Debate eleitoral deixou de fora temas importantes

Especialistas apontam que em Educação, Segurança e Economia, por exemplo, os assuntos discutidos pelos candidatos ficaram aquém da complexidade da situação brasileira

Escrito por Renato Sousa ,

O Brasil vai às urnas hoje escolher o próximo presidente da República após uma campanha polarizada. O vencedor da disputa no segundo turno pegará um País que necessita de reformas e ajustes estruturais para retomar o crescimento econômico e dar à população respostas concretas às demandas urgentes como Saúde, Educação e Segurança, por exemplo.

E o desafio do novo chefe do executivo federal será maior, segundo especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste, porque durante a campanha eleitoral o debate sobre grandes temas nacionais ficou aquém do desejável.

Segurança é um dos temas cuja importância no início da campanha era consensual. Ele é um dos apontados como prejudicado no debate nacional. "A gente vê os dois programas de governo marcados pela falta de boas informações", explica Luís Fábio Paiva, pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará.

Segundo o especialista, a mediocridade marcou a discussão sobre segurança pública na campanha deste ano. Temas realmente relevantes, segundo ele, passaram longe da pauta de discussão. "Precisávamos discutir uma reforma importante das nossas polícias. O sistema de segurança pública, da maneira como é concebido, focado apenas nos Estados, sem pensar o papel dos municípios e da Federação é muito problemático para o País", detalha.

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Aprofundamento

Na área da Educação, o problema persiste. "Pouca coisa foi discutida de maneira correta, propositiva durante toda campanha", declara Maria Malavasi, professora do Departamento de Educação da Universidade de Campinas (Unicamp). Para ela, há ideias que se repetem, mas não se aprofundam.

A ampliação da educação em tempo integral é uma delas. "Muitos candidatos do passado fizeram essa promessa. É preciso dobrar a quantidade de professores, prédios, equipamentos... Isso significa dobrar os recursos. O Brasil não tem disposição política para fazer um investimento tão grande na área da Educação", diz.

De acordo com ela, a pauta da educação resumida a "kit gay" e "ideologia de gênero" é muito restrita diante da complexidade do tema. "Representa o quanto nós ignoramos questões básicas para a sociedade democrática existir", lamenta.

A falta de detalhes que marcou o debate também preocupa Giacomo Balbinotto, economista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). "Temos visto vários ataques pessoais, mas questões que são importantes não estão sendo discutidas", lamenta. Para ele, debates como o fortalecimento das agências reguladoras acabaram sendo negligenciados. E elas são fundamentais para o desenvolvimento do País, complementa o professor.

"Em termo de competitividade institucional, no sentido de abrir e fechar negócios, cumprir contratos, o Brasil encontra-se em uma situação fragilizada, muito abaixo da média mundial", explica. E o economista avalia que nenhum dos presidenciáveis deu a devida atenção a um tema tão importante.

Gerson de Moraes, cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP), avalia que as propostas de Haddad para geração de empregos apelam para o saudosismo de gestões e momentos passados. Falta explicar como fazer a retomada na prática.

Já Bolsonaro, para ele, tem um programa mais simples, como a ideia de criação da carteira de trabalho "verde e amarela", que não garantiria todos os benefícios de quem tem o contrato regido pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e o combate à corrupção como forma de garantir maior quantidade de recursos para investimentos.

Ele encerra dizendo que, apesar de importante debater os temas no período eleitoral, é difícil levar qualquer um dos programas a sério. "Sinceramente, alguém no Brasil acredita em proposta de político?", questiona.

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