Derrota de Eunício gera dúvida sobre futuro do MDB no Ceará

A ressaca do resultado eleitoral ainda causa silêncio na maioria dos líderes da sigla emedebista no Ceará. O clima é de reflexão sobre o que deu errado em uma eleição cuja vitória era considerada certa

Escrito por Letícia Lima , lima leticia.lima@diariodonordeste.com.br
Legenda: Na Capital, Eunício Oliveira saiu com uma grande desvantagem e não conseguiu reverter a votação no Interior do Estado

Silêncio dos emedebistas um dia após a derrota de Eunício Oliveira (MDB), na tentativa de reeleição ao Senado, deixa no ar a dúvida sobre quais os rumos do partido e do grupo político no Ceará. Ontem, o dia foi de discrição entre correligionários do presidente do Senado. Como o emedebista vai manter fortalecida a sigla que comanda desde 1998? A hora, dizem lideranças do MDB, é de fazer uma "análise profunda" dos erros e acertos. Outros apontam as divergências no grupo governista quanto ao apoio a Eunício como uma das explicações para a derrocada dele.

Há duas semanas, o Diário do Nordeste publicou reportagem mostrando que, apesar da aliança de Camilo e Cid com Eunício, PT e PDT liberaram seus filiados no segundo voto ao Senado. Candidatos do PSOL e até do PROS receberam apoio de membros da base governista. A orientação dividiu lideranças das duas legendas e gerou turbulência no núcleo governista.

O ex-governador Ciro Gomes, uma das principais lideranças do PDT no Estado, abriu a divergência em relação ao acordo. No último domingo (7), em Fortaleza, ele afirmou, inclusive, que tinha votado no PSOL para a segunda vaga ao Senado. Ciro é um dos mais críticos ao MDB e chegou a chamar Eunício de corrupto durante a campanha presidencial.

Deputado estadual reeleito, Leonardo Araújo (MDB) concorda que as divergências dentro do grupo governista influenciaram na derrota de Eunício. Segundo ele, aliados do prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), "trabalharam contra o senador".

Avaliação

Já o deputado estadual Walter Cavalcante (MDB) preferiu não opinar sobre a aliança, mas cobrou uma "avaliação" interna do partido. "A gente tem que fazer uma análise profunda para corrigir o que está errado, mas tem que ter uma reflexão. Tem que ter mudança, chamar mais gente para o partido", sugeriu.

O parlamentar, no entanto, ressalta que o MDB sai dessas eleições como a segunda maior bancada na Assembleia Legislativa. Para ele, todo resultado eleitoral deve ser respeitado. "O senador Eunício trouxe recursos para o Estado, mas é aquela história: o povo é sábio. É uma mudança radical no Brasil todo, no Senado, as bancadas diminuíram", observou. Nacionalmente, o MDB foi o mais atingido pela revolta das urnas.

Aliados mais próximos evitaram se expor, mas nos bastidores o que se comenta é que Eunício cometeu um erro "estratégico" ao privilegiar aliados próximos.

Vida pessoal

Em nota, Eunício disse respeitar o resultado. "O voto é a forma como o povo se manifesta nas democracias. Foi a partir das urnas que os brasileiros, e os cearenses, demonstraram os anseios de mudança. Recebo com reverência e respeito essa determinação pelas regras democráticas, pelas quais lutei. Agradeço aos 1.313.793 cearenses que seguiram confiando em mim. Recolho-me agora à vida pessoal".

Opinião

Revés traz prejuízos

Para mim foi uma surpresa. O senador Eunício Oliveira é um parlamentar que tem ajudado o Ceará e poderia ajudar muito mais se ele tivesse sido reeleito, abria a possibilidade de ele voltar a ser presidente. Com isso, quem ganharia era o Ceará, porque o presidente do Congresso tem muita força lá em Brasília. Significaria mais uma forma de ajudar o Estado que precisa tanto de investimentos públicos.

Camilo Santana
Governador

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