Sigilo da delação de Palocci cai e afeta campanha de Haddad

Rivais aproveitaram a retirada do sigilo das denúncias feitas pelo ex-homem forte de Lula e Dilma para atacar o PT

Escrito por Redação ,

A 5 dias do primeiro turno, o presidenciável do PT, Fernando Haddad, se depara com um novo desafio: além de deter o avanço de Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas, ele terá de dar explicações sobre as denúncias citadas na delação premiada do ex-homem forte de Lula, o ex-ministro Antonio Palocci. Ontem, os adversários já começaram a atacar o partido de Haddad. Na próxima quinta, haverá o último debate televisivo, na Globo.

"Que o PT quebrou o País para ganhar a eleição nós já sabíamos. A delação de Palocci revela que a trama criminosa para a perpetuação do partido no poder é muito pior do que se pensava. Eles não têm limites. É nosso dever trabalhar para impedir que voltem ao poder", tuitou Geraldo Alckmin (PSDB).

Marina Silva (Rede) também se manifestou sobre a quebra do sigilo da delação premiada de Palocci, determinada pelo juiz da Lava-Jato, Sérgio Moro.

"Há quatro anos eu digo que a eleição de 2014 foi fraudada com dinheiro de corrupção. A delação de Palocci detalha como e por quanto. O partido responsável por essa tragédia ética, política e institucional agora está fazendo de tudo para voltar ao poder, sem nenhuma autocrítica", escreveu Marina no Twitter.

Ciro Gomes (PDT) não comentou a delação de Palocci. Nem Haddad.

Caixa 2

O ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil afirmou no primeiro anexo de sua delação premiada que as duas últimas campanhas presidenciais do PT para eleger Dilma Rousseff, em 2010 e 2014, custaram, somadas, R$ 1,4 bilhão, mais do que o dobro dos valores declarados à Justiça Eleitoral. Segundo Palocci, as campanhas foram largamente abastecidas com Caixa 2. Segundo o depoimento, os empresários contribuíam esperando benefícios em troca e, mesmo nas doações oficiais, a origem da maior parte do dinheiro eram acertos de propina.

O anexo se tornou público ontem, após decisão de Moro, que determinou a juntada do depoimento de Palocci em uma das ações penais em andamento contra o ex-presidente Lula, na qual ele é acusado de receber propina da Odebrecht. Palocci atuou nas campanhas petistas como interlocutor do setor empresarial para a arrecadação financeira.

O ex-ministro está preso preventivamente desde setembro de 2016. Ele já foi condenado em 1ª instância a 12 anos e dois meses de prisão.

Segundo Palocci, a "ilicitude das campanhas" começava nos "preços elevadíssimos que custam". "Ninguém dá dinheiro para as campanhas esperando relações triviais com o governo". Palocci afirmou ainda que havia um largo esquema de venda de medidas provisórias no Congresso durante os governos petistas.

Defesa

Os petistas negaram as denúncias da delação de Palocci e atacaram Moro por tirar o sigilo do caso a menos de uma semana da eleição, acusando o magistrado de tentar interferir no processo eleitoral prejudicando o partido.

"A delação mentirosa de Palocci foi negociada com a PF em troca de redução de 2/3 de sua pena, prevendo até perdão judicial, de devolução de R$ 37 milhões e da preservação de todos os imóveis", tuitou a liderança do PT no Senado. Já o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) informou que vai acionar o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) contra Moro, que estaria "atacando a democracia e o processo eleitoral".

Sobre a retirada do sigilo da delação, Moro justificou que a medida permite a "ampla defesa dos acusados" e rechaçou o risco de exploração política do processo. Já Lula negou as acusações e questionou a delação de Palocci, afirmando que seu ex-ministro foi pressionado a denunciá-lo.

Gilberto Carvalho, da coordenação da campanha de Haddad, minimizou o impacto eleitoral da delação. "Esse modus operandi contra nós já está tão desgastado, que é só mais um. Serão um ou dois dias no noticiário e a vida segue, até porque é a palavra do Palocci no desespero para viver em liberdade com os milhões que ele acumulou. A gente lamenta esse gesto de traição".

Quem é Palocci

Antonio Palocci, de 57 anos, foi ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil. Foi uma figura-chave dos governos Lula (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016). Palocci está preso desde setembro de 2016 por envolvimento no esquema de corrupção revelado pela Lava-Jato.

Em sua delação, Palocci afirma que em 2010 Lula ordenou ao então presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli, que encomendasse a construção de 40 sondas de exploração de petróleo em águas profundas "para garantir o futuro político do País" e do PT com a "eleição de Dilma Rousseff". Sergio Gabrielli é o atual coordenador da campanha de Haddad. Palocci, que em 1980 fez parte do núcleo fundador do PT, foi ministro da Fazenda de Lula entre 2003 e 2006 e chefe de gabinete de Dilma em 2011.