Deputados alertam para riscos de obras inacabadas da Transposição

Governo do Estado admite preocupação com o início do bombeamento das águas do São Francisco, marcada para o dia 30, com as obras do Cinturão das Águas inacabadas, mas diz que é possível a operação ser iniciada

Escrito por Letícia Lima , leticia.lima@verdesmares.com.br
Legenda: Obras da Transposição do Rio São Francisco, em Mauriti, município situado no Sul do Ceará
Foto: Foto: Antonio Rodrigues

O início do bombeamento das águas da Transposição do Rio São Francisco para o Ceará, anunciado para o próximo dia 30, está rodeado de incertezas. Sem previsão de recursos federais para conclusão do Cinturão das Águas (CAC), canal que vai transportar o "Velho Chico" no Estado, o Governo cearense cogita usar o próprio pessoal para corrigir eventuais problemas durante a operação. Deputados que acompanham a obra alertam, porém, para os riscos desse cenário.

O trecho "emergencial" de 53 km do CAC, que é o caminho por onde a água do São Francisco vai percorrer no Ceará, está com 98% das obras prontas. Desde fevereiro, o Estado não recebe verbas federais para concluir os 2% que faltam. O Governo estadual calcula que são necessários R$ 128 milhões, deste valor, R$ 41 milhões seriam para pagar as dívidas com as empresas responsáveis pela obra.

O problema é que até agora não há previsão de quando nem de quanto do dinheiro, de fato, vai ser liberado. No início do mês, o Ministério do Desenvolvimento Regional informou que o Governo Federal autorizou pagar R$ 97 milhões, mas nada foi liberado.

Apesar das incertezas, o secretário de recursos hídricos do Estado, Francisco Teixeira, diz que as águas do São Francisco conseguem ser transportadas pelo Cinturão das Águas, porque o "grosso" da obra está pronto. Porém, ele cogita usar a equipe da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) para reparar eventuais falhas. Isso porque falta complementar o Cinturão das Águas, por exemplo, com obras de proteção de talude, drenagem, fazer a limpeza de bueiros, principalmente, para o período chuvoso de 2020. E, sem receber dinheiro, como já estão, as empresas paralisam os trabalhos.

"Normalmente, a Cogerh entra para operar quando a obra está pronta, mas, caso não venha dinheiro, vamos usar a estrutura da Cogerh, para fazer a água caminhar. Se tiver vazamento, se aparecer outro problema provisoriamente, fazer algum tipo de correção, e com a obra dentro. Vamos ter que partir para uma operação mais delicada", avalia Teixeira

Riscos

O secretário admite preocupação se o Estado tiver que usar essa alternativa, caso as águas do "Velho Chico" comecem a ser bombeadas antes do Cinturão das Águas ser totalmente concluído. Mas, para o presidente da Comissão Especial de Acompanhamento das Transposição na Assembleia Legislativa, deputado Guilherme Landim (PDT), esse é um risco muito alto.

"Porque o que está faltando para terminar a obra são trechos de proteção. Se não tiver nenhuma empresa, quando as chuvas grandes vierem e tiverem danos no canal, quem vai reparar? É um risco pro Governo do Estado. Não podemos tratar de uma obra como se estivesse falando de um prédio de posto de saúde, quando dá vazamento, manda um pedreiro lá e tapa", alertou.

Após visitas à obra, Landim constatou junto aos técnicos que o CAC não teria condições de receber as águas, hoje, tanto é que a Comissão aprovou um requerimento, que foi enviado à Secretaria de Recursos Hídricos, nesta semana, pedindo esclarecimentos sobre a real situação do Cinturão.

Na semana passada, Guilherme Landim e uma comitiva de deputados integrantes da comissão visitaram o ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, para pressionar por mais recursos. No entanto, ele voltou sem muitas expectativas.

"O ministro não tem força sozinho. O recurso está empenhado, mas para que ele apareça precisava vir diretamente da Casa Civil, da Presidência da República e do Ministério da Economia. Se não houver mobilização da bancada federal cearense para cobrar de forma incisiva, o ministro disse que não tem como precisar quando esse recurso vai chegar, nem se o recurso chega".

Landim frisou, ainda, que o bombeamento das águas do Eixo Norte, justamente o que vai beneficiar o Ceará, deve começar no próximo dia 30, mas que a água vai demorar meses para chegar ao Ceará.

"A ligação dessas bombas no dique de Salgueiro até chegar ao reservatório de Jati é complexa. Precisa encher o dique de Salgueiro que vai demandar 45 dias, depois vai encher o reservatório de Negreiros e depois vai encher o de Milagres. Se tudo ocorrer sem nenhum problema, a água vai começar a chegar a Jati, em março. Se tiver qualquer problema, tem que abortar a operação e começar de novo".

Deputados do Ceará e Governo do Estado debatem a capacidade do Cinturão das Águas de receber o fluxo do Rio São Francisco no Ceará, sem a conclusão das obras. Tema gera preocupação com início de bombeamento das águas

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