Camilo e Bolsonaro usam redes para falar com o cidadão

A comunicação dos governantes por meio de canais digitais diretamente ao eleitor é uma tendência que deve se aprofundar nos próximos anos no País, dizem especialistas

Escrito por Redação ,

Eleição do presidente Jair Bolsonaro desmistificou algumas ideias em relação às campanhas eleitorais, entre elas a de que, para se eleger, o candidato precisava ter o maior tempo de propaganda no rádio e TV.

Com apenas oito segundos na TV aberta, o Twitter se tornou seu palanque: o discurso da vitória foi feito por meio da plataforma. O anúncio dos novos ministros também.

Sua campanha, pautada principalmente nas redes sociais, deu destaque a um novo formato no qual os políticos interagem diretamente com o público.

As informações oficiais, muitas vezes, são dadas em "primeira mão" para a população por meio dos canais oficiais do presidente.

Para Wilson Gomes, professor de Comunicação e Política da Universidade Federal da Bahia (UFBA), esse novo cenário é uma tendência. Durante muito tempo, os veículos de imprensa cumpriram o papel de mediadores, mas com as redes sociais, o Poder Legislativo descobriu que pode comunicar-se diretamente.

"Nesse novo cenário, o político não tem ali o confronto jornalístico e isso é uma vantagem enorme para ele", detalha Wilson Gomes. Bolsonaro compareceu a apenas um debate durante o período eleitoral, mas a atuação no ambiente virtual lhe rendeu uma imagem conhecida e deu uma boa base para disputar.

Para a professora de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Políticas, Eleições e Mídia (Lepem), Monalisa Soares, Bolsonaro entendeu a importância das redes sociais e fez uma comunicação eficaz. "Ele conseguiu, no seu percurso, identificar alguns anseios chaves que a população foi sinalizando ao longo do tempo e projetou nele a imagem de alguém que poderia resolver esses anseios".

Estado

A tendência de mudança nas plataformas de comunicação tradicional também é vista pelos cearenses por meio do governador Camilo Santana. Ainda no primeiro mandato, o chefe do Executivo realizava 'lives' semanais em sua página no Facebook, com dia e hora marcados, para falar de assuntos da gestão pública.

Em seu novo mandato, que começou já agitado com uma crise na Segurança, os anúncios oficiais em sua página se tornaram ainda mais constantes. Há menos de dez dias, foi através do Facebook que Camilo anunciou oficialmente um pacote de medidas emergenciais para o Estado.

Um vídeo com o título "Mensagem ao Povo Cearense", no qual Camilo afirma que endurecerá cada vez mais contra o crime, e que o comando é do Estado; além da declaração que o esquema de segurança está reforçado, rendeu ao governador 162 mil visualizações; 7,2 mil curtidas e 3.475 compartilhamentos, o maior número de interações desde que tomou posse em seu segundo mandato.

Foi também no Facebook, por meio de um vídeo curto, que Camilo anunciou a nomeação imediata de 220 novos agentes penitenciários e 373 novos policiais militares para atuação nas ruas.

Interação

De acordo com Monalisa, essa é uma estratégia com o objetivo de projetar a ideia de que, por estarem nas redes sociais, eles são mais abertos e disponíveis para ouvir as demandas e anseios da população.

Contudo, os canais continuam sendo apenas de anunciação para o público, e não de interação. "As pessoas fazem perguntas, levantam questões, mas eles não respondem muito. Não é um canal de diálogo. A população espera pelo menos ser ouvida e que em algum momento ele coloque o que elas estão questionando", explica Monalisa.

Para a pesquisadora, o governador do Ceará cumpre os dois papéis: atua nas redes sociais, mas mantém o contato com a imprensa, ou seja, joga com os dois cenários.

Já o presidente Jair Bolsonaro tem dado prioridade às narrativas por meio da comunicação direta com o eleitorado. A medida, diz ela, pode trazer prejuízos ao debate público já que não há o questionamento da imprensa. A tendência, no entanto, é que as ferramentas digitais continuem a ser usadas pelos representantes.

"É uma questão irreversível. Eles vão passar a usar cada vez mais esse expediente e quem está mais habituado à forma tradicional, vai mudar. É algo dado, as pessoas vão continuar tendo acesso às redes sociais", justifica Soares.

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