Derrotados pouco ou nada agregarão

Diferente das coligações no primeiro turno, agora, novos apoios aos dois candidatos muito pouco influenciarão

Escrito por Edison Silva - Editor de Política ,

Luizianne Lins (PT) e Heitor Férrer (PSB) estão fora de qualquer diálogo ou atuação neste segundo turno da disputa pela Prefeitura de Fortaleza. Na edição de sábado, véspera da votação do primeiro turno, já antecipávamos o comportamento dos dois, bem como afirmávamos ser mínima a influência dos prefeituráveis derrotados no processo eleitoral, no sucesso de qualquer dos dois postulantes: Roberto Cláudio (PDT) e Capitão Wagner (PR), nesta segunda parte da disputa.

Os apoios anunciados não têm outro efeito, senão o de ser simbólico, principalmente pela incapacidade de todos eles (vencidos) de conduzirem os votos que tiveram no primeiro domingo deste mês. Institucionalmente, nada agrega ao candidato, nesta etapa da disputa, ter mais ou menos apoiadores, diferentemente do primeiro momento da campanha. Agora, todos têm o mesmo espaço na propaganda eleitoral, sendo tratados com pesos iguais.

Heitor e Luizianne sequer conseguiram eleger um vereador em Fortaleza. Inexpressiva foi a votação dos candidatos à Câmara Municipal da coligação do PSB com a REDE. E Luizianne contabilizou a derrota do vereador diretamente a ela vinculado: Ronivaldo Maia.

As reeleições de Guilherme Sampaio e Acrísio Sena, quando muito podem ter sido beneficiadas pela legenda, pois ambos têm apoios e ajudas fora do âmbito restrito do PT de Luizianne. Contudo, por certo, tanto Roberto quanto Wagner não gostariam de tê-los fazendo campanha contra eles, tão-somente pela questão da simbologia.

Influente

Politicamente, para ambos (Luizianne e Heitor), ausentarem-se da continuidade da disputa pela Prefeitura resultará em prejuízos incalculáveis para suas pretensões futuras. Heitor já conhece bem essa realidade, quando no pleito de 2012, tendo conseguido uma expressiva votação, bem perto do segundo colocado no primeiro turno (Roberto Cláudio), isolou-se do processo. Sua votação para retornar à Assembleia minguou.

Quanto a Luizianne, só o futuro vai mostrar. Sua votação em Fortaleza para deputada federal não foi a esperada, embora tenha sido a mais influente liderança petista na defesa da candidatura de Elmano de Freitas à Prefeitura da Capital, em 2012. Ele também, em relação à votação de prefeito, foi muito pouco sufragado em Fortaleza para deputado estadual em 2014, elegendo-se em razão dos votos da coligação.

A maioria dos petistas, independentemente da posição oficial do partido na Capital, votará em Roberto Cláudio levada pelo governador Camilo Santana (PT), entusiasta da candidatura do prefeito à reeleição, explicitamente, desde quando começaram os primeiros movimentos de formação de alianças e definições de nomes.

Camilo, sem as amarras do primeiro turno, pela participação de Luizianne no embate, vai estar nos principais eventos da campanha e cuidar das acomodações políticas no Governo, para estimular o trabalho de persuasão dos eleitores que votaram em Luizianne, por petistas com vinculações aos diversos bairros da Capital.

Acordos

Nessa perspectiva não se deve olvidar que Acrísio Sena foi do secretariado de Camilo, e para lá pode voltar garantindo vaga para o suplente Ronivaldo Maia na Câmara. Candidato à reeleição, como se supõe, o governador tem um largo cobertor para proteger petistas com perspectivas nos legislativos estadual e federal, e, embora com a cautela necessária para deixar os indesejáveis distantes do palanque do prefeito, pelo temor de contaminação, trabalhará os acordos políticos comuns em situações como as de agora. Com políticos ligados ao PRB e PSB, Camilo poderá agir de igual modo.

Capitão Wagner peregrinou pelos mesmos caminhos perseguidos por seu adversário. Em desvantagem por não contar com apoiadores que o ajudem na empreitada da conquista simbólica das alianças com os adversários do primeiro turno. Ele próprio disse ter telefonado para Luizianne, mas ela não o atendeu nem retornou a ligação.

Ele falou com Ronaldo Martins e procurou o deputado federal Danilo Forte, presidente estadual do PSD, mas ainda não obteve resposta satisfatória, e talvez por isso, por ter de pessoalmente cuidar dessa tarefa, esteja dizendo, na propaganda eleitoral iniciada ontem, que seus únicos padrinhos políticos são seus pais, apresentados na televisão.

Calamidade

A grande maioria dos prefeitos eleitos no último domingo, no Ceará, receberá as respectivas prefeituras em estado de calamidade, apesar do expressivo volume de demissão de trabalhadores, contratados para ajudarem na reeleição dos atuais governantes ou na eleição de seus candidatos. A exceção de uns 30 municípios, quase todos os demais estão em situação falimentar, ou pré-falimentar, pelo excesso de gastos com pessoal e a redução dos repasses federais obrigatórios e voluntários. O Fundo de Participação dos Municípios é a principal fonte de recursos de aproximadamente 90% das prefeituras do Ceará.

Ainda no primeiro semestre deste ano, o Diário do Nordeste publicou um trabalho do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) mostrando os gastos de todas as 184 prefeituras do Estado com a folha de pessoal, onde mais de um terço delas estava gastando além do limite estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal, quer em razão da queda das receitas, quer em face de contratações políticas, como ocorre, com frequência a cada proximidade de eleição. Por qualquer razão tenha sido o inchaço, agora, passada a disputa municipal, a redução da folha terá que ser feita, também pela falta de recursos para honrar os compromissos com seus dispêndios. Serão milhares de demitidos no Estado todo.

Não há como negar a influência da crise econômica nacional no empobrecimento dos municípios e dos Estados. Os governos Federal e Estadual, com escassos recursos, limitaram as transferências voluntárias, única fonte de investimentos na quase totalidade das cidades. Sem o dinheiro extra, quase nenhuma grande obra foi executada por prefeituras.

Mas, apesar dessa limitação, e guardando as honrosas exceções, está saindo, talvez, com o resultado gerado nas urnas no último domingo, a pior leva de prefeitos que as cidades cearenses experimentaram, embora alguns, onde o eleitorado tenha demonstrado ser desavisado, ainda tenham ficado para continuarem penalizando as cidades.

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