Cleia (Podemos) ficou em 2º lugar, com 40,06% dos votos.

E agora?

Após a diplomação, no dia 11 de novembro, Luiz Menezes terá pouco mais de um ano de mandato para cumprir promessas de campanha. O período é curto, mas o coloca na frente da corrida eleitoral de 2020, quando os brasileiros irão às urnas em 4 de outubro para mais uma eleição. 

Prioridades

Dr. Luiz prometeu que vai realizar um reordenamento urbano na cidade e trabalhar para concluir as obras do viaduto da BR-222, na entrada de Tianguá, tanto realizando a drenagem do entorno como buscando recursos por meio do vice, Alex Anderson da Costa (PSDB), ex-assessor do deputado Júnior Mano. “Vamos ter um vice que vai estar lançado em Brasília”.

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